“Sobre quando esta guerra pode terminar, penso que depende de algumas coisas, de coisas concretas”, disse Zelensky, citado por agências ucranianas, durante a sua participação virtual num “pequeno-almoço ucraniano” no Fórum Económico Mundial em Davos.
Depende “antes de mais”, disse, da “vontade de diferentes partes; da vontade de um Ocidente unido em termos de armamento e solidez financeira da Ucrânia e da vontade de um Ocidente unido de não ter medo de lutar contra a Rússia, de lutar esta guerra híbrida de formas diferentes, não com o seu próprio povo, acima de tudo”.
“E também depende da vontade da Rússia, porque esta guerra vai acabar de qualquer maneira”, sublinhou.
Acrescentou que existe a parte “militar” da guerra, com muitas mortes entre civis inocentes e soldados, e depois, mostrou-se convicto de que “em qualquer caso, haverá um processo de paz e haverá uma mesa de negociações, e haverá definitivamente paz”.
A questão é com quem, com que Presidente russo a Ucrânia irá negociar, algo que também depende do atual chefe do Kremlin, Vladimir Putin, acrescentou.
Quanto à possibilidade de negociar com Putin, Zelensky disse que o Presidente russo “não se apercebe totalmente do que se passa” e “vive no seu mundo da informação e não compreende que a Ucrânia não tem intenção de ir a lado nenhum e não fará concessões”.
O líder ucraniano disse estar convencido de que só faz sentido negociar com Putin e não com intermediários, porque “eles não são ‘ninguém'”, acrescentando que quando o presidente russo regressar ao mundo real compreenderá que muitas pessoas e muitos inocentes estão a morrer.
“Se ele for capaz de compreender alguma coisa, então com certeza compreenderá que temos de falar e acabar com esta guerra, iniciada por eles, pela Rússia e por mais ninguém. E então, talvez seja possível tentar, se não for demasiado tarde, seguir o caminho diplomático”, disse ele.
Reiterou que é possível passar da fase da “guerra sangrenta” para o “formato das negociações diplomáticas” com a participação dos presidentes da Rússia e da Ucrânia e dos parceiros estratégicos.
Para tal, a Rússia deveria pelo menos dar “o passo certo” de retirar tropas para as linhas de demarcação pré-24 de fevereiro, dia do início da invasão russa, disse — algo que já foi recusado pelo Kremlin.
No entanto, disse que não via qualquer interesse do lado russo.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas — mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,6 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 3.974 civis morreram e 4.654 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 91.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.
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