Em declarações à agência Lusa, Rui Berkemeier, da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, defendeu que o SIRCA - Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais nas explorações deve ser melhorado para assegurar a reciclagem natural das aves necrófagas.

Rui Berkemeier explicou à Lusa que atualmente são os donos das explorações que enterram o animal quando ele morre.

“Neste momento existem zonas mais isoladas onde foi permitido aos donos das explorações quando morre um animal enterrá-lo e isto é uma situação que não faz muito sentido, porque temos algumas dúvidas que o Ministério da Agricultura tenha capacidade de controlo em relação ao enterramento. Se este for mal feito pode gerar situações como a poluição da água”, disse.

De acordo com Rui Berkemeier, o Ministério da Agricultura não tem capacidade nem meios humanos para acompanhar as operações de enterramento de animais mortos.

No entender do ambientalista, estes cadáveres de animais deveriam ser encaminhados para aproveitamento, através do processamento e reciclagem das carcaças para produção de gordura e proteína, que ficariam perdidos se estes forem enterrados.

“Mas, mais importantes, em vez de serem enterradas as carcaças deveriam ser encaminhadas para os alimentadores de abutres, que existem muito em zonas remotas, de montanha. Poderiam fazer outro tipo de reciclagem para promover a biodiversidade. Estas espécies como o abutre ou águia-real têm tido problemas com falta de alimento”, disse.

Nesse sentido, a Zero sugere a existência de uma simbiose entre o SIRCA (sistema de recolha de animais) que já existe e o sistema natural de tratamento desses resíduos.

“O SIRCA poderia ter uma componente importante de recolha de animais, de encaminhamento para alimentar essas espécies. Por isso, a Zero vai preparar uma proposta para o Ministério da Agricultura e estamos a avaliar situações no terreno para perceber em que sítios será mais fácil avançar com essa solução que, num primeiro momento, poderá avançar como projeto-piloto para ver se funciona e depois avançar para uma solução mais global”, disse.

Na opinião de Rui Berkemeier, a reformulação do SIRCA vai permitir alimentar as aves necrófagas, reduzir as emissões de CO2 e poupar dinheiro ao erário público.

Por isso, a Zero recomenda ao Governo que “sejam regularizadas as dívidas do SIRCA já no Orçamento do Estado de 2018, de forma a que se inicie uma negociação séria com o consórcio que operacionaliza o sistema para que passe a figurar no contrato existente a reciclagem natural e a conservação das aves necrófagas”.

De acordo com a Zero, são recolhidos por ano em explorações situadas em áreas remotas 1.220 toneladas de animais mortos.