António Simões, proprietário de um restaurante a menos de um quilómetro do centro de Harare e há 24 anos no país, salientou que a única diferença para um dia perfeitamente normal é a presença de militares nas ruas e avenidas mais movimentadas junto ao palácio do Governo, parlamento e ministérios.
“Apenas é proibida a circulação automóvel junto a estes locais, mas as pessoas podem atravessar a zona a pé, sem problemas”, salientou António Simões, que se preparava para ir buscar os dois filhos à escola, contactado por telefone em Harare a partir de Lisboa.
Segundo o proprietário do restaurante, que mantém o estabelecimento aberto e que está a servir almoços normalmente, não existem confrontos nem escaramuças.
Pelo menos é isso que está a ser indicado na televisão e rádio oficiais, já nas mãos dos militares, que têm apelado à população para manter a calma e continuar com a vida normalmente, evitando apenas as zonas controladas pelos militares.
Se em Harare a situação é pautada pela normalidade, quebrada apenas pela presença de militares nalgumas ruas da capital, em Bullawayo, segunda maior cidade do país, apenas se sabe da crise político-militar pela televisão e rádio oficiais.
Contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa, o empresário português Rodrigo Tavares, já reformado, explicou, a partir de Bullawayo, onde residem 33 portugueses, que nem polícias nem militares patrulham as ruas.
Segundo o antigo Tesoureiro da Comunidade Portuguesa aí residente, natural de Vendas Novas (Portugal), 74 anos e há 41 no país, não há qualquer sinal visível de preocupação entre a população.
Em Harare, António Simões adiantou à agência Lusa que os únicos sons de confrontação que ouviu foram os de duas explosões – “há quem fale de três” – ocorridas “cerca da 01:00” (23:00 de terça-feira em Lisboa), mas diz que, desde então, nada mais aconteceu.
O empresário português, de 50 anos e natural da África do Sul, adiantou, por outro lado, ter conhecimento de que houve pequenas escaramuças quando os militares tentaram deter alguns ministros do Governo de Robert Mugabe nas respetivas casas.
Os confrontos opuseram militares à segurança pessoal de vários ministros, nalguns casos fortemente armada, desconhecendo-se, porém, a existência de mortos ou feridos.
“Mas a situação é tranquila e pacífica”, insistiu António Simões, destacando que o “nível superior de instrução, educação e civismo da população” o leva a pensar que a crise político-militar estará resolvida nas próximas 24 a 48 horas sem derramamento de sangue.
“Ao contrário de outros países africanos, em que a presença de militares nas ruas é um mau presságio, não há no Zimbabué uma tradição de violência, pois é um povo educado e com um nível de instrução superior e não há qualquer tipo de hostilidade, até porque não existe também uma oposição militarizada que possa agravar a situação”, explicou.
António Simões, que aos três anos veio com a família para Portugal, seguindo há 24 anos para Harare para ajudar, durante duas semanas, a reerguer o restaurante após a morte do tio – “fui por duas semanas e já cá estou há quase duas dezenas e meia de anos” -, sublinhou, pelas razões apontadas, não acreditar num conflito no país.
“A cultura dos zimbabueanos dá-nos paz de espírito e a situação não é comparável à de outros países africanos”, garantiu, admitindo, porém, que não subestima a crise em curso no país, pois há “muita informação errada a circular nas redes sociais” que pode desencadear algo mais confuso.
O exército do Zimbabué anunciou hoje que tem sob custódia o Presidente e a mulher, controla os edifícios oficiais e patrulha as ruas da capital, após uma noite de agitação que incluiu a tomada da televisão estatal.
A ação dos militares gerou especulação quanto a um golpe de estado, mas os apoiantes dos militares disseram tratar-se de uma “correção sem derramamento de sangue”.
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