A praia de Ribeira d’Ilhas serviu de plateau a um autêntico conto de fadas e à apresentação de um nome que, muito provavelmente, vai ficar na história do surf feminino mundial.
Fixem: Tya Zebrowski, jovem francesa de 13 anos, foi a protagonista desta narrativa escrita em tons de azul no EDP Ericeira Pro, 5.ª e penúltima etapa do Challenger Series.
O nome, agora apresentado de vez ao mundo, tem tudo para fazer correr muita tinta nos próximos anos nos quatros cantos deste planeta coberto de água. Faz parte da Next Generation sobre quem se vai falar e muito.
“Olá, sou a Tya Zebrowski, tenho 13 anos, sou do Taiti e o meu sonho é qualificar-me para o Challenger Series (CS) do próximo ano”, apresentou-se ao SAPO24 a surfista que ainda compete no patamar abaixo, no Qualifying Series, circuito regional europeu da WSL que dá acesso ao CS.
Filha de pai taitiano e mãe francesa, nascida em Baiona, França, reparte a vida entre o Taiti, Polinésia Francesa e Hossegor, uma das mecas gaulesas e mundiais do surf.
Líder incontestada do ranking QS, 3.ª divisão do surf mundial, circuito onde já venceu três etapas e na qual uma portuguesa, Mafalda Lopes, a impediu de fazer o pleno (foi afastada nos quartos de final no Lacanau Pro, na Galiza) recebeu um wildcard (convite) para a etapa portuguesa do Challenger Series.
Entrou em Ribeira d’Ilhas, ondas que costuma surfar em períodos fora de competição, num campeonato que não é o dela. Chegou à final ao vencer todas as baterias. Todas, menos uma. Foi parada no último heat por Sally Fitzgibbons, 33 anos.
A surfista australiana de Nova Gales do Sul, olímpica, quatro títulos mundiais ISA (Associação Internacional de Surf) e três vezes vice-campeã da Liga Mundial de Surf (World Surf League), venceu a penúltima etapa do CS, na Ericeira, e carimbou a requalificação para o Championship Tour (CT), um mundo que bem conhece e de onde tinha sido despromovida no cut do meio da temporada.
A franzina francesa de 145 cm de altura e 38 kg de peso não tremeu perante o tamanho peso do curriculum da adversária que se qualificou para o Circuito Mundial aos 17 anos, ainda Tya Zebrowski não tinha nascido.
“Não tenho medo de enfrentar a Sally”, disse antes de entrar na final da etapa portuguesa do circuito de qualificação para o Championship Tour, prova de elite da Liga Mundial de Surf.
À saída, exclamou. “Diverti-me imenso e estive muito focada em mim durante a bateria”, acrescentou, sem olhar ao grande nome a seu lado.
“Espero qualificar-me para os Challenger Series”
“Foi a minha primeira vez no CS, estou contente de ter estado aqui, diverti-me nos heats e tentei mostrar o meu surf”, continuou, com a humildade e confiança a escorrer pelo fato de surf.
Habituada a competir acima da idade, campeã sub-16 no Eurosurf 2024, disputado em Santa Cruz, Torres Vedras, em julho, onde competiu igualmente no escalão acima e medalha de Prata (sub-18) nos ISA World Junior Surfing Championship, Tya Zebrowski aponta novas metas ao horizonte.
“Espero qualificar-me para os Challenger Series. É o meu objetivo. Depois, tentar qualificar-me para o World Tour (principal circuito da Liga Mundial de Surf)”, atirou. “Mas não devo estar ainda preparada para o ano que vem”, confessou, a sorrir, a jovem surfista de 13 anos.
“Está pronta, tem técnica e força mental”
O pai, Gary Zebrowski, nascido em Papeete, Taiti, acompanhou, juntamente com a mulher, Caroline Beliard, a passagem da filha prodígio pela Ericeira e não cabia de contentamento pelo feito da descendente.
“Está a competir no QS e estou muito entusiasmado em poder vê-la competir no próximo ano no Challenger Series”, disse o antigo snowboarder olímpico da Polinésia (participou nos Jogos Olímpicos de Inverno 2006 e 2010 e foi o primeiro polinésio a participar no Winter X-Games).
“O objetivo é o CS e vamos garantir que consiga o bilhete, mas vamos passo a passo”, travou. “Está pronta, tem técnica e força mental como se viu aqui na Ericeira”, sublinhou o ex-surfista da neve que virou professor de yoga, disciplina espiritual e meditação que passou à filha.
“Tem 13 anos, mas quando a vimos na água tem 18”, assegura. É adulta no surf e na água”, exclamou Gary Zebrowski que se veste de treinador e acompanha Tya nas competições no inverno. “Tenho uma escola de surf e trabalho no verão”, justificou.
“(A Tya) Começou muito cedo e segue sozinha na competição por si mesmo”, frisou depois da entrega de prémios, enquanto pegava ao colo a filha mais nova.
A finalizar relembrou um momento marcante da pequena e jovem surfista Tya Zebrowski. Aos oito anos atirou-se a para a monstruosa e temida onda de Teahupoo, no Taiti, paragem obrigatória do circuito mundial que virou palco olímpico (Paris 2024).
“Surfou com a minha ajuda e apanhou duas grandes “bombas”, mas estava pronta. Sabia que aguentava tecnicamente e perguntei-lhe se queria apanhar a onda. Disse-lhe que estaria atrás dela se algo acontecesse. Ela surfou e sorriu”, contou.
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