Natural de Alfama, Carlos Paulo é guarda-redes de futsal d’Os Belenenses e tem no currículo um título que poucos ostentam: o de campeão europeu. Formado no Benfica, fez parte do plantel que há mais de 10 anos, num Pavilhão Atlântico apinhado, venceu a UEFA Futsal Champions League frente aos espanhóis do Inter Movistar.
Mas se Davi foi o herói desse dia para a nação encarnada, o guarda-redes, aos 35 anos, é agora herói do Restelo nas ruas de Lisboa, nomeadamente a quem o fado da vida foi mais duro. Barbeiro de profissão, corta o cabelo a sem-abrigo a troco da sua amizade. No "mínimo dos mínimos", uma vez por mês, pega no seu material e ajuda quem mais precisa.
"Normalmente essas pessoas têm um aspecto descuidado. Então predispus-me a agarrar no meu material e perguntar às pessoas: 'sou barbeiro de profissão, posso ajudar?' Umas pessoas dizem que sim, outras dizem que não. As que dizem que sim, eu digo 'então sente-se aqui na cadeirinha que eu vou tratar de si sem nenhum custo'", conta Carlos Paulo.
"Nós já somos amigos. Eu já conheço a história deles, que é muito importante, e eles já conhecem a minha", reforça ainda o atleta, que agora faz parte da família de "Heróis" da Betano, que explica porque faz o que faz. "É o que eu sei fazer. Se fosse cozinheiro, se calhar andava por aí a distribuir tupperwares".
O guarda-redes começou a cortar o cabelo mal tirou o curso de barbeiro. Primeiro em casa, depois aos amigos mais próximos. O bichinho veio da mãe, que trabalhava num salão de cabeleireiro. Mas em termos profissionais, a aventura começou em 2014, no balneário.
"A malta depois dos treinos pedia para fazer a barba, dar um toquezinho no cabelo. Há sempre aquelas máquinas que se compram nas grandes superfícies e comecei a agarrar e a dizer 'dá cá que eu faço isso'. Comecei a crescer, a ter mais amigos a querer que eu desse esse tal toquezinho e foi até agora", explica.
Por até "agora", entenda-se até abrir um salão em nome próprio, nascido no ano passado, em plena pandemia, depois de seis anos a trabalhar numa barbearia. "Surgiu a oportunidade e eu agarrei-a com as duas mãos, com a ajuda da minha família e dos meus amigos", enfatiza.
Carlos Paulo é uma pessoa apaixonada pelo que faz. Tanto que diz que o futuro passa pelo seu negócio, a barbearia, e pelo futsal. Até porque quando pendurar as luvas, confessa que gostava de trabalhar com os mais novos. Se possível, no Belenenses, clube com o qual assume identificar-se a "1000%" e onde se sente muito acarinhado.
Conheça melhor a história do Carlos Paulo e de outros Heróis Betano aqui.
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