“No curto prazo, as empresas não gostam de instabilidade e não contratam nem lançam investimentos, no longo prazo [se a instabilidade continuar] isto vai provocar uma saída de postos de trabalho” para outras regiões espanholas, disse à Agência Lusa Renato Lopes, responsável pela baliza de Os Lusíadas a viver e a trabalhar na Catalunha desde 2006.

A equipa foi criada em 2008 e é formada por jogadores portugueses ou lusodescendentes que treinam duas vezes por semana, segundas e quartas-feiras, e depois têm jogos numa liga privada de clubes da Catalunha.

Tomás, estudante num mestrado, só chegou há um mês a Barcelona e não se sente ainda autorizado para falar muito sobre a situação de tensão que se vive na região entre separatistas o Governo de Madrid, todavia, acha “interessante” estar a assistir a um processo que “ninguém sabe como vai evoluir“, embora considere que a eventual independência “não seria bom para a Catalunha nem para a Espanha.

O presidente do Governo regional catalão, Carle Puigdemont, deverá ainda hoje declarar a independência da região e ainda não é claro o que pode acontecer em seguida.

“Para o meu trabalho é mau porque estou numa empresa alemã que tem o cliente mais importante em Espanha”, afirma Hélder Pereira, técnico de informática há 11 anos em Barcelona, com receio que o empregador feche a porta e mude para outro sítio.

A situação de grande incerteza tem levado, nos últimos dias, várias empresas a mudarem a sua sede social da Catalunha para outras regiões de Espanha.

O luso-venezuelano Ekei Salgueiro, que está a viver na capital catalã há dois anos, também afirma estar “preocupado” com a situação depois de ter investido o dinheiro que trouxe da Venezuela numa empresa de recrutamento de trabalhadores.

“Muitas empresas vão sair [da Catalunha] e muita gente vai para o desemprego”, vaticinou o jogador para o caso de os separatistas ganharem o braço de ferro com o Governo central espanhol.

O executivo catalão sustentado por uma maioria parlamentar que apoia a independência da região organizou em 01 de outubro último um referendo ilegal, muito polémico, em que apenas 42% dos eleitores foram votar para decidir por esmagadora maioria que desejam ser independentes de Espanha.

A consulta foi boicotada pelos movimentos e partidos que não apoiam a separação, apesar de muitos deles também defenderem a realização de uma consulta popular na região, mas feita de acordo com as regras aceites por todos e não apenas de uma das partes.

“A minha vida é aqui e este assunto da independência não me afeta muito”, considerou Miguel Cardoso que há cinco anos trocou Santa Maria da Feira por Barcelona para trabalhar num projeto revolucionário de construção de carros elétricos para uma empresa japonesa.

A mesma opinião foi expressa por Pedro Leitão, há dez anos a organizar eventos de música, que associou a situação na Catalunha com um conhecido ditado: “O cão ladra, mas a caravana passa”.

Há cerca de 14.000 portugueses inscritos no consulado de Barcelona, no que é uma comunidade considerada “de nível médio, alto”, com muitos licenciados e mestrados a trabalharem nos mais variados setores de atividade.