O último dia do mercado de transferências já não é o que era. Com a liga inglesa a fechar a janela antes do campeonato começar - e tendo em conta que só na Premier League foram gastos 1.549.865.000 de euros neste defeso, o que dá uma média de 77.493.250 de euros gastos por clube - os holofotes recaem sobre as restantes ligas que compõe o topo do ranking da UEFA - Alemanha, Itália, França e Espanha e, claro, Portugal.

Para este dia dois de setembro não há expectativa, não há nenhum negócio que pareça pendurado por um fio na iminência de acontecer. As grandes transferências fizeram-se cedo, com as mudanças de João Félix para o Atlético de Madrid, Eden Hazard para o Real Madrid ou Antoine Griezmann para o FC Barcelona a acontecerem antes dos campeonatos terem início.

Mas o futebol é proeminente em surpresas. Diz-se que, no campo, a bola é redonda e são 11 de cada lado e que, portanto, tudo pode acontecer. No mercado de transferências, numa altura em que os agentes de jogadores de futebol vão ganhando um peso cada vez maior dentro dos clubes e onde os os clubes estão dispostos a pagar largos milhões pela contratação de um jogador, nada pode ser dado por garantido.

Foi com esta última ideia em mente que elegemos cinco novelas que foram narrativas predominantes do mercado de transferências deste verão. O desfecho pode acontecer nas próximas horas, ou não. Mas se for, foi assim que cada uma destas transferências se arrastou até aqui.

Neymar

créditos: EPA/SRDJAN SUKI

Neymar da Silva Santos Júnior chegou à Europa em 2013, vindo do Santos, clube que o formou e mostrou ao mundo. Após quatro temporadas ao mais alto nível na Catalunha, que o elevaram à categoria de um dos melhores jogadores da atualidade, o brasileiro quis sair da sombra de Lionel Messi. Rumou ao Paris Saint-Germain e tornou-se no rosto do objetivo assumido de Nasser Al-Khelaïfi em ganhar a Liga dos Campeões com o clube da capital francesa.

Mas as coisas não correram como planeado. O futebol de Neymar foi, em parte, eclipsado pela ascensão do jovem Kylian Mbappé, mas também interrompido por duas lesões que tiraram o brasileiro dos relvados no final das duas épocas em que levou o emblema dos parisienses ao peito.

A estrela da seleção canarinha não foi feliz em França e assumiu a vontade de sair. E depois do próprio clube, perante a posição intransigente do jogador, ter aceitado negociar a transferência, sabia-se que não ia ser um negócio fácil. Neymar custou ao clube francês 222 milhões de euros, foi a maior transferência de sempre do futebol mundial e essa é uma equação difícil de inverter.

FC Barcelona e Real Madrid posicionaram-se para receber o brasileiro, mas nenhum dos clubes conseguiu levar a Paris uma proposta suficientemente boa para convencer o atual campeão francês a vender uma das suas maiores estrelas.

Esta segunda-feira haverá fumo branco sobre o futuro de Neymar, seja o regresso a Barcelona, seja uma transferência que lhe possa valer a alcunha de pesetero, caso assine pelos blancos, ou a permanência em Paris, que à medida que o tempo passa parece ser o cenário mais provável, o que parece transformar esta narrativa numa história desconfortável que vai pairar no balneário do Parque dos Príncipes até janeiro, no mínimo dos mínimos.

Bruno Fernandes

créditos: MARIO CRUZ/LUSA

No que toca ao mercado de transferências nacional, Bruno Fernandes é o "Neymar português". Não propriamente pela vontade do médio em sair, mas pelo espaço mediático que os rumores sobre uma suposta transferência ocuparam.

Em dois meses, Bruno Fernandes foi jogador do Manchester City, um negócio fechado, fechadíssimo e que selava a boa relação entre os citizens e os leões, que este verão assinaram um acordo de parceria; do Tottenham Hotspur que veio a Lisboa fazer uma derradeira proposta para vestir o português com as cores do clube londrino (algo que o jogador assumiu, de resto, numa recente entrevista à revista GQ); do Manchester United, num rumor que pareceu ser de milhões insuficientes para se concretizar, segundo a imprensa desportiva.

Na sexta-feira, o dirigente da Fiorentina, após o sorteio da fase grupos da Liga Europa, disse que o Sporting CP e o Real Madrid tinha tudo acertado para a transferência do médio. O negócio acontecerá só no próximo ano e dar-se-á por 70 milhões de euros (algo que foi desmentido pelo clube espanhol e considerado "inoportuno e leviano" pelos leões).

O que é certo é que entramos neste último dia de mercado sem nenhuma indicação de que Bruno Fernandes possa sair. Sendo público a necessidade do Sporting fazer um significativo encaixe financeiro, a possibilidade de contar com o internacional português mais um ano, que é a alma e vida da equipa leonina, parece ter levado a avante.

Christian Eriksen

créditos: WALLACE WOON/EPA

Chegou em 2013 a Inglaterra com o selo de qualidade - e os títulos - da academia do Ajax. No Tottenham fez-se ídolo e tornou-se num dos jogadores mais influentes da equipa, tendo sido peça fundamental no trajeto dos spurs até à final da Liga dos Campeões.

Christian Eriksen parecia ter tudo para ser um ídolo a longo prazo em Londres, mas este verão o rumo da carreira do dinamarquês parece ter alterado a rota para o sul da Europa. De acordo com a imprensa desportiva, o médio terá rejeitado renovar contrato com os Spurs, uma proposta que o colocaria como o mais bem pago do plantel a par de Harry Kane, na expectativa de receber um convite para rumar a Espanha, onde o Real Madrid aparece como maior pretendente.

O contrato de Eriksen termina no final desta temporada, pelo que se não houver nenhuma proposta de última hora neste último dia do mercado de transferências, o atleta de 27 anos pode transferir-se a custo zero no próximo verão.

André Silva

créditos: JOSE MANUEL VIDAL/EPA

O avançado português não tem tido uma vida fácil depois da saída do FC Porto para o AC Milan, em 2017. Depois de uma primeira temporada em Itália aquém do expectável, com 10 golos marcados em 40 jogos, André Silva rumou por empréstimo para Espanha, onde vestiu as cores do Sevilha.

Na Andaluzia, o internacional pela seleção portuguesa teve um início fulminante. Chegou a ser o melhor marcador da La Liga, mas com o decorrer da temporada os golos (terminou com 11 marcados, em 40 jogos) foram escasseando e a vontade do Sevilha em investir na compra definitiva do passe de André Silva também.

Agora, o ex-FC Porto tem sido apontado a vários clubes. O nome do avançado já foi pintado com as cores do Sporting CP, do Wolves, do Mónaco e, mais recentemente, do Eintracht Frankfurt, mas a oficialização de uma eventual transferência ainda não aconteceu.

O dia de hoje decidirá se André Silva terá uma nova vida, num novo clube, ou se ficará resignado a lutar por uma nova oportunidade em Itália.

Paul Pogba

créditos: Oli SCARFF / AFP

Se Bruno Fernandes é o Neymar português do mercado de transferências, Paul Pogba é o "Neymar da Premier League". Neste caso, em todos os sentidos, uma vez que segundo a imprensa desportiva internacional o francês pretende sair do Manchester United.

Depois de uma primeira temporada coroada com três títulos - Supertaça inglesa, Taça da Liga e Liga Europa -, as duas temporadas seguintes foram de uma queda de rendimento bastante significativa (quer individual, quer coletiva).

Insatisfeito em Inglaterra, escreveu-se que o futuro do campeão do mundo passaria por um regresso a Itália, onde voltaria a vestir as cores da Juventus e a partilhar balneário com Cristiano Ronaldo. O rumor viveu até ao regresso de Zinedine Zidane ao Real Madrid.

De acordo com a imprensa desportiva, a contratação de Pogba foi um pedido expresso do homem que ao comando dos merengues conquistou três Ligas dos Campeões consecutivas. O desejo de Zidane parece esbarrar com o facto de o mercado em Inglaterra já ter encerrado no mês de agosto, o que coloca os red devils numa posição intransigente em relação à venda do médio, uma vez que não teriam possibilidade de, até janeiro, encontrarem um substituto à altura.

No entanto, quem sabe se uma proposta milionário vinda de Madrid não fará o clube de Manchester repensar o seu meio-campo.