As seleções dos dois países, que não mantêm relações diplomáticas, já se enfrentaram duas vezes na história do futebol — esta será a terceira.

Se um amigável que terminou em 1-1 em 2000 foi rapidamente esquecido, o outro confronto permanece na memória: o "jogo da fraternidade", no Mundial98, em França, vencido pelo Irão por 2-1, num clima de efervescência em Lyon.

Disputado num contexto de degelo entre o Ocidente e a República Islâmica, houve, no jogo, gestos de irmandade entre as duas equipas, que se misturaram para posarem juntas para a foto oficial da partida, trocando flores e bandeiras.

O contexto atual é bastante mais tenso, com a repressão de protestos no Irão, e no âmbito de um Mundial onde, apesar dos esforços da FIFA para evitá-lo, os gestos políticos chegaram aos relvados.

Nesta terça-feira, o cidadão italiano que invadiu o campo na noite anterior durante o Portugal x Uruguai com uma bandeira arco-íris e uma t-shirt em apoio da Ucrânia e das mulheres iranianas foi libertado "sem consequências".

"Depois de uma breve detenção" num algum local não especificado, o homem identificado como Mario Ferri, nascido em 1987, "já foi libertado pelas autoridades sem consequências", informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália. No entanto, o ativista foi interditado de entrar nos estádios no resto do Mundial.

O protesto de Ferri concentrou ainda mais a atenção no Irão x EUA, a partida com maior carga política na fase de grupos do Mundial2022.

Os jogadores iranianos competem no Qatar sob o escrutínio de todo o planeta. Antes de cada uma das duas primeiras partidas, tiveram de lidar com perguntas, às vezes repetitivas, da imprensa ocidental, quanto à abstenção de cantar o hino —  que aconteceu contra a Inglaterra, mas não contra o País de Gales — ou se farão gestos simbólicos para denunciar a repressão.

Vários jogadores, especialmente o craque Sardar Azmoun, um dos heróis da vitória sobre os galeses na partida anterior (2-0), denunciaram a repressão nas redes sociais. Mas muitos simpatizantes dos manifestantes reprovam as atitudes da seleção, como quando foi recebida pelo presidente ultraconservador Ebrahim Raissi antes de sua viagem para Doha.

Ao observar que os seus jogadores estavam a ser travados pela pressão – já que o que quer que fizessem, receberiam críticas –, o técnico da seleção, Carlos Queiroz, tem procurado concentrar a partida apenas na vertente desportiva. E isso já é considerável: um empate pode ser o suficiente para o Irão garantir a sua primeira classificação para os oitavos de final de um Mundial, na sua sexta participação.

A seleção norte-americana, que precisa de uma vitória para avançar, também está focada no jogo. Mas a sua federação contribuiu, este fim de semana, para acentuar a dimensão política do duelo.

Na sua conta no Twitter, a seleção norte-americana fez uma modificação na bandeira iraniana num gesto justificado como "solidariedade com as mulheres no Irão". A bandeira oficial foi recuperada pouco depois.

"Não é algo com que tivemos a ver", disse o técnico Gregg Berhalter, ao desculpar-se em nome da equipa.

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, também afirmou nesta terça-feira que se trata apenas de um encontro desportivo. "Vamos deixar os atletas fazerem o que têm de fazer", disse, à margem de uma reunião da NATO, em Bucareste.

"Não acho que haja qualquer aspecto geopolítico em particular (...) Temos o que deve ser um jogo competitivo e vamos deixar o jogo falar por si só", afirmou.

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