“Entendemos a frustração do surfista italiano por, no contexto que se atravessa e de acordo com as exigências estabelecidas, não ter sido possível a sua participação. No entanto estamos certos que seguimos à risca todas as orientações estabelecidas a bem da verdade desportiva”, disse à Lusa o Chefe da Missão de Portugal a Tóquio2020, Marco Alves.
Infetado com o novo coronavírus, o surfista Frederico Morais viu-se, à última hora, impossibilitado de participar nos Jogos Olímpicos, contudo os dois primeiros suplentes, o italiano Angelo Bonomelli e o costa-riquenho Carlos Munoz, não tiveram tempo de assumir o seu papel, entendendo que os portugueses não estiveram bem no processo.
“Só acho que não é justo eu desperdiçar a oportunidade de uma vida. Houve alguma negligência”, acusou Bonomelli, em declarações à agência noticiosa AP.
A viver na Costa Rica, o surfista não encontrou neste país um laboratório que cumprisse as regras sanitárias impostas pelo Comité Olímpico de Itália, não tendo tempo útil para o fazer caso viajasse via Roma, falando, por isso, de “egoísmo” da missão portuguesa, por alegadamente não ter sido transparente sobre o teste positivo ao vírus que provoca a covid-19.
Igualmente citado pela AP, Frederico Morais negou qualquer responsabilidade na questão, revelando que pensava que ia estar curado depois de ter completado 10 dias de isolamento, não ter sintomas e estar totalmente vacinado há mais de um mês.
“Trabalhei dois anos para ganhar o meu lugar. Do meu lado a transparência foi total, tentei tudo até ao último minuto, a correr contra o tempo. Quando percebi que não tinha mais hipóteses de ir, desisti. Mais do que transparência, foi o arruinar do meu sonho, já que conquistei a minha vaga de forma justa”, vincou o português.
A comunicação tardia da ausência no Japão frustrou igualmente Munoz, segundo na linha de sucessão de ‘Kikas’ na estreia do surf nos Jogos Olímpicos Tóquio2020 e que, após a impossibilidade do transalpino, ainda encetou o voo para o Tóquio, sem, no entanto, chegar atempadamente.
Ainda apelou ao adiamento do arranque da competição, mas a Associação Internacional de Surf (ISA) não acedeu, tendo dado início à prova, na segunda-feira, integrando-o na primeira ronda, que não eliminava, e também na repescagem, sem que este estivesse sequer no Japão.
“O Frederico Morais testou positivo à covid-19 num período em que não impossibilitava a sua participação nos Jogos Olímpicos, quer pelas regras definidas nos ‘playbooks’, quer pelas autoridades nacionais, na perspetiva de autorizar a sua viagem para Tóquio”, acrescentou Marco Alves.
O dirigente garantiu que, mal a impossibilidade ficou confirmada, “todos os intervenientes no processo foram devidamente notificados para que a realocação fosse iniciada”.
O surfista luso anunciou a sua infeção na sexta-feira, através das redes sociais, e foi oficialmente retirado da prova na manhã de sábado, menos de 24 horas antes do início do primeiro dia de competição e horas antes do prazo final para confirmação de uma alternativa.
A prova masculina de surf em Tóquio2020 terminou hoje, com a consagração do brasileiro Ítalo Ferreira como o primeiro campeão olímpico de surf, ao bater na final o japonês Kanoa Igarashi.
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