O futebol feminino "sofre com a falta de reconhecimento e de exposição que merece em geral, e agora, pela força dos acontecimentos, está neste momento a desaparecer", diz Olivier Blanc, chefe da secção feminina do Lyon, atual tetracampeão europeu.
"As pessoas falam sobre os homens, por quê? Porque é a data de retorno que interessa a todos. E também sabemos que eles são um fardo bastante pesado para os clubes", diz Noël Le Graët, presidente da Federação Francesa de Futebol.
Mas uma crise global de saúde não é necessária para perceber a distância abissal que separa os dois mundos, tanto nos media quanto na economia. A pandemia atual mostra bem a diferença, mesmo depois do Mundial feminino de 2019, em França, que foi um divisor de águas.
E foi assim que a UEFA não hesitou em mudar as datas da Euro feminino de 2021 para dar espaço à edição masculina, que iria ser disputada em 2020, independentemente da opinião das jogadoras. "Estou velha demais para um adiamento para 2022", brincou no Twitter Jessica Fishlock, de 33 anos, da seleção de Gales.
"Não foram deixadas de lado"
Por parte dos clubes, a interrupção das competições femininas ocorre, no caso da França, com um dos campeonatos de mais alto nível, num momento crucial para os dois grandes clubes: Lyon e PSG. Os dois primeiros iriam enfrentar-se num confronto decisivo, que valeria o título, antes de disputarem as quartas de final na Liga dos Campeões Feminina.
O retorno da competição é, portanto, aguardado com impaciência pelas duas locomotivas do futebol feminino francês, enquanto outros clubes com menor potencial económico fazem paralisações parciais, com uma redução de 70% nos salários, o que obviamente não pode ser comparado com as remunerações dos profissionais do sexo masculino.
"Quando se divide o salário de Mbappé por dois, ele continua a conduzir um Ferrari. Quando se faz isso com um jogador da N2 (quarta divisão masculina) ou com uma jogadora, isso causa um prejuízo muito maior", diz o presidente do modesto Fleury, Pascal Bovis.
"As mulheres são tratadas como homens, especialmente do ponto de vista económico. Se houver adiantamentos a serem feitos, nós iremos fazê-los. Os clubes serão pagos", garante Le Graët. "Eu reconheço que haverá dificuldades nos próximos meses". Mas, acrescenta "não deixamos as meninas de lado".
'Patrocinadores fiéis' mas afetados
A economia do futebol feminina será em todo caso duramente afetada. O medo de uma período com menos orçamentos é real, embora os atores envolvidos evitem dramatizar.
Os clubes com uma secção profissional para homens e mulheres "cortarão automaticamente o orçamento do futebol feminino", antecipa o presidente do Fleury.
Mas, provavelmente, esse não será o caso do Lyon. Os patrocinadores históricos do clube com maior sucesso na Europa não sairão do navio. "Temos patrocinadores leais com contratos de longo prazo", diz Blanc.
Mas outros patrocinadores, mesmo que continuem a contribuir com dinheiro, fá-lo-ão em menores quantidades. Embora o orçamento para a temporada atual deva ser mantido, a equação será mais complicada para a próxima temporada. "No melhor cenário, uma queda de 30% (em relação a esta temporada); no pior, 50%", calcula Bovis.
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