O avançado internacional Borja Iglésias avisou desde logo que não irá representar a seleção enquanto as coisas não mudarem, de modo a que estes tipos de atos [em alusão ao beijo do dirigente a uma jogadora] não fiquem impunes.

“Como futebolista, como pessoa, não me sinto representado com o que se passou hoje na Cidade do Futebol de Las Rozas. Parece-me lamentável que continuem a pressionar e a colocar o foco numa companheira”, escreveu o jogador do Bétis.

Um sentimento que foi partilhado pelo seu colega de equipa e ex-jogador do Sporting Hector Bellerín, com o lateral a considerar vergonhoso o comportamento do presidente da RFEF.

“Representar nosso país com esse nível de vulgaridade, deturpar as declarações da vítima e, ainda por cima, ter a audácia de culpá-la”, comentou o defesa, lembrando que o narcisista nunca acredita que cometeu um erro, sendo capaz de mentir e manipular.

As reações surgiram no seguimento da assembleia extraordinária da RFEF, na qual Rubiales negou ter beijado sem consentimento Jenni Hermoso, ao contrário do que a jogadora veio mais tarde dizer, e que não se demitiria da Federação.

“Foi espontâneo, mútuo, eufórico e consentido, o que tem sido o mote de todas as críticas. Foi consentido, esta jogadora tinha falhado um penálti e eu tenho uma grande relação com todas as jogadoras, fomos uma família durante mais de um mês e tivemos momentos carinhosos durante toda a concentração”, justificou o dirigente na intervenção durante a Assembleia, acrescentando que existe uma tentativa de “assassinato de caráter” contra si.

Na quinta-feira tudo indicava, segundo fontes federativas, a saída do dirigente, mas Rubiales surpreendeu e comunicou que não se demite, numa AG em que foi largamente aplaudido pelos presentes, entre os quais os selecionadores feminino e masculino.

A situação tem merecido igualmente críticas de muitas jogadoras, entre as quais Alexia Putellas, com a também campeã mundial e melhor futebolista do mundo a referir que “é inaceitável”, que se “acabou” e que está solidária com Hermoso.

Entre as internacionais portuguesas, Tatiana Pinto, que jogou nas duas últimas épocas a em Espanha, não poupou na crítica.

“Não é falso feminismo. É um discurso vergonhoso de Rubiales! Pior? Os aplausos de toda uma sala”, considerou.

Já a também lusa Jéssica Silva optou por escrever em castelhano que “é de loucos” e “inaceitável” o que se está a passar.

São muitas as reações não só em relação à não demissão do dirigente, mas, sobretudo, no que diz respeito às declarações que proferiu e atitudes que manteve na Assembleia geral de hoje, em que chegou a anunciar uma renovação e salário para Jorge Vilda, o selecionador feminino.

Algumas horas depois, e já após ter anunciado ter apresentado queixa contra Rubiales no Tribunal administrativo, o secretário de Estado e presidente do Conselho Superior do Desporto, Victor Francos, disse que para o governo é claro o divórcio com a atual presidência da Federação.

“O caminho deste governo para com a presidência da Real Federação espanhola acaba hoje. Portanto, o governo inicia os trâmites para que o senhor Rubiales dê explicações ante o tribunal administrativo do desporto (…). E o Conselho Superior de Desporto está em condições de o fazer, de suspender o senhor Rubiales da presidência da Real Federação espanhola”, comunicou o governante.

Também hoje, o Sindicato de Futebolistas espanhóis expressou que o dirigente “não deve estar nem mais um minuto à frente da RFEF”, confiando na ação do governo para uma destituição imediata.

“Depois desta Assembleia, a imagem do desporto espanhol, tanto a nível nacional, como internacional, volta a ser seriamente afetada por Luís Rubiales, que, com as suas ações, põe cada vez mais em perigo a candidatura de Espanha a organizar o Mundial2030”, diz o Sindicato de Jogadores.

A Espanha concorre com Portugal à organização do Mundial, mas ainda na quinta-feira fonte da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) considerou que a polémica, ainda antes da Assembleia de hoje, não afetava o projeto conjunto.

Questionada pela Lusa, fonte oficial da FPF desvalorizou o impacto da polémica na candidatura conjunta que envolve Portugal, Espanha, Ucrânia e Marrocos: “A candidatura ao Mundial2030 é um projeto que está acima de quaisquer pessoas ou cargos”.