A 10 de junho celebra-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. No dia que assinala a data da morte de Luís de Camões, as cerimónias decorrem oficialmente em Portalegre, cidade do interior do Alto Alentejo (tinha sido palco das comemorações há 41 anos), na qual o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, procederá às tradicionais condecorações, viajando de seguida para Cabo Verde, repetindo o gesto. Para o ano será a Madeira o epicentro da portugalidade e da língua portuguesa.

Horas antes, no estádio do Dragão, na cidade do Porto, a linguagem do futebol uniu o mundo português com a vitória de Portugal da 1ª edição da Liga das Nações. Na final, frente à Holanda, bastou um golo de Gonçalo Guedes para as festividades começarem.

A nova prova da UEFA, que se estreou em Portugal, repôs, de certa forma, a alegria na alma lusitana, depois de na anterior final organizada e disputada em solo português, Euro 2004, a cabeça de um grego ter dado razão à origem da palavra Fado.

Um dia depois de ter sido eleito o Melhor Destino Turístico Europeu pelo terceiro ano consecutivo pelos World Travel Awards e da Madeira (do capitão Cristiano Ronaldo) ter sido eleita, pela sexta vez, como o melhor destino insular da Europa, a vitória na Liga das Nações coloca Portugal nas primeiras páginas de todos os países, pelo menos nas 55 nações unidas à volta do futebol, conforme é o mote desta competição com o selo da estrutura máxima do futebol europeu e que, doravante, de dois em dois anos, se intercalará com Europeus e Mundiais.

Depois do hat-trick de Ronaldo ter carimbado a viagem para a final, Ricardo Carvalho, antigo internacional português, num regresso ao estádio do Dragão, entrou com a Taça da Liga das Nações nas duas mãos, enquanto a bola do jogo foi transportada por um carro, teleguiado, de marca alemã e que a deixou no centro do relvado.

No Dragão apareceu uma Laranja vestida de azul e uma nação de manto encarnado

Na primeira final da nova prova da UEFA, a “Laranja Mecânica” atuou de azul claro (equipamento alternativo) enquanto Portugal optou pelo vermelho espalhado no corpo, exceção feita às meias (verdes escuro).

Se a Holanda de Ronald Koeman não mexeu no onze que eliminou a Inglaterra (o Brexit on tour manteve-se a jogar em Guimarães tendo vencido, nas penalidades, a Suíça e terminou em 3º lugar), Fernando Santos operou três mexidas no onze de Portugal: uma por lesão de Pepe (entrou José Fonte) e Rúben Neves e João Félix (ambos por opção) que ficaram de fora das escolhas iniciais, subindo ao relvado Danilo Pereira e Gonçalo Guedes.

Antes de entrar em campo, o supersticioso Fernando Santos decerto tinha em mente a estatísticas nas fases finais de competição, com um saldo 100 por cento favorável à seleção das Quinas: vitória nas meias-finais de 2004 (2-1), e em 2006, 1-0, no Mundial da Alemanha e no Euro 2012, Ucrânia-Polónia, por 2-1.

Por sua vez, Ronald Koeman, se poderia ostentar o título de campeão europeu pelo país das Tulipas, enquanto jogador, em 1988, carregava, enquanto cidadão holandês, o peso das finais perdidas: Mundial de 1974 (ganho pela República Federal Alemã), no Mundial de 1978 (Argentina) e no Mundial de 2010 (Espanha). E ainda o facto de a Holanda ser um alvo preferido de Ronaldo, que somava quatro golos frente aos holandeses, um dos quais, nas meias-finais do Euro2004.

Um carrossel que parecia que não saía do lugar

Depois de falharem o Euro2016, em França e o Mundial da Rússia, em 2018, o futebol do País das Tulipas estava de regresso às grandes provas de seleções.

No primeiro tempo os holandeses pautaram o jogo sempre ao primeiro passe, procurando que a bola seguisse sempre certa de pé para pé, num carrossel a meio-gás, e com pouca excitação, em que só o central, e capitão, Virgil van Dijk (que cada vez que tocava no esférico era recebido com assobios, o que poderá ser explicado pela presença de muitos adeptos ingleses no estádio, adeptos que segundo a organização tinham comprado previamente 10 mil bilhetes) estava autorizado a meter a bola em longa distância.

A Holanda deambulava no retângulo verde, Portugal era mais pragmático e direto. E com mais olhos na baliza. Bruno Fernandes, nesse particular, com o pé virado para as redes à guarda de Cillessen, testava aquela meia distância que o ajudou a ser o médio com mais golos na Europa. Depois de um pontapé frouxo, ao lado, seguiram-se dois remates (10 e 27 minutos) com a baliza como destino final, com o número 1 do Barcelona a encaixar um no peito e a desviar, o segundo, para canto.

No primeiro tempo Portugal fez quatro remates ao alvo. Na baliza contrária, Rui Patrício foi um mero espetador nesse período.

No regresso dos balneários, Ronald Koeman mexeu duas vezes na equipa (a equipa jogou o prolongamento nas meias-finais) e Portugal vestiu as despesas do jogo, “roubando” a percentagem de posse de bola que tinha estado nos pés de De Jong, Blind e companhia.

Pontapé de Gonçalo Guedes coloca a palavra golo na boca de todos os portugueses

Cheirava a golo e Gonçalo Guedes fez como que se sentisse o sabor esse momento único. Em cima da hora de jogo, numa jogada trabalhada com Bernardo Silva, à entrada da área provocou a primeira explosão das cores nacionais. O jogador natural de Benavente, que se destacou em Portugal ao serviço do Benfica, passou por França (PSG) e joga em Espanha (Valência) marcou o 4º golo ao serviço da seleção nacional — embora este tivesse sido o primeiro em jogos oficiais.

A perder, a Holanda muda a geometria comportamental. Passa a jogar mais direta, arriscou mais, abdicou dos passes teleguiados que tinham como destino, certo, o colega à mão do raio de ação do pé. Patrício começou a ser chamado e respondeu porque é o guarda-redes com mais internacionalizações, 81, ultrapassando Vítor Baía.

Fernando Santos tirou Guedes e Bruno Fernandes, metendo Rafa, para dar velocidade e João Moutinho, para acalmar o jogo. Ruben Neves ainda jogou meia dúzia de segundos (entrou para o lugar de William Carvalho).

Os três minutos finais fizeram lembrar a vitória em Paris, com o selecionador nacional a pedir calma. Só não estava a seu lado Ronaldo. Mas estava Gonçalo Guedes e Pepe, este de braço ao peito.

Cristiano, que tinha a namorada, irmã, mãe e filho mais velho na bancada do Dragão, e o resto do mundo português com os olhos postos nele, apareceu para levantar a Taça 7,5 kg e 71 centímetros de altura que tem mão portuguesa e configura a imagem de uma bandeira que representa as 55 federações nacionais membros da UEFA.