A líder da estrutura encarnada começou a sua participação no programa a dar uma palavra de "solidariedade" à Casa do Benfica de Braga, vandalizada na madrugada de sábado ("é de lamentar que uma outra candidatura tivesse feito insinuações que alguém da minha candidatura tivesse feito aquilo", diria Vieira), e para André Almeida, que saiu lesionado do encontro desta noite que opôs o Benfica e o Rio Ave, em que as águias venceram por 3-0. Para o lateral do Benfica, chegou mesmo a mandar um "abraço".
Jorge Jesus
Depois, respondeu à questão colocada pelo jornalista: a contratação de Jorge Jesus foi para ganhar as eleições? A resposta de Luís Filipe Vieira foi direta: "não".
"Não. Até porque o Jorge Jesus era muito controverso no mundo benfiquista. Há um ano ninguém pensava que ia haver uma pandemia. Há um ano se calhar também fiz determinadas afirmações e quando entendi que devia de contratar o Jorge Jesus foi numa conversa que tivemos em casa dele e ficou praticamente tudo clarificado, em que se não houvesse nenhuma alteração na estrutura [do clube] ele seria o próximo treinador do Sport Lisboa e Benfica", frisou o presidente encarnado.
O dirigente deu conta de que a conversa se deu ainda quando Bruno Lage estava a treinar o clube, "por volta de março, quando o Jorge Jesus foi para o Brasil". Questionado se os benfiquistas já perdoaram o verão de 2015, ano em que o atual treinador encarnado trocou o Benfica pelo Sporting, Vieira afirmou que o próprio treinador foi "muito claro" quando regressou esta época às águias.
"Foi muito claro na apresentação naquilo que disse e acho que neste momento qualquer benfiquista deve estar com o seu treinador. Todos nós queremos é que o Benfica ganhe e o Jorge Jesus é que é o nosso treinador e é com ele que nós temos de estar", rematou.
Formação: Florentino, Dantas e Jota
Sobre o centro de formação do Benfica, no Seixal, o líder encarnado salientou que não é pela chegada de Jesus que o "Seixal deixará de ser prioritário".
"Basta ver que ainda hoje entrou outro jovem lá, o Nuno Tavares. [O centro de formação] vai continuar a ser prioritário. O que se passa é o seguinte: o Benfica tinha que se reforçar e reforçou. Quis fazer outro tipo de abordagem tanto no campeonato como na Europa e teve que se reforçar. E entendemos rodar alguns jovens e outros que continuam lá, como o Diogo Gonçalves e o Nuno. E tenho a certeza de que irão voltar alguns deles novamente. Agora, o Seixal faz parte da estratégia do Benfica não faz parte de estratégia de nenhum treinador", disse.
Na primeira parte da intervenção, Luís Filipe Vieira não falou de qualquer nome de forma individual, mas questionado pelo jornalista sobre o caso de Florentino Luís (emprestado ao Mónaco) e Tiago Dantas (já se estreou pela equipa secundária do Bayern Munique), dois jogadores da formação com grandes perspetivas de futuro dentro da formação encarnada.
"Foi ele [Florentino Luís] que pretendeu sair para ir rodar. O mesmo se passou com o Jota e com outros que estão a rodar como é o caso do Gedson — que acho que pode vir a regressar já em janeiro. O caso do Tiago Dantas, que tem dado tanto que falar, faz-me uma confusão muito grande. O Tiago é um jovem que tem 15 anos de Sport Lisboa e Benfica. Sei a conversa que tive com o Tiago, sei os relatórios que recebi e quando o Tiago já não era titular da equipa B do Benfica e já nem jogava, é lógico que lhe apareceu a proposta que apareceu [do Bayern de Munique], e o Benfica não pode dizer que não a um jovem como o Tiago. E um dia mais tarde poderá sair como qualquer outro", salientou o presidente encarnado.
Operação Lex, lóbi e e-mails
"Ninguém me vê a jantar em lado nenhum. Recentemente, por causa destas coisas todas do Lex, perguntam se não montei um lóbi. Mas qual lóbi? Eu nem conheço a maioria das pessoas que estão no poder nem falo com elas. Eu, houve um período, agora parece que tudo é suspeito, aqui há uns seis, sete ou oito anos, um grupo de juízes ia fazer um jogo de futsal no Benfica uma vez por ano entre eles todos e tal. A única vez que eu me apresentei às pessoas foi para dar uma camisola do Eusébio. Não me lembro de mais ninguém, nunca mais apareci ao pé de ninguém nem em mais nenhuma situação. Poder meu, é zero. Não tenho poder com ninguém. Nem ninguém pode dizer [que tem]. Agora, se me disser que tenho uma boa relação com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol? Tenho. Com o primeiro-ministro, sim. Qual é o problema de ser amigo? O primeiro-ministro fez-me algum favor? Mas qual foi o favor que o primeiro-ministro me fez a mim? Pelo contrário. Ele sofre e eu sofro. Parece que é proibido dizer que sou amigo do António Costa", atirou, antes de falar da Operação Lex.
"Primeiro, deixei-me ser claro, não ofereci nada ao senhor Rui Rangel. A Justiça acho que funciona em Portugal. De certeza que há justiça neste país. Aquilo que fizeram foi: eu nunca vou ser julgado por jornal nem por nenhuma televisão. (Aliás, já me fizeram o julgamento). Posso-lhe garantir que se não fosse presidente do Benfica, não estava metido naquilo, que eu não pedi nada ao senhor Rui Rangel. Aliás, mais! Até há uma escuta ou uma gravação em que digo assim, ‘Oh Rui, se quiseres eu vou contigo lá ao tribunal’. Nem o senhor Rangel podia interferir neste processo meu, curiosamente uma dívida que o Estado tem para comigo. Não era eu que devia ao Estado, era o Estado que me devia a mim. O que se devia dizer é como é que o Estado português demora tanto a pagar. O que é que eu tinha de pedir ao Rui Rangel? Ajuda-me aqui ou ali em quê? Quando conhecerem [o processo], quando for de domínio público, vão tirar as vossas próprias ilações. Aquilo que eu fiz qualquer um fazia", comentou.
Sobre os e-mails, a rede. "Há quantos anos duram os e-mails? A justiça já devia de ter apresentado alguma coisa. Não deve de haver nada. Acham que o Benfica, nos últimos sete ou oito anos, não foi dos clubes que teve os melhores plantéis em Portugal? Mas estamos a brincar com isto ou quê? Nós ganhámos quatro campeonatos seguidos, perdemos dois campeonatos e ainda não sei como é que os perdemos; um nos últimos segundos, outro com oito pontos de avanço. Mas era preciso andarmos a pedir favores a árbitros? Mas qual é o árbitro quem vem dizer isso? Eu acho é que os e-mails deram possibilidade a outras coisas muito mais graves. Exemplo? Os que disseram que era benfiquistas foram todos corridos. É uma das coisas gravíssimas. Aqueles nomes que estavam lá deviam de ser então investigados no que é ajudaram o Benfica. E não fizeram nada disso. Eu sofri na pele 12 anos. Eu falava no Apito Dourado, aparecia o Mantorras", contou, antes de falar na família.
"Tenho a minha consciência completamente tranquila. Os meus filhos e a minha mulher podem ter orgulho no pai e no marido que têm. Quem me conhece sabe que era incapaz de subornar alguém. Vamos ver no que vai dar a justiça. Se me acusaram, têm de me julgar. Já me viraram ao contrário 10 vezes seguidas e continuo em pé. Ninguém vai perdoar que um indivíduo com a 4.ª classe faça esta obra e revolucione o futebol português. É preconceito. Se não tenho aparecido no Benfica, não havia estádio, não havia nada", frisou.
A oposição e os notáveis
"A abordagem que fiz ao Benfica há 20 anos foi ver uma floresta completa no Benfica que não exista e era um clube completamente destruído. O Benfica foi refundado [sic] novamente, que é uma diferença muito grande. Logicamente, ao longo deste tempo todo, que há uns, que o senhor [jornalista] está a dizer que é a oposição, que até os vi desaparecer naquela altura que era muito complicado estar no Benfica. Era preciso trabalhar muito, dar a cara, arriscar muito. Há outros que fugiram, ficaram ressabiados com a vida e com aquilo que se passou depois no Benfica", começou por explicar.
"Hoje existe um Benfica que, em termos internacionais, é admirado por toda agente e em termos nacionais parece que é invejado. É uma diferença grande. E também tem outra particularidade interessante: é que está muito apetitoso. Julgava que a feira da vaidade tinha desaparecido do Benfica, mas ela continuou. Há uma tentativa de aparecimento. Mas os benfiquistas sabem perfeitamente que o caminho que nós temos de traçar já está traçado e não vai haver ruptura nenhuma com o passado. Este projeto tem que ter continuidade e de certeza absoluta que alguém irá continua-lo", completou.
"Eu não represento nenhum notável. Já disse a toda agente que sou bairrista, sabem onde é que eu vivo. Os notáveis são aqueles anos da pandemia que faziam 600 ou 500 quilómetros para ver o Benfica. Os presidentes das Casas do Benfica. Esses são os notáveis para mim. O resto é o trabalho que diz o que vale. Agora há aqueles que aparecem e que eu respeito muito pois é sinal que há uma vitalidade muito grande no Benfica que vem da oposição — que é bom que exista, é sinal dessa mesma vitalidade. Mas com projetos concretos", aferiu o líder encarnado.
O forte investimento em contratações
"Acho que os benfiquistas não têm de estar preocupados com as contratações porque eu sempre disse que o primeiro título do Benfica é sempre o da credibilidade. Se eu lhe disser que o Benfica nunca comprava Everton [Cebolinha] por 20 milhões [de euros] no ano passado... compro-o agora. O Waldschmidt custava mais dinheiro o ano passado e compro-o agora. O Darwin é aquele que nos custou mais dinheiro e achamos nós — é unânime na nossa casa — que será uma referência em termos de futuro no futebol mundial.Estamos a falar de jogadores que na nossa perspetiva além de termos o retorno desportivo bastante alto também financeiramente o iremos ter", frisou, antes de explicar como é foi possível ao Benfica fazer estes investimentos.
"No tempo em que vivemos hoje, com a incerteza que nós vivemos todos, logicamente não é o Benfica, não é o Sporting, não é o Porto. Qualquer empresa vai atravessar sérias dificuldades. E o Benfica tem de estar preparado para essas dificuldades. Sempre disse, anteriormente, sem descontar nenhum vencimento a nenhum jogador, o Benfica tinha de cumprir os seus compromissos sobre pena de ter que criar dívida. Criar dívida para assumir os seus compromissos e quando passasse este estado da pandemia, o Benfica fosse o clube mais rápido a recuperar. Sobre as aquisições que fizemos, vou revelar, mas não tudo, porque senão podemos estar a ensinar a muita gente. Posso dizer-lhe que há jogadores desses que foram comprados a cinco anos sem juros. Não digo mais nada porque isso fica em casa. Mas quando se tem credibilidade às vezes consegue fazer-se coisas diabólicas. Acho que é na altura das crises que quando se tem credibilidade que se deve investir. Vamos ver quem é que terá razão no futuro. Lembro-me que quando cheguei ao Benfica sabia o estado em que isto estava. Isso, sim. Aí era penoso. Agora, neste estado, o Benfica recuperar 100 ou 150 milhões de euros será fácil recuperar depois", conta.
"Eu ouvi dizer que a formação não se ganha tudo. Ouvi muitos daqueles críticos também a repetir a mesma coisa. Agora vejo-os a inverter a coisa ao contrário porque estão muito preocupados com a parte financeira e já não estão preocupados com a vertente desportiva. Há um anos muitos criticaram-me muito e até disseram que era eu que constituía as equipas do Benfica, eu é que obrigava o treinador a por os jovens. Qualquer treinador do Benfica que diga que eu me intrometi no plantel. Nunca o fiz", aferiu, para depois dizer que "o Benfica fez a segunda melhor década de sempre do futebol, esta que passou. Eu entendi, os meus colegas entenderam, que a a íamos entrar na próxima década a pensar na vertente desportiva. De maneira para que quem vier a seguir a mim tenha a possibilidade de melhorar essa década em relação aquela que eu fiz. Há ambições que nós temos".
Sonho Europeu
"Vamos ser claros. Imaginemos que o Benfica tinha sido apurado e chegava aos oitavos de final. A partir dali era uma lotaria. Quem jogou há bola sabe como é. Com a formação que o Benfica tem, se benfiquistas esperarem quarto ou cinco anos e não sair nenhum dos jogadores do Seixal sair, garanto-lhe que o Benfica tem equipa para disputar a Liga dos Campeões até às finais. Estão lá os treinadores, os jogadores, eu não jogo à bola. Ninguém se iluda. Hoje, não há nenhum clube português, seja o Sporting, o Benfica ou Porto, pode pensar que não tem de vender jogadores. Se estamos a pensar no contrário está tudo enganado. Se queremos ser competitivos temos de gastar dinheiro e temos de vender também", disse.
A defesa da Liga dos Campeões e a performance do Benfica esta época frente ao PAOK. "O Benfica não fez um único jogo de competição. Fomos jogar com uma equipa que, salvo erro, já tinha quatro ou cinco jogos [tinha sete] de competição. Mesmo assim o Benfica na primeira parte o Benfica podia ter resolvido facilmente o jogo. Num jogo só o futebol é assim. Quem viu recentemente o Rio Ave vs Milan toda agente viu o que é que se passou no campo. É uma aposta firme, minha, que vamos ganhar um título europeu. É uma aposta mesmo minha. E vou dizer-lhe uma coisa: não saio do Benfica, nestes quatro anos, sem lá chegar. É uma jura que eu fiz. É a única que falta cumprir ao meu pai. Hei de conseguir", rematou.
O apoio de António Costa, o amigo e não o primeiro-ministro
"Vou tratá-lo como eu o trato, o António. Não como primeiro-ministro. Em 2012, foi meu apoiante e em 2016 foi meu apoiante já como primeiro-ministro, mas como António Costa, o cidadão e sócio do Sport Lisboa e Benfica. Agora foi na mesma condição. O que se passou é o que me está a intrigar. O que é que se passou para criticar o cidadão António Costa que já me tinha apoiado em dois mandatos anteriores. Eu nunca o mencionei como primeiro-ministro, mas só como cidadão e sócio do Benfica. Houve um jornal que maldosamente logo o primeiro-ministro e curiosamente é o jornal ou grupo que apoia muito a célebre candidatura que apareceu repentinamente. Isso é que é grave. Eu entendi que o António Costa não podia estar a sofrer nada comigo. Agora é que comecei a ver que a classe política, toda gente tem de ser marginalizada. Então entendi por bem retirá-los todos de lá [da campanha]", enfatizou.
Rui Costa e a monarquia
"Rui Costa? Dizem que aquilo é monarquia mas isto não é nada uma monarquia. O que eu disse foi o seguinte: dentro do Benfica há gente qualificada para dar continuidade a este projeto — que tem de ter continuidade, nação é para voltar ao tempo do passado. O que eu disse no meu discurso, naquilo que é um sentimento meu, que quem vota são os sócios. O que eu disse foi eu sou o presente e tu [Rui Costa] serás o futuro. Mas quem vota são os sócios do Benfica. Agora, se o Rui está preparado... O Rui tem 12 anos de trabalho comigo, vai-se preparando diariamente", contou.
Último mandato? Mesmo na possibilidade de um penta?
"Acho que há um tempo para tudo na vida. Eu tenho família também. Sei quantos dias tive de férias no Benfica nestes anos. Porque fazer o que se fez em 20 anos não está ao alcance de qualquer empresa. Acho que o Benfica é um caso de estudo para saber como foi possível tornar este clube com esta visibilidade toda e fazer daquilo uma grande empresa. Aliás, o segredo deste projeto é ser um projeto empresarial com a paixão colada", disse, mantendo que este será o seu último mandato à frente dos destinos do clube.
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