O grupo de manifestantes, parte do qual esteve concentrado, antes da reunião, em frente ao edifício da autarquia, acompanhado da PSP, contesta a intenção camarária, decidida no âmbito de um projeto de requalificação urbana aprovado para o local.

Uma das campistas, Maria Teresa Ferreira, interveio na reunião, lembrando o historial do parque de campismo - que começou por ser um local de campismo selvagem e foi legalizado há quase 30 anos, em 1989, através de uma concessão feita pela administração portuária à Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), que termina a 31 de dezembro - e alegando que o entusiasmo pelo local "foi crescendo" ao longo dos anos, sendo que o parque "tem utilização superior" aos três restantes existentes no concelho e não teve "qualquer melhoramento" por parte da Câmara.

"Depois destes anos todos no esquecimento, vem o senhor presidente da Câmara, de forma cruel, maldosa, prepotente e autoritária, correr com quem sempre cá esteve. Já somos três gerações de campistas, somos a escumalha do Cabedelo", acusou a munícipe.

A intervenção mereceu o aplauso generalizado dos cidadãos que enchiam a sala, levando o presidente da Assembleia Municipal a intervir, avisando da proibição de manifestações do género, que não voltaram a suceder.

Já Cristela Costa, atual proprietária da mais antiga escola de surf do Cabedelo, disse que o projeto de requalificação não foi apresentado aos utilizadores daquela zona.

"É difícil entender como é que uma via de acesso passa por um café recentemente construído e o parque de campismo não pode ser requalificado", frisou Cristela Costa, embora manifestando, a exemplo dos campistas, não ser contra a requalificação do Cabedelo, "mas contra a forma como está a ser conduzido o processo".

Da parte da bancada do PSD, o deputado Tiago Cadima - que explora o restaurante do parque de campismo e disse ter pedido a cessação do contrato assinado com a FCMP - argumentou que o projeto apresentado publicamente pela autarquia "não é aquele que está a levar por diante", numa alusão ao plano original, onde o parque de campismo aparecia deslocalizado umas centenas de metros para sul.

Tiago Cadima citou declarações do presidente da Câmara, João Ataíde, que terá afirmado que o parque de campismo do Cabedelo - localizado junto à orla marítima, entre os molhes sul e interior sul do rio Mondego - "é um espaço demasiado nobre para estar alocado a parque de campismo", classificando-as de "despropositadas e algo xenófobas".

"O que o senhor transmitiu a cerca de 50 mil associados da Federação é que não eram bem-vindos à Figueira da Foz", declarou.

Tiago Cadima classificou ainda o planeamento da área de reabilitação urbana do Cabedelo como "um caso de estudo em como fazer tudo mal", questionando sobre a deslocalização do café instalado no local há menos de um ano, por a estrada para ali projetada passar onde o edifício foi construído.

Na resposta, o presidente da Câmara, João Ataíde, alegou que o parque de campismo do Cabedelo "não é propriamente um projeto estimado pelos figueirenses e pela comunidade local".

O autarca lembrou que a requalificação do "espaço urbano de praia" do Cabedelo assenta na degradação da envolvente e que o projeto, aprovado pela autarquia, prevê um investimento de 2,5 milhões de euros que ainda aguarda visto do Tribunal de Contas.

João Ataíde adiantou que foi pedido a um arquiteto paisagista a valorização do espaço, comparando o Cabedelo a Troia, afirmação que motivou risos na assistência.

"O parque de campismo, com a sua configuração atual, é conflituante com este objetivo. Não vemos grande vantagem em prol da cidade na manutenção deste parque de campismo, no nosso projeto não está integrado nem tem de ser integrado", argumentou o autarca.

Disse ainda que não existe "nenhum direito adquirido" dos campistas e utilizadores do parque, nem nenhum direito de propriedade ou posse "nem foi gerado qualquer tipo de expectativa", finda a concessão.

No entanto, o autarca admitiu, a "título precário", antes de começarem as obras e sujeito a reavaliações "de três em três meses", que a concessão se possa manter "enquanto não ocuparmos aquele espaço".

"A expectativa era o prazo de concessão e temos oferta suficiente em termos de campismo", frisou o autarca.

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