Entraram no Kremlin - a comitiva portuguesa - de mãos nos bolsos e figas feitas. “Que não seja como em 2014”, desejou o país e os portugueses espalhados pelo Mundo a acompanhar o sorteio para o Mundial de 2018 na Rússia.
Há três anos, no Brasil, a sorte ditou que teríamos de ultrapassar a Alemanha, Gana e Estados Unidos para nos mantermos em prova e o azar disse à sorte para esperar até 2016, só que na altura não sabíamos. Caímos cedo, na fase de grupos, com um vitória e um empate, 4 pontos, os mesmos que os americanos, mas com mais três golos sofridos na diferença que tirava o desempate e que nos valeu um bilhete para casa.
Dois anos depois qualificámo-nos e fomos ao Campeonato da Europa, em França, onde com três empates ultrapassamos a fase de grupos. Depois veio a Croácia, Polónia, País de Gales, França e o troféu.
Foi o título de campeão da Europa que nos permitiu ir de ‘pote cheio’ para o sorteio desta sexta-feira, sabendo que, enquanto cabeças de série, evitaríamos seleções como Alemanha, Brasil, Argentina, Bélgica ou França.
Mas as figas iam no bolso porque ainda nos poderia calhar nomes como a Espanha, a Croácia, a Colômbia, a Inglaterra, a Sérvia ou a Dinamarca.
As bolas rodaram e a Rússia, já destinada ao Grupo A, foi colocada no seu respetivo lugar. E logo de seguida a bola portuguesa.
A primeira ‘fornada’ distribui os cabeças de série por todos os grupos e deixou os portugueses com uma letra na cabeça: “B”. Cada vez que se ouviu “B” os olhos arregalavam e o nível de atenção disparava: “Espanha”, “B”.
“Nuestros Hermanos” saíram-nos em "sorte", foram os nossos primeiros adversários e ditaram a estreia da Seleção Nacional no Campeonato do Mundo de 2018: 15 de junho às 18h00, em Sochi.
Espanha lembra-nos, de imediato, duas eliminações: a última, no Campeonato da Europa de 2012, nas meias-finais, nas grandes penalidades; a outra, em 2010, no Campeonato do Mundo, por 1-0 com um golo de David Villa.
Antes desta década há somente um encontro, disputado em 2004, no Euro realizado em Portugal, em que ganhámos com um golo de Nuno Gomes. Já no século anterior, a história não é famosa: para o Mundial de 1934, numa eliminatória a duas mãos de qualificação para a fase final, perdemos 9-0 em Madrid e 2-1 em Lisboa. Em 1950, também para um Mundial e nas mesmas circunstâncias, Portugal foi perder 'lá' 5-1. 'Cá', empatámos 2-2. E depois, em 1984, no Campeonato da Europa, um empate — não melhora os registos.
Entretanto, em Moscovo, voltam a rodar bolas, a distribuir nações em grupos, e eis que se ouve outra vez: “B”, “Irão”. E é assim que se fica a saber que Carlos Queiroz, antigo timoneiro da equipa das quinas, iria revisitar a nação que conduziu durante a fraca prestação lusa no Mundial da África do Sul.
Queiroz poderá, eventualmente, não ter deixado saudades, mas será um desafio complicado pelo nível de conhecimento que o antigo adjunto de Alex Ferguson detém da seleção lusa. Ainda assim, as estatísticas abonam a favor de Portugal: em dois encontros disputados, Portugal venceu os dois.
O primeiro aconteceu em em 1972, para a Taça Independência — uma competição de futebol entre seleções nacionais patrocinada pelo Brasil como parte das comemorações do sesquicentenário da sua independência. Portugal venceu 3-0 com golos de Eusébio, Dinis e Humberto Coelho. Em 2006, no Campeonato do Mundo na Alemanha, as duas seleções voltaram a confrontar-se e a turma nacional, comandada então por Scolari levou a melhor: 2-0, com golos de Deco e Cristiano Ronaldo.
Já só a faltava distribuir o Pote 4, as regras do sorteio permitiam antever que não existiria nenhum grupo da morte. E quando se ouviu “B”, ouviu-se “Marrocos”, mais um vizinho e mais um que traz com ele más memórias.
As duas seleções só se encontraram por uma vez, no Mundial de 1986, no México. Perdemos 3-1.
Para além dos grupos, o percurso que queremos percorrer
Colocada no Grupo B, a formação das ‘quinas’ cruzará nos ‘oitavos’ com um conjunto do Grupo A, composto por russos, uruguaios, Egito e Arábia Saudita.
Se vencer o agrupamento, Portugal jogará os oitavos de final em Moscovo, a 1 de julho, e, passando como segundo, jogará o primeiro encontro a eliminar na véspera, em Sochi.
No caso de seguir em frente, para os quartos de final, a seleção de Fernando Santos tem oito possíveis adversários, provenientes dos grupos C (França, Peru, Dinamarca e Austrália) e D (Argentina, Croácia, Islândia e Nigéria).
A França, que Portugal bateu na final do último Europeu (1-0 após prolongamento, com um tento de Éder), disputado precisamente em solo gaulês, em 2016, e a Argentina, de Lionel Messi, são, teoricamente, os adversários mais complicados.
Caso tenha conquistado o seu grupo, a seleção portuguesa jogará os ‘quartos’ em Sochi, a 7 de julho, contra o vencedor do embate entre o primeiro do Grupo D e o segundo do C e, passando como segundo, disputará o acesso às meias-finais em Novgorod, a 06 de julho, face ao primeiro do C ou ao segundo do D.
O pentacampeão Brasil, a tetracampeã Alemanha, a Bélgica ou a Inglaterra, com todas as seleções dos grupos E, F, G e H, só poderão enfrentar Portugal nas meias-finais, a 10 de julho, em São Petersburgo, ou a 11, em Moscovo.
A final realiza-se a 15 de julho, também em Moscovo.
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