Quando, há duas semanas, escrevemos aqui sobre a selvajaria na conferência Este e sobre algumas das equipas desse lado que nos estão a encher o olho, um fã dedicado insurgiu-se contra a ausência daquela que ocupa o seu coração e contra aquilo que, considerava ele, era uma injustiça. Como — perguntava ele — podíamos falar da conferência Este e deixar de parte a formação que está, contra todas as expectativas (menos as deste fã, claro), a lutar pelos lugares cimeiros? Dada a nossa mão à palmatória, aqui estão, Luís, umas palavras sobre os Indiana Pacers.
Uma equipa que, no início da temporada passada, ninguém (à exceção do Luís, claro) apostaria que estaria onde está hoje. Afinal, quando, nesse verão de 2017, a formação de Indianapolis trocou Paul George por Victor Oladipo e Domantas Sabonis todos pensaram que tinham saído a perder (e muito) nesse negócio. E que tinham uma reconstrução demorada pela frente. Afinal, essa troca pode ter sido a melhor coisa que lhes aconteceu.
A troca da estrela maior da equipa era um desfecho esperado e inevitável numa novela que se arrastou ao longo da temporada de 2016-17. Paul George tinha afirmado que não pretendia renovar com a equipa e, com apenas mais uma época de contrato, os Pacers arriscavam-se a vê-lo sair no final do vínculo sem receberem nada em troca. Algo que não queriam deixar acontecer.
Obviamente, perante essas circunstâncias, as possibilidades de troca também eram limitadas, pois não eram muitas as equipas que estariam dispostas a dar muito (se alguma coisa) em troca de um jogador que podia sair no final da época. Porque, se bem se recordam, o consenso por toda a liga era que Paul George queria ir para os Los Angeles Lakers e qualquer outra equipa que trocasse por ele estaria apenas a fazer um empréstimo dos seus serviços por um ano.
Os Oklahoma City Thunder (OKC) arriscaram (uma aposta que, como sabemos, veio a compensar) e decidiram enviar em troca dois dos jogadores do seu plantel que mais estavam a desiludir. Uma troca que, para os Pacers, saiu melhor do que a encomenda.
Victor Oladipo, depois de anos de promessa nunca concretizada em Orlando e de um contrato gigantesco em Oklahoma nunca justificado, foi a revelação da temporada de 2017-18. De regresso a casa, a ex-estrela da Universidade de Indiana transformou-se num All-Star (e essa nem o Luís esperava). Os Pacers e os seus fãs já teriam ficado contentes se ele tivesse melhorado um pouco os seus números e sua eficiência. Subi-los da forma que o fez foi inacreditável. E deu-lhe um justo prémio de Jogador Mais Evoluído da temporada.
E Domantas Sabonis tornou-se no jogador que se esperava e que em OKC parecia que não ia acontecer. Depois de uma desapontante época de rookie passada estacionado no perímetro dos Thunder a tentar ser um “stretch 4”, o jovem lituano despontou em Indiana, num sistema muito mais vocacionado para as suas características e para potenciar o seu jogo de costas para o cesto. E os Pacers, apontados no início da temporada passada para, provavelmente, falharem os playoffs, surpreenderam tudo e todos (menos o Luís, claro) e terminaram no quinto lugar da conferência, a dois jogos dos Cleveland Cavaliers. Nos playoffs, levaram os Cavs até ao limite e perderam apenas num renhido jogo 7.
Este ano, as expectativas já eram mais altas. Mas estão, mesmo assim, a conseguir superá-las. Esperava-se que estivessem na metade de cima da classificação, mas num segundo patamar da conferência, abaixo do quarteto de favoritos. O esperado no início da temporada era Boston Celtics, Toronto Raptors, Philadelphia 76ers e Milwaukee Bucks (por esta ou outra ordem) num primeiro patamar e os Pacers a seguir. Mas estão a conseguir intrometer-se na luta dos outros quatro. Estão, neste momento, acima de Celtics e Sixers e apenas a dois jogos de distância de Bucks e Raptors.
À entrada para esta época, tanto Victor Oladipo como os Pacers tinham o mesmo desafio: mostrar que a época passada não foi um fogacho, mas sim o início de um caso sério. E estão a fazê-lo. Mais os Pacers do que Oladipo, que não está tão bem como na época passada (também devido a alguns problemas de lesões que já lhe valeram alguns jogos de ausência) mas a grande temporada de Domantas Sabonis e a evolução de Miles Turner ajudam a compensar essa quebra. Bem como o banco profundo. Numa equipa sem superestrelas, o coletivo é, de resto, um dos segredos do sucesso.
O outro é a defesa, onde são os segundos melhores de toda a liga. E, com o seu ritmo de jogo mais baixo (são 29ºs em posses de bola por jogo), mostram que também é possível ter sucesso jogando um estilo de jogo diferente do popularizado por toda a liga. São uma equipa aguerrida, que não joga tão rápido, nem tão aberto, nem lança tantos triplos como outras. São uma espécie de Grit’n’Grind do Este.
Até onde conseguirão chegar esta época? Se perguntarem ao Luís, até ao título. Se nos perguntarem a nós, as expectativas são mais moderadas. Mas são uma equipa que pode fazer uma gracinha nos playoffs e com quem qualquer um dos quatro favoritos terá de ter cuidado. Podem não chegar ao título, mas podem arruinar os sonhos de um título a alguma equipa. Aí estão os Pacers, fãs da NBA, para vosso regozijo e entretenimento. De nada, Luís.
Comentários