Nesse dia 24 de janeiro, os Jazz cumpriam o segundo de três jogos pela costa Este. Depois de uma derrota em Atlanta, frente a uns medíocres Hawks, o registo da equipa piorava para 19 vitórias e 28 derrotas, num aparentemente confortável 10.º lugar da conferência Oeste, embora a apenas três derrotas de distância da 15.ª e penúltima posição da tabela classificativa. E o futuro parecia reservar uma queda na classificação do Oeste, com as visitas a Detroit e Toronto, seguidas de uma recepção aos campeões Warriors para fechar o mês.

As notícias não eram todas más para a formação de Salt Lake City, já que o poste francês Rudy Gobert tinha voltado ao ativo há poucos dias, depois de ter falhado 15 jogos devido a uma lesão. E as vitórias sobre Pistons, Raptors e Warriors deram à equipa um balão de oxigénio. Mas os Jazz não ficaram por aqui e somaram onze triunfos consecutivos. Seguiu-se a pausa do fim-de-semana All-Star, e, depois de duas derrotas em três jogos no recomeço da competição, nova série de nove vitórias, apenas interrompida pela derrota caseira com os Hawks, esta terça-feira.

Ao todo, e desde 24 de janeiro, o conjunto orientado por Quin Snyder leva 21 triunfos e três desaires, ocupa o 8.º lugar do Oeste (40V-31D) e, em vez de olhar para baixo na classificação, olha com ar guloso para um dos primeiros quatro lugares, que estão a apenas três vitórias de distância e que garantem fator-casa na primeira ronda dos playoffs. Se me perguntassem, há dois meses, se os Jazz iam aos playoffs, diria que não. Hoje digo que não tenho dúvidas que sim.

A presença de Gobert

O que esteve, afinal, na origem desta metamorfose? Tudo começou com o regresso de Gobert.

O poste francês é unanimemente considerado uma das melhores âncoras defensivas da NBA e a defesa dos Jazz melhorou substancialmente desde que voltou de lesão. Desde 24 de janeiro, os homens treinados por Quin Snyder apresentam uma Eficiência Defensiva (pontos sofridos por cada 100 posses de bola) de 94.5. Impressionante, sobretudo se tivermos em consideração que, na mesma janela temporal, o segundo melhor registo da liga pertence aos San Antonio Spurs, com 103.3. Mais impressionante ainda se pensarmos que, antes de 24 de janeiro, a Eficiência Defensiva da turma de Utah era de 105.5.

A influência de Rudy Gobert não se resume ao facto de ser o último protetor do cesto, como o prova a média de 2.3 desarmes de lançamento por jogo, apenas atrás dos 2.4 de Anthony Davis e Kristaps Porzingis. Com o gaulês dentro das quatro linhas, os esquemas defensivos de Quin Snyder tornam-se mais eficientes e, no perímetro, os jogadores exteriores assumem mais riscos, pois sabem que o "guarda-redes" está lá atrás. E a morfologia de Gobert, um jogador rápido e atlético, permite a utilização de trocas defensivas sempre que necessário, uma vez que praticamente todos os elementos mais utilizados dos Jazz podem defender múltiplas posições.

O internacional francês é, de resto, um dos mais sérios candidatos ao prémio de Defensor do Ano. Entre os jogadores com mais de 15 minutos de média de utilização, lidera os rankings de Eficiência Defensiva individual, com 97.1, e Win Shares (fórmula que determina o impacto do desempenho defensivo de um atleta nas vitórias da respectiva equipa), com 0.071.

E uma das dúvidas para esta temporada - de que forma o base Ricky Rubio ia encaixar na equipa? - ficou respondida, sobretudo neste últimos dois meses. O espanhol, conhecido por arriscar demasiado na defesa do portador da bola, parece assentar como uma luva em Utah, ao lado de outros dois jogadores que faziam os analistas torcer o nariz, mas que têm assinado desempenhos acima da média no meio-campo defensivo: Joe Ingles e o rookie Donovan Mitchell.

O australiano nunca foi conhecido pelas capacidades defensivas e até tinha fama de preguiçoso por andar sempre um passo atrás na defesa e falhar rotações. Recentemente assumiu que, para ganhar a confiança do treinador (e mais minutos dentro de campo), teria que trabalhar mais defensivamente. Para já, tem cumprido. É verdade que é lento, mas compensa com a inteligência. Posiciona-se melhor, faz leituras e antecipa.

Por sua vez, Mitchell ainda está em fase de adaptação ao mundo da NBA. Não parece, porque as maravilhas que faz no ataque e que vemos quase diariamente nos highlights dão a entender o contrário, mas, na verdade, ainda tem muito para crescer em termos defensivos. No entanto, mostra vontade e empenho - é raro vê-lo a ser batido em situações de um contra um -, e isso vale tanto ou mais do que a técnica defensiva. Dêem-lhe tempo.

Ao quarteto composto por Rubio, Mitchell, Ingles e Gobert, o técnico pode juntar o quinto elemento que melhor se enquadre nas características do adversário. Se o jogo pedir um corpo grande, que liberte o poste francês de um «match up» com um adversário mais pesado, Snyder opta por Derrick Favors. Se, por outro lado, quiser apostar num «small ball», rotações mais rápidas e mais capacidade de lançamento exterior, a escolha recai no reforço Jae Crowder, que chegou à equipa envolvido na troca que levou Rodney Hood para Cleveland, ou no rookie Royce O'Neale.

Rubio «on fire»

Com a melhor defesa da NBA, de longe, nos últimos 60 dias, os Jazz ganham também mais confiança no meio-campo ofensivo. A Eficiência Ofensiva subiu ligeiramente desde 24 de janeiro (de 104.4 para 106.8) e, aqui, o papel do internacional espanhol é fundamental. Visto como um jogador que privilegia o passe ao drible, Rubio está a ser desafiado por Snyder para assumir mais o "tiro". E a mensagem está a passar, visto que o base está a lançar um máximo de carreira de 10.7 lançamentos de campo, incluíndo outro máximo de carreira de 3.4 triplos por jogo. E a eficácia de 40.4% nos lançamentos de campo é - adivinhem! - máximo de carreira.

Na atual série de 21 vitórias em 24 jogos, Ricky Rubio soma médias de 15.6 pontos, 5.6 ressaltos e 6.8 assistências, bem acima dos 11.1/4.2/4.8 com que iniciou a temporada. Um Rubio mais lançador é capaz de gerar o pânico nas defesas contrárias e isso abre espaços, quer para os atiradores, quer para Gobert operar no interior. Espaços que são lidos e magistralmente aproveitados pelo espanhol. E todo o ataque flui, o que se reflete nos números individuais. Mitchell subiu de 19.1 para 21.5 pontos por jogo, Ingles melhorou de 9.7 para 14.7 e Gobert aumentou a sua produção de 12.2 para 15.8.

Com um treinador de mentalidade defensiva, a tirar o melhor rendimento de uma equipa em que as peças encaixam na perfeição à volta do Rudy Gobert, a par de um Ricky Rubio mais ofensivo, a abrir defesas para capitalizar ou servir os colegas, estes Utah Jazz podem melhorar ainda mais. E se me perguntarem, hoje, se os Jazz podem subir mais uns lugares na classificação do Oeste e aspirar a fazer uma gracinha na primeira ronda dos playoffs, digo que não tenho dúvidas que sim.

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