Entrevistado no Jornal da Noite, na TVI, o candidato derrotado nas eleições de outubro do ano passado sustentou que “quem esteve com Luís Filipe Vieira nas direções da SAD e dos órgãos sociais não tem condições para ser presidente sem ir a votos”, o que deve acontecer, no seu entendimento, “ainda este ano”.
“O fim do ‘vieirismo’ marca o fim de um ciclo. E neste ciclo estiveram presentes muitas das pessoas que estão atualmente nos órgãos sociais e na SAD. Essas pessoas, do ponto de vista ético e moral, não devem iniciar este ciclo desta forma. Se querem ser presidentes do Benfica devem ir a eleições e ser sufragados pelos sócios”, afirmou Noronha Lopes.
Segundo o antigo candidato, “a mudança no Benfica tem de ir muito para além dos arguidos deste processo” e o vice-presidente que hoje assumiu a liderança do clube, após Luís Filipe Vieira anunciar a suspensão do mandato, “não tem condições para ser presidente”.
“Não há legitimidade moral nem ética de Rui Costa nem de qualquer outro dirigente para assumir o cargo [de presidente] do Benfica num regime que é essencialmente presidencialista. As pessoas votaram num presidente”, explicou.
Considerando que este é “o momento mais negro da história” do clube da Luz, Noronha Lopes disse ainda que “o que já se sabe sobre o processo” ‘Cartão Vermelho’, que tem Luís Filipe Vieira como um dos quatro arguidos, já devia ter levado o presidente em função a renunciar ao cargo, “independentemente das medidas de coação” que venham a ser anunciadas.
“Acho escasso, acho pouco, esperava mais e tem de haver mais, para bem do Benfica”, afirmou Noronha Lopes quando questionado sobre se a suspensão do mandato por parte de Luís Filipe Vieira não é suficiente, perante a gravidade dos acontecimentos.
Ainda assim, apesar de ser questionado, várias vezes, sobre se pondera voltar a candidatar-se à presidência no próximo ato eleitoral do clube, Noronha Lopes não deu uma resposta definitiva.
“É uma decisão de grande responsabilidade, que envolve ponderação do ponto de vista profissional e familiar. Ainda não chegou a altura de fazer essa ponderação”, frisou.
Admitiu, no entanto, que deve ser assegurada a “estabilidade e tranquilidade” do clube no curto prazo, mas lembrou que não se podem “sacrificar os interesses do Benfica em nome de uma tranquilidade que não se sabe até quando vai durar”, após a nomeação de Rui Costa para o cargo de presidente.
“Deve ser fechado o empréstimo obrigacionista, completada a preparação das equipas, da formação, das modalidades, para a época que se avizinha. O que proponho é que haja uma gestão corrente para proteger os interesses do Benfica e que sejam marcadas eleições antecipadas no prazo mais rápido possível”, apontou.
O antigo candidato à presidência, de resto, iniciou a entrevista à TVI antes das primeiras declarações de Rui Costa como presidente dos ‘encarnados’, às quais assistiu em estúdio, após ser interrompido para a transmissão em direto desse ato no relvado do Estádio da Luz.
Rui Costa, que assumiu a presidência do Benfica, após Luís Filipe Vieira ter suspendido o mandato, face ao processo 'Cartão Vermelho', disse hoje que está ciente da "responsabilidade assumida" e do que os benfiquistas esperam de si.
O empresário e presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, de 72 anos, foi um dos quatro detidos na quarta-feira numa investigação que envolve negócios e financiamentos superiores a 100 milhões de euros, com prejuízos para o Estado e algumas sociedades.
Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) estão em causa factos suscetíveis de configurar "crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais".
Para esta investigação foram cumpridos 44 mandados de busca a sociedades, residências, escritórios de advogados e uma instituição bancária em Lisboa, Torres Vedras e Braga. Um dos locais onde decorreram buscas foi a SAD do Benfica que, em comunicado, adiantou que não foi constituída arguida.
No mesmo processo foram também detidos Tiago Vieira, filho do presidente do Benfica, o agente de futebol Bruno Macedo e o empresário José António dos Santos, conhecido como “o rei dos frangos”.
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