Ao googlar o nome de Rafal Lipinski para saber quem seria o homem por detrás do dunker profissional encontra-se uma proliferação de vídeos disseminados em diversas plataformas.

São vídeos e mais vídeos. Longos, curtos, novos e antigos. Em todos, vê-se Lipinski a fazer aquilo que lhe dá fama visual, a arte das mil e uma formas de afundar a bola num cesto de basquetebol, mas pouco, ou nada, está escrito. “Os afundanços são muito visuais, por isso é normal”, responde o entrevistado cujo modo de vida se resume a fazer afundanços numa tabela de basquetebol.

“Quem sou eu? Bom...chamo-me Rafal Lipinski, também conhecido por “Lipek”, tenho 31 anos e sou profissional dos afundanços (dunker, significa afundar a bola no cesto). Sou jogador de basquetebol também e tenho viajado pelo mundo em exibições de afundanços. Já lá vão 12 anos”, detalha.

Estava feita a apresentação.

“Tentarei fazer isto até o meu corpo o deixar”

Veio a Lisboa por ocasião dos prémios da Liga Betclic de basquetebol que decorreram num pavilhão cujo nome homenageia um campeão do atletismo, Carlos Lopes e foi, outrora, palco de competições da modalidade de atirar a bola ao cesto ou de hóquei em patins, entre outros desportos.

“Gosto tanto disto”, diz radiante. “Tentarei fazer isto até o meu corpo o deixar”, sorri. “É muito físico e duro. Apesar do afundanço fazer parte do basquetebol, as exigências corporais são diferentes”, antecipa. “No basquetebol estamos a falar de endurance, da capacidade de correr entre 40 a 45 minutos. No dunking é tudo sobre poder, impulsão e em segundos saltar a 100 por cento”, pormenoriza “Lipek”, como é conhecido no meio.

Volta a falar do homem por detrás do "Rei dos Afundanços". “Ainda estou a estudar, no 4.º ano de medicina, na universidade de ciências médicas, em Pozdan”, especifica. “Tem sido uma longa viagem. Comecei a estudar economia, percebi que não era para mim e saltei para medicina”, recua.

A carreira dual, basquetebolista e estudante, na mesmíssima universidade, traz-lhe vantagens pessoais. “É bom, posso conciliar a minha carreira de atleta com os estudos. E tiro vantagens disso”, admite.

“Quando deixar de ser atleta posso começar a carreira de médico”, antecipa. Não responde por quanto mais tempo vai permanecer no retângulo de jogo. “Mesmo quando estou de rastos mentalmente, paro um ou dois dias e pergunto-me: porque não mais um ano”, atira. “O plano é parar a parte de dunker quando me formar como médico. Mas também não digo a 100% que o faça. Depende do meu corpo e do meu estado de espírito”, reforça. 

“Tinha (e tenho) a cultura de basquetebol de rua, do 3x3, freestyle

Em pouco mais de uma década, inscreveu o nome numa Wall of Fame particular. “Ganhei cinco títulos de afundanços”, quantifica e pode ser atestado.

Mede 1,88 metros. Durante a conversa recordou os primeiros tempos de bolas no cesto. “Joguei basquetebol na Polónia, 2.ª e 1.ª divisão. Mas não me adaptei muito culturalmente. Tinha (e tenho) a cultura de basquetebol de rua, do 3x3, freestyle. Não me dei bem com a disciplina exigida”, recorda. “Se fosse hoje, talvez me comportasse de outra forma, mas era na altura um rapaz novo”, sorri.

No que faz e é conhecido, considera tudo uma performance individual. Afundar a bola no cesto, piruetas de 360 e 720 graus, saltar por cima da cabeça de alguém até elevar os olhos acima do aro, passar a bola por baixo das pernas ou atrás das costas, afundar com uma mão, de costas para a tabela e aterrar, com força, com as duas mãos até fazer estremecer a tabela.

“É um desporto individual. Se ganhas, és tu que ganhas, se perdes, és tu que perdes. Tens de assumir total responsabilidade pela preparação e treinos”, adianta. “Sou o meu próprio treinador. É tudo novo e por isso não há treinadores, pelo menos não havia quando comecei”, sustenta Rafal Lipinski. 

créditos: DR

“Não tenho medo de falhar”

Abre o livro de explicações para que qualquer leigo entenda o que faz. “Por vezes, é um show como hoje (prémios Betclic Awards). Outras vezes, com outros afundadores (dunkers) criamos um concurso num campo, por norma em 3x3. Pontuação de 0-10, cinco afundanços e quem somar mais pontos, ganha”, adianta. “Isto é, por vezes é um desporto de rua, outras vezes, uma disciplina, um show para o público e freestyle” reitera.

O diálogo decorre durante pouco mais de uma hora antes de equipar-se a preceito, fazer o aquecimento e alongamentos para entrar em cena numa exibição intervalada entre a entrega das estatuetas dos melhores do basquetebol português.

Meter a bola na rede é o objetivo máximo. O “medo de falhar”, à primeira ou segunda tentativa, perante uma audiência, não lhe passa pela cabeça. “Não tenho medo de falhar”, confessa. “Foco-me no que quero fazer. Se me focar no possível falhanço, falho mesmo”, dispara.

Para o fim, se as fontes de rendimentos de um desportista profissional são fáceis de descortinar, a pergunta impunha-se. De onde vem o dinheiro que ganha enquanto profissional de afundanços. “Dos eventos, shows, concursos com prize-money, há quem pague para nos ver, temos gente a seguir-nos, somos ídolos dessa gente que nos segue no social media, onde também temos uma fonte de receita”, atesta.