“Quando me sinto bem, não penso em mais nada a não ser fazer o meu trabalho. Gostaria de experimentar outros campeonatos, por serem verdadeiramente fantásticos, como o inglês, mas por agora não penso nesse cenário. E não é por falta de ambição é porque estou feliz e num grande clube, com seis milhões de adeptos que amam o clube, e me permite lutar por títulos”, diz o português.

Sobre a possibilidade de regressar a Portugal, o treinador, que já orientou o Marítimo, o Rio Ave e o Vitória de Guimarães, considera que tem feito uma carreira em crescente, admite que lhe faltou representar um dos ‘grandes’, mas diz não estar preso a esse objetivo. Aliás, revela mesmo que dá pouca importância de cada vez que os jornais portugueses colocam o seu nome na primeira página associado a Benfica, FC Porto ou Sporting.

“Encaro isso como normal quando há qualquer abalo em Portugal, mas não passa disso. Vejo à distância e de forma fria”, garante.

Ainda sobre os três ‘grandes’, hoje orientados por técnicos jovens e da sua faixa etária, Pedro Martins reconhece o valor dos três treinadores, mas frisa que esse tipo de escolha surgiu também por necessidade económica dos emblemas portugueses.

“Houve necessidade de continuar a aposta nos treinadores portugueses jovens, porque se percebeu que há qualidade. Depois para contratar um estrangeiro com nome é preciso muito dinheiro e o risco de contratar um português não é tão grande face a estrangeiros desconhecidos. Por isso, é preferível apostar na realidade que conhecemos”, explica Pedro Martins.

Crítico em relação à gestão que é feita em Portugal, Pedro Martins frisa ainda que esta questão tem ligação com a falta de competitividade crescente do futebol português, que teme que possa acentuar-se nas próximas épocas.

“Raramente conseguimos lutar com outras equipas da Europa como fazíamos há alguns anos. O rumo que tomámos cada vez trará mais dificuldades, e se não percebermos rapidamente que o negócio não pode ser gerido de forma clubística, corremos o sério risco de passarmos a disputar uma espécie de segunda divisão da Europa”, alerta o treinador.

Sobre a formação, Pedro Martins adverte que não está a ser solução para a falta de competitividade que identifica.

“A formação tem assegurado o nível mínimo de saúde financeira dos clubes, mas raramente os jogadores ficam no clube. Tem-se feito muito na formação, mas os jogadores de qualidade desaparecem rapidamente. Não havendo competitividade e um futebol atrativo será difícil ter condições para fazer uma inversão desse cenário”, termina.

Classifica como “excelente” a época do Olympiacos até ao momento

No campeonato, apesar do empate do último fim de semana frente ao Xanthi, o Olympiacos segue na liderança, com sete vitórias em nove jogos, e Pedro Martins diz que o balanço por esta altura “não podia ser melhor”.

“A prestação da nossa equipa até agora tem sido excelente, com sete jogos e dois empates no campeonato. Há ainda muito jogo pela frente, na Grécia o campeonato tem um ‘play-off’, mas pedir mais do que isto seria demais face ao que a equipa podia dar nesta fase”, afirmou o treinador luso em entrevista à agência Lusa.

Quanto ao desempenho europeu, o técnico de 49 anos diz que chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões foi “muito importante”, mas admite que será difícil contrariar o favoritismo de Bayern Munique e Tottenham no apuramento para os oitavos de final.

“Até à entrada da fase de grupos, o que fizemos foi excelente. Na fase de grupos as exibições têm sido excelentes e é pena não termos materializado isso em pontos. Há pequenos detalhes que não o têm permitido. Sabemos que há duas equipas mais fortes, o Bayern Munique e o Tottenham, mas cá estaremos para lutar e, se não conseguirmos passar à fase seguinte, vamos lutar pela Liga Europa”, admite Pedro Martins, que reforça que a equipa “vai lutar por pontos”, mas que o primeiro objetivo é garantir a continuidade numa competição europeia, ou seja, assegurar o terceiro lugar do grupo, que dá acesso à Liga Europa.

Na quarta-feira, a formação helénica desloca-se a Munique para defrontar o Bayern e o português rejeita a ideia de que o vencedor esteja encontrado à partida.

“O Bayern é uma excelente equipa, mas já demonstrámos que nos podemos bater com qualquer adversário. Em nossa casa somos uma equipa forte e sabemos que na Alemanha será diferente, mas temos uma palavra a dizer. Quem viu os nossos jogos sabe que equipa que facilitar frente a nós pode ter dissabores, por isso vamos lutar por pontos”, reitera o português, a cumprir a sua segunda época no Olympiacos.

Sobre o projeto que tem desenvolvido no emblema grego, Pedro Martins considera que as coisas “têm corrido bem”, depois de uma fase em que o Olympiacos viu ser colocado um ponto final em sete anos de hegemonia.

“O Olympiacos é um clube que tem liderado o futebol na Grécia, à exceção dos últimos dois anos, em que não foi campeão, pelo que houve necessidade de uma restruturação. Fizemos um plantel com muita qualidade, muita juventude e mudou-se um pouco o paradigma: decidimos começar com uma equipa nova e acho que está a dar frutos o trabalho que começámos há 18 meses”, conclui.

Na liga grega, o Olympiacos é líder com 23 pontos, e na Liga dos Campeões ocupa o último lugar do grupo B, com apenas um ponto em três jogos.

Benfica não é o único interessado em Rúben Semedo 

O português Ruben Semedo está neste momento a representar o Olympiacos, clube treinado pelo português Pedro Martins, que diz conhecer o interesse do Benfica no central e diz-se preparado para o perder na reabertura do mercado.

“Como treinadores estamos sempre preparados para isso, ainda para mais quando sabemos que há necessidade do clube em vender para sustentar o orçamento”, admite Pedro Martins, que em entrevista à agência Lusa confirmou também que o Benfica é uma possibilidade.

“Fala-se muito no Benfica, mas não é só o Benfica, porque sei que há muitos clubes interessados nele”, diz o técnico.

Sobre o percurso do central depois dos problemas pessoais que teve com a justiça espanhola, Pedro Martins revela que disse ao próprio jogador que isso nunca seria um tema no relacionamento entre ambos e elogia as escolhas que o jogador fez depois desse episódio.

“Ele ir para o Rio Ave foi muito importante. Ele pode atingir outros patamares, mas o Rio Ave foi uma alavanca muito importante. Foi muito inteligente a forma como tomou essa decisão e a passagem por lá foi importante e permitiu preparar-se para outras etapas”, afirma Pedro Martins.

No Olympiacos há mais dois portugueses que têm estado em destaque, Podence e José Sá, titulares no líder do campeonato grego e já chamados por Fernando Santos à seleção nacional. Pedro Martins acredita que é uma prova do seu valor e também do trabalho que está a ser feito no emblema helénico.

“É um orgulho ver a sua chamada depois de terem saído de Portugal. É fruto do trabalho que têm vindo a desenvolver e da qualidade do jogo do Olympiacos. Fico feliz porque sei que é um grande sonho deles representar a seleção nacional”, termina o técnico luso.