Após despender vinte e seis milhões de libras (aproximadamente trinta milhões de euros — o que no mercado atual é uma pechincha), o Arsenal vê-se de alguma forma renascido. Com mais mudanças no plano psicológico do que propriamente no plano técnico, foi a integração de apenas um novo elemento que trouxe ao Arsenal todo um novo espírito de equipa e mentalidade guerreira. Tendo que esperar seis jogos (a contar para a Premier League) para ver o médio uruguaio como titular, os adeptos do Arsenal viram a sua paciência recompensada. Lucas Torreira é já uma referência da equipa e uma das esperanças dos adeptos para colocar o Arsenal, definitivamente, na rota de mais um título da Premier League nos próximos anos, após a última conquista em 2004.
De Tevez a Verratti
Ao chegar a Itália, proveniente do Montevideo Wanderers, equipa uruguaia, Lucas Torreira foi de imediato rotulado como o novo Carlos Tevez. Porquê? Porque chegou como avançado centro. A novidade é só mesmo a posição, porque o estilo combativo não poderia ser mais semelhante e daí as comparações com o craque argentino.
O responsável pela mudança de posição do jovem no terreno de jogo foi o então treinador do Pescara, Massimo Oddo. Ao observar o atleta, Oddo decidiu que as características do jovem se adequavam na perfeição no centro do meio campo e foi aí que colocou o médio recém chegado à equipa principal da Serie B italiana. Desde então a atitude do uruguaio fez o resto e este foi crescendo sem parar. De tal forma que as exibições não só lhe valeram a reputação como um dos melhores médios defensivos da liga, como uma transferência, em 2015, para a Sampdoria. Tendo continuado emprestado ao Pescara, seria apenas em 2016 que Torreira faria parte do plantel dos Blucerchiati — alcunha pela qual é conhecida a Sampdoria.
Apesar da sua incontornável qualidade, o jogador não era muito conhecido, a não ser para quem é ávido seguidor da Serie A e Serie B. Tanto não era conhecido que o próprio Luiz Suárez, após amigável entre Barcelona e Sampdoria a contar para o troféu Joan Gamper 2016, confessou ter ficado muito agradado com o miúdo que jogou no meio campo da equipa italiana, sem saber, até depois do encontro, que este era seu compatriota.
Do Pescara já tinha saído um dos maiores talentos da actualidade para mesmo posição. Em 2012, tinha sido a vez de Marco Verratti dar nas vistas na equipa da Serie B. O jovem médio italiano, também ele de estatura muito baixa — para a média de um jogador de futebol — saíra diretamente para o PSG, onde permanece até hoje e joga com grande regularidade. Segundo afirmações de Roberto Dudra, olheiro responsável pela ida de Torreira para a Sampdoria, Massimo Oddo tinha a certeza que o uruguaio iria ser ainda mais impressionante que Verratti.
Um jovem veterano e ‘louco’
Aos vinte e dois anos Torreira é já um veterano. Com mais de cem jogos a titular nos principais campeonatos italianos, o jovem está a ter um impacto enorme no Arsenal de Unai Emery. O espanhol é conhecido pelo futebol de constante pressão, sempre que a sua equipa não tem a posse de bola, e Torreira encaixou que nem uma luva no sistema do treinador. A garra, determinação e a loucura — como se pode ver no vídeo em baixo pelo carrinho de cabeça, no desespero de ganhar a bola — têm levado os adeptos do Arsenal a acreditar que é possível mudar o paradigma instalado por Arsène Wenger nos últimos anos.
Escrevi aqui, no dia 21 de setembro deste ano, que com uma raça e determinação muito características do futebol do seu país, o ex-jogador da Sampdoria tinha mostrado, nos poucos minutos que lhe foram dados, que poderia ser peça fundamental na reconstrução pós-Wenger. De tal forma que no fim de semana seguinte agarrou a titularidade e desde então Emery não abdicou do jogador. As razões ficam claras após olhar para as estatísticas apresentadas abaixo. A diferença entre a presença e a ausência do médio no onze titular dos londrinos é abismal.
Desde 2008, após a saída de Gilberto Silva do Arsenal, que a posição de médio defensivo tem sido uma dor de cabeça para os Gooners — alcunha dos adeptos do clube londrino. Pode até haver razão para argumentar que a lacuna vem ainda mais de trás, desde 2005, última época de Patrick Vieira ao serviço dos Gunners — alcunha do Arsenal. Lucas parece estar a reavivar a posição, e com isso toda a equipa.
Sendo caracterizado como um híbrido entre N’Golo Kante e Marco Verratti, o futuro do jovem uruguaio parece ser bastante risonho. Tendo ganho experiência no muito complicado campeonato italiano e com a presença num campeonato do mundo (onde não nos podemos esquecer, era o motor do meio campo uruguaio que levou Portugal de vencido), Torreira tem agora a oportunidade de a colocar em prática, num dos maiores palcos possíveis, a Premier League.
Para a semana na Premier League
Esta semana é a vez da equipa dos Três Leões (selecção Inglesa) mostrar o que vale. A equipa de Gareth Southgate joga hoje, dia 12 pelas 19h45, frente à finalista do Mundial da Rússia 2018, a Croácia. O jogo tem a particularidade de ser jogado à porta-fechada, devido a um castigo aplicado pela UEFA após ser possível identificar o desenho de uma suástica no relvado, num jogo frente à Itália. De salientar que esse mesmo jogo já seria disputado à porta-fechada, devido aos cânticos racistas por parte dos adeptos croatas num jogo frente à Noruega.
Para a semana a Premier League promete voltar com um jogo que poderá, caso o resultado favoreça a equipa da casa, vir a criar muitas ondas no norte de Inglaterra. Com o Chelsea a receber o Manchester United, a nona jornada abrirá com grande estrondo.
Até lá, bons jogos internacionais.
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