De um lado, uma dupla de dois amigos separados à nascença pelas margens do Rio Douro, um nascido, na Maia, o outro, nado e criado no Porto, uma amizade nascida e alimentada nos courts de ténis. Do outro, as raquetes na mão prolongam a ligação do cordão umbilical de dois irmãos de nacionalidade grega.

A caminho do final de um dia solarengo no Stade Roland Garros, localizado no Bosque de Boulogne, próximo ao Parque dos Príncipes, Nuno Borges e Francisco Cabral, dupla olímpica portuguesa, defrontou os irmãos Petros e Stefanos Tsitsipas na primeira ronda de pares masculinos do torneio de ténis dos Jogos Olímpicos Paris2024.

Poucas horas após terem sido “enviados” para casa em singulares, Nuno Borges (número 42.º do ATP) afastado pelo argentino Mariano Navone por duplo 6-2 e Francisco Cabral (81.º, de pares), inesperadamente repescado de última hora para substituir Alex de Minaur e bater bolas com o alemão Jan-Lennard Struff, derrotado igualmente por 6-2, 6-2, entraram no court 13, sito nas costas do court Suzanne-Lenglen.

O som que soprava da estoica luta pela sobrevivência do inglês Andy Murray (o lado de Daniel Evans) que adia, pelo menos, mais um jogo da sua mais que anunciada despedida do ténis, parecia empurrar Borges e Cabral, vestidos de camisola encarnada e calções e meias brancas, para a continuidade na prova olímpica.

Depois de um 6-3 favorável ao mais conceituado par grego, Stefanos Tsitsipas (12.º ranking ATP) e Petros Tsitsipas (74.º da hierarquia em pares), a meio do segundo set, ao minuto 58, a dupla portuguesa conseguiu quebrou o serviço dos irmãos (3-5).

A vantagem foi o rastilho que “incendiou” as curtas bancadas repletas, em grande parte, por ruidosos adeptos portugueses, muito deles munidos de bandeiras e camisolas das quinas, vindos de Portugal, outros emigrantes e residentes em França.

“Embora Portugal, vamos meninos”, era o incentivo de eleição que alternava com “embora Francisco, embora Nuno, vamos Portugal”, exclamavam numa força de estímulo audível muito para lá daquele retângulo de terra batida. Barulho idêntico só o mesmo o sambódromo montado no jogo da brasileira Bia Haddad.

Completada 1 hora e 1 minuto de jogo e Nuno Borges e Francisco Cabral empatavam o set e levavam o desfecho para a “negra”.

A bancada destinada à partida de ténis transformou-se num campo de futebol. Os cânticos “Portugal”, “Portugal” invadiam o espaço a cada ponto conquistado e durante os longos segundos em que a bola amarela cessava de ser atirada de um lado para o outro.

Rui Machado, treinador nacional, encostado a um vértice do campo, não parava quieto na linguagem verbal e gestual cada vez que os seus pupilos jogavam do “seu” lado.

Borges, ria a cada ponto conquistado, Cabral, permanecia sempre mais sério. Em alternado, um e outro, de mão e bola à frente da boca comunicavam e combinavam entre si a forma dos respetivos serviços, sempre após o beneplácito vindo do olhar e voz de Rui Machado.

Na negra, no super tie-break, os gritos “Hellas” e “Portugal” anunciavam a batalha. Os tenistas portugueses saíram em vantagem no primeiro serviço, mantiveram-se à distância (9-6), tremeram, deixaram-na fugir, mas não entregaram o ouro.

O momento era a chave do jogo e Rui Machado levantou-se e gritou. “Embora lá meninos”. Os meninos, a jogar no sentido oposto onde estava o treinador, ouviram. Aos 9-9, elevaram para 10-9, foram travados (10-10) e fecharam o jogo (11-10), não sem antes Nuno Borges ter cerrado os punhos em sinal de vitória.

Um triunfo da dupla que mereceu um comentário, em português, na bancada. “Vão ganhar como fizeram no Estoril Open (2022)”.

A alegria no campo e os pedidos de assinaturas nas bolas e camisolas transbordou para as bancadas. Em especial para os dois primos de Castro de Aire, Daniel e João Pedro, estudantes de Medicina e Afonso e Almeida, dois primos, vindos de Lisboa.

O duplo par de adeptos portugueses, de idades de 18 e 25 anos, a cumprirem 10 dias de férias olímpicas (BTT e natação, além do ténis, estão nas modalidades eleitas), voltam ao ténis e a Roland Garros na 3.ª feira e acalentam o sonho de ver Rafael Nadal e Novak Djokovic.

* O jornalista/SAPO24 viajou a Roland Garros, Paris2024, a convite da Samsung Portugal