A testemunha foi ouvida na 15.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
A testemunha descreveu ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, o ambiente em que decorreu a reunião no Estádio José de Alvalade, em 14 de maio de 2018, um dia após a derrota com o Marítimo, na Madeira, por 2-1, que atirou o clube para a terceira posição do campeonato, falhando dessa forma o possível acesso à Liga dos Campeões.
“Fiquei sem perceber qual era o objetivo da reunião. Ele [Bruno de Carvalho] referia constantemente: ‘aconteça o que acontecer amanhã, quem é que está com esta direção, quem não estiver que saia da sala. Em tom intimidatório e [de] ameaça. Repetiu essa frase várias vezes a olhar nos olhos”, respondeu o fisioterapeuta, às questões da procuradora do Ministério Público.
Questionado minutos depois por Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, sobre se o tom do antigo presidente nessa reunião não era o que sempre teve, a testemunha disse que não.
“Não era o tom habitual dele. Olhou-nos nos olhos e disse: ‘Independentemente do que acontecer, vamos ver quem é que vai estar com esta direção’. Senti-me intimidado, isto foi em tom intimidatório”, reiterou Ludovico Marques.
O fisioterapeuta estava no balneário quando ouviu ameaças como ‘joguem à bola, vamos rebentar-vos a boca toda, vamos matar-vos, não ganhem, que depois vão ver’, frases ditas no exterior do edifício da ala profissional de futebol e repetidas no interior do balneário, onde entraram “talvez 30 indivíduos de cara tapada”.
O fisioterapeuta foi agredido com um objeto na cara, teve de receber tratamento hospitalar e ficou com o “olho inchado e negro” durante 15 dias.
“Sim, obviamente [ficou com receio]. Nos dias seguintes não consegui dormir, tive insónias. Nos dias seguintes não foi trabalhar. Tinha receio de ser agredido na rua, pois alguns desses indivíduos tinham sido detidos, mas não todos”, afirmou a testemunha.
Ludovico Marques contou ainda que, alguns dias após a invasão, teve um ataque de ansiedade, que o levou ao hospital.
A testemunha descreveu ainda em tribunal agressões a alguns dos jogadores levadas a cabo pelos invasores.
“Dirigiram-se logo a alguns jogadores e começaram a empurrar, aos socos, a dar pontapés, gerou-se uma confusão massiva. Quatro a cinco elementos de volta do William Carvalho, outros cercaram o Acuña, deram murros, chapadas e pontapés. Ao meu lado estava o Bruno César, que também foi empurrado. Eu fui atingido na cara, fiquei tonto e baixei a cabeça. Quando levanto a cabeça, vejo três elementos a agredir o Battaglia e um deles a mandar um garrafão de água para cima dele. Tentou defender-se e recuou para um canto”, explicou a testemunha.
Para Ludovico Marques, os elementos só tinham o “objetivo de agredir e ameaçar” e nunca tentaram parar as agressões.
“Todos eles [os invasores] estavam em movimento, uns a empurrar, outros a agredir. Não conseguíamos sair dali, pois eles entravam pela única porta disponível. Estávamos encostados às paredes e não havia forma de sair dali”, acrescentou Ludovico Marques, que também indicou terem sido lançadas duas tochas acesas, uma delas para o meio dos jogadores, no balneário.
O julgamento prossegue na tarde de hoje, com a continuação da inquirição do médio Battaglia e a audição do defesa Sebastien Coates, estes por videoconferência, a partir do Tribunal do Montijo.
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