“Em setembro de 1997 vim para a Europa, após a morte da Lady Diana”, recordou Chakall, chef argentino. Depois de ter “atravessado sozinho a América Latina, de Buenos Aires (Argentina) à Colômbia, sete mil quilómetros, de calças de ganga, sem proteções, pelos Andes, pela selva, ao calor e frio, sem gasolina”, estacionou em Portugal. Veio por um ano para “preparar uma expedição por África num Land Rover" e nunca pensou ficar, mas acabaria por “permanecer a cozinhar” 12 meses, dobrou o tempo de estadia, até ficar “24 anos”.
Nesse mesmo mês, em Palma de Maiorca, Espanha, nascia Joan Mir, piloto de MotoGP, campeão do mundo em 2020, ano marcado pela pandemia do Covid-19.
Joan Mir, 24 anos, senta-se nas motos desde os 3 anos. “O meu pai tem uma loja de skate e surf em Palma de Maiorca. Mas eu desde pequeno que queria passar o dia em cima de uma mota. A partir dos 10 anos comecei a competir e a dedicar-me. Foi um processo e não um momento”, referiu. “O meu pai compreendeu a opção. A minha mãe não foi tão favorável de início. Agora é bastante entusiasta”, reconhece.
As confidências do chef argentino de nascença, português de coração e do um piloto foram partilhadas à volta de um show cooking no Hotel Vila Vita Parc, em Armação de Pêra, organizado por um dos patrocinadores (Estrella Galicia 0,0) de Mir.
“Ando de moto desde os 9 anos, mas não tenho talento. Nem para andar de patins”
Chakall é oriundo de uma família de cozinheiros e o mais novo de seis irmãos amantes de altas velocidades. A mãe, com quem aprendeu a cozinhar, é a sua heroína.
“Tenho um irmão campeão mundial de motonáutica. Quando era pequeno fiz uma volta no barco com o qual foi campeão do mundo e fiz chichi”, sorri. “Outro foi campeão sul-americano de motocrosse. Andava colado com a cabeça no chão”, relembra em conversa com o SAPO24. “Ando de moto desde os 9 anos, mas não tenho talento. Nem para andar de patins”, assume. Catalogando-se como amante de desporto, partilhou com Joan Mir ter sido “da equipa olímpica de canoagem da Argentina até aos 17 anos, comecei a estudar jornalismo e não dava mais”.
“A cozinha portuguesa é boa quando é simples. Um bacalhau com um fio de azeite. Quando é autêntica”, explicou o cozinheiro argentino ao campeão do mundo durante o evento na véspera do Grande Prémio de Portugal de MotoGP (SPORT TV), no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), penúltima corrida do mundial de motociclismo.
Da criatividade de Chakall saíram três experiências gastronómicas a partir de uma fusão de produtos portugueses e maiorquinos. “Uma sobrasada, um enchido típico de Palma de Maiorca e pastéis de bacalhau com queijo da Serra da Estrela, coentros e pimentos”, descreveu. Seguiu-se “bacalhau cozido, queijo de Seia e outro de Mahón (região nas Baleares)” e para sobremesa “uma massa folhada, mel de Bruc de Maiorca, banana, nozes portuguesas e mais queijo da Serra da Estrela DOP”, pormenoriza.
“Nas corridas, como arroz com frango e uma tosta de presunto e tomate”
Na estreia nos fogões, Joan Mir, na culinária parece optar pela simplicidade, em especial em dia de competição. “Não tenho prato especial, gosto de “picar”. Nas corridas, como arroz com frango e uma tosta de presunto e tomate”, comunicou o piloto que vive em Andorra e soma raras incursões às Ilhas Baleares.
Sente-se mais à vontade a falar de motociclismo. “Este ano foi um pouco triste, gostava de ter ganho esta temporada, era o meu objetivo, mas não consegui, não fiquei contente com as últimas corridas”, assumiu o campeão mundial de MotoGP em 2020, elogiando o piloto a quem passou a faixa de campeão. “O Fabio (Quartararo) foi indiscutivelmente melhor. Os pontos não mentem”, esclareceu à margem do evento.
Sobre a sensação de ser campeão, é direto. “Ganhar um título, quando o consegues e vês a faixa de campeão, é uma satisfação pessoal brutal”, reconheceu. Aproveita o embalo e deixa a receita para ser campeão. “Sou obcecado com o trabalho e coloco o foco a 100 por cento”, tinha confidenciado minutos antes no diálogo com o cozinheiro responsável pelo restaurante português no Pavilhão de Portugal na Expo Dubai.
Questionado por Chakall revelou o seu melhor lado nas curvas. “Sou destro, mas o meu lado mais normal é a perna esquerda a tocar no asfalto”. Em relação ao Grande Prémio em Portimão, um dos “circuitos preferidos”, destaca a presença de 60 mil fãs nas bancadas. “Com público é muito diferente. A 300 km/h vês e sentes, mas não escutas o público”, descreveu. “Eu ganhei sem público”, sorriu.
“Existe sempre a pressão de ganhar, mas não se pode ganhar sempre. Agora é acabar rápido e da melhor maneira a temporada, ir de férias, enquanto a mota será aperfeiçoada no Japão”, disse o 3º classificado do mundial que reconhece ser difícil chegar à vice-liderança. É lapidar a falar de piloto e máquina. “São um casamento. Se um melhora, o outro também”, assegurou ao SAPO24, esperançado que ambos possam evoluir para o ano.
“Gasto mais dinheiro em baterias do que em gasolina”
Por seu lado, Chakall, contabilizou a sua paixão em forma de duas rodas. “Tenho uma Ape 50, uma Ape Calessino 400 Diesel, uma Scrambler 750, Vespa 300, edição limitada, uma mota elétrica e uma Moto Guzzi da polícia italiana”, enumerou o portefólio de nove que contempla ainda um motociclo com o qual fez um programa televisivo. “Tenho-as no meu restaurante. E na parte de trás tenho o Land Rover da viagem por África”, indicou. “Não tenho lugar onde as guardar, infelizmente não tenho tempo para andar com todas as motos e gasto mais dinheiro em baterias do que em gasolina”, disse, resignado.
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