Itajaí é uma cidade portuária situada no estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Segundo porto do país, inserida na Região Turística da Costa Verde & Mar, localizada no Vale do Itajaí, onde se encontram o Rio Itajái-Açu e o mar, saltou para as bocas do mundo desde que recebe a Volvo Ocean Race, da qual se despede hoje, tendo sido esta a terceira vez que recebeu a regata que dá a volta ao mundo.

Mas não é só a mais dura prova de circum-navegação que põe no mapa esta cidade colonizada por açorianos, um pequeno ponto lusitano rodeado de “evangelização” alemã e italiana, duas nacionalidades que marcam historicamente este estado brasileiro.

A influência alemã, a nível cultural, inunda diversas cidades vizinhas, tornando-se, em outubro, a região mais festiva do Brasil, com especial destaque para as festas alemãs, entre elas a famosa Oktoberfest de Blumenau, a segunda maior festa alemã do mundo. No entanto, desde há 31 anos que se ouvem e experimentam dois produtos típicos do “mercado da saudade” que Portugal é pródigo em mostrar ao mundo e aos que deixaram o país onde nasceram: a comida e a música.

O Festival da Marejada, festa que se realiza em outubro (este ano entre os dias 4 e 14), começou em 1987 e procurava estimular o potencial turístico de Itajaí, aproveitando-se da proximidade de Blumenau.

Batizada de “Marejada”, nome a que os pescadores dão ao sobe e desce das marés, resgata as tradições açorianas e procura manter bem vivo os costumes dos colonizadores portugueses.

A mascote Marejão (de bigode) e a Marejoa, bonecos inspirados numa sardinha, ilustram as tradições pesqueiras portuguesas. A sardinha não surge apenas como um boneco para ver. Aos olhos das mais de 200 mil pessoas que visitaram o espaço festivo na edição de 2017 esteve bem representada no prato, tendo sido consumidas mais de 9 toneladas, concorrendo com os 95 mil bolinhos de bacalhau, tudo regado por 45 mil litros e 100 mil copos de cervejas.

A maior festa do pescado do Brasil e maior festa portuguesa do outro lado do atlântico não vive somente da sardinha, do bacalhau ou dos pratos típicos do arquipélago de Açores. Tem um outro lado português.

A musicalidade lusitana, seja através de grupos de dança, seja pela voz e ritmo imposto por artistas portugueses, entra também em cena. E nesse campo há um artista que se destaca.

“É uma casa portuguesa, com certeza ... é uma casa portuguesa”. A letra da música popularizada por Roberto Leal, cantor nascido em Trás-os-Montes e de “aculturação” brasileira, está intimamente ligada à festa que decorre no Centro de Eventos Marejada e nesta cidade pesqueira, que verdade seja dita não tem grandes registos arquitetónicos lusos.

O cantor que faz a ponte cultural entre os dois países era presença garantida na Marejada nas décadas 80 e 90 do século passado. Imagem de marca de várias gerações, evaporado durante uma década, a sua voz regressou em 2010, a pedido de várias famílias.

Itajaí: uma cidade ambiental em diálogo com o mar e o rio

Aproveitando a passagem da Volvo Ocean Race, Itajaí tornou-se a primeira cidade da América do Sul a assinar o compromisso da campanha CleanSeas – campanha ambiental das Nações Unidas de luta contra os plásticos no mar.

Com um porto marítimo capaz de receber cruzeiros e cargueiros transatlânticos, a cidade apresenta alguns cartões postais dignos de visita. A visita guiada, curta e rápida, começa obrigatoriamente a partir do porto.

Mal pomos um pé em terra destaque, desde logo, para um dos mais antigos edifícios da cidade: o Mercado Público Municipal, paredes-meias com o Mercado do Peixe.

Seguindo com a Igreja Imaculada da Conceição (1824) e o Marco Histórico (onde a cidade começou) à vista, rasgando as ruas desenhadas a regra e esquadro, onde predominam hoje o comércio (roupa e eletrodomésticos), desembocamos num largo amplo e arejado em que todos os olhares apontam à Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, maior monumento artístico e cultural da cidade.

Datada de 1955, foi construída pelo arquiteto alemão, Simão Gramlich (cuja mão desenhou inúmeras igrejas catarinenses), de estilo romântico e neogótico e com interior revestido por pinturas dos artistas italianos Emilio Sessa e Aldo Locateli.

Bem perto, a Casa de Cultura Dibe Brandão e o Museu Histórico, este último alberga um acervo eclético da construção da cidade, realçando a atividade marítima, são outros dos pontos de interesse localizados no centro histórico.

No regresso ao ponto de partida, a partir do porto, a avenida Beira Rio (conhecida como Caminhos de Sodegaura devido à ligação à cidade japonesa com o mesmo nome) apresenta-se como uma “marginal” para correr, pedalar ou passear e degustar gastronomia diversa, do tradicional rodízio de carnes aos pratos de peixe. Inúmeras árvores, muitas delas, com origem japonesa e alguns animais exóticos, pulverizam a via.

Por fim, ou não fosse esta uma localidade costeira e um polo náutico, as praias são, igualmente, uma atração. A de Geremias, mais conhecida por uma exótica formação rochosa a que se deu o nome de Bico de Papagaio, ou a praia Brava, palco de inúmeros eventos de surf, são disso exemplo.

Notícia corrigida às 23h08: corrige no título Roberto Carlos para Roberto Leal