Como já era expectável, nestas Previsões Económicas da Primavera hoje divulgadas, as primeiras a terem em conta o impacto da crise provocada pela pandemia, o executivo comunitário reviu em profunda baixa as anteriores projeções de crescimento, em cerca de nove pontos percentuais, apontando que, “apesar da resposta rápida e abrangente, tanto a nível da União Europeia como nacional, a economia europeia vai experimentar uma recessão de proporções históricas este ano”.
No anterior exercício de previsões macroeconómicas, em fevereiro passado – quando o novo coronavírus ainda parecia confinado à China -, Bruxelas antecipava que a zona euro crescesse 1,2% do PIB tanto no ano em curso como no próximo.
Três meses depois, a Comissão estima uma contração no espaço da moeda única que fica muito acima do daquela verificada no auge da anterior crise financeira – quando a zona euro contraiu 4,5% em 2009 -, e até da recente previsão do Fundo Monetário Internacional (7,5%), e alerta que “os riscos em torno desta previsão são também excecionalmente grandes e concentrados no lado negativo”.
Como consequência do confinamento provocado pela pandemia da covid-19, que levou à paralisação de boa parte da economia europeia, Bruxelas estima também que a taxa de desemprego suba este ano para os 9,6% (face aos 7,5% registados em 2019), e recue apenas parcialmente para os 8,6% em 2021.
Como resultado das medidas orçamentais robustas adotadas pelos Estados-membros para apoiar a economia na atual crise, o executivo comunitário prevê, por outro lado, que o défice público na zona euro aumente de 0,6% do PIB em 2019 para 8,5% em 2020 (recuando para 3,5% em 2021), e que a dívida pública cresça dos 86% verificados em 2019 para 102,7% este ano, antes de abrandar para os 98,8% no próximo.
Espanha tem contração de 9,4% em 2020 provocada pela covid-19
A Comissão Europeia prevê uma contração “sem precedentes” de 9,4% da economia espanhola em 2020, com um impacto particularmente grande nos serviços, provocada pela aplicação de medidas de confinamento “rigorosas” em resposta ao surto da covid-19.
Nas previsões económicas de primavera divulgadas hoje, em Bruxelas, o executivo comunitário estima que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá “recuperar de uma forma muito vigorosa” quando as restrições forem levantadas, embora de “forma desigual” entre os vários setores.
A produção perdida não será totalmente retomada dentro do horizonte da previsão feita pelos serviços da Comissão Europeia, atingindo um crescimento de 7,0% do PIB em 2021.
Segundo as estimativas da Comissão Europeia, Espanha terá a segunda maior queda do PIB no corrente ano entre os Estados-membros da União Europeia, sendo apenas ultrapassada pela Grécia (menos 9,7%), enquanto a média dos 27 será de menos 7,4% e dos países da zona euro de menos 7,7%.
A atividade no setor industrial espanhol irá recuperar mais rapidamente do que no setor dos serviços, onde se prevê que as restrições se mantenham por mais tempo, afetando em particular o comércio de retalho e as atividades relacionadas com o turismo, como os transportes, a hotelaria e a restauração.
A Comissão Europeia avisa que “as perturbações nas cadeias de valor acrescentado globais e a fraca procura podem impedir uma normalização da atividade industrial antes do final do ano”.
Por outro lado, Bruxelas considera que as medidas tomadas para limitar o aumento do desemprego e o apoio dado ao setor empresarial “irá amortecer parte” do impacto da crise.
Mesmo assim, a taxa de desemprego deverá aumentar significativamente durante o corrente ano, de 14,1% em 2019 para 18,9% em 2020, e apenas uma parte deste aumento será revertida em 2021, para 17%.
No que diz respeito às contas públicas, a Comissão Europeia prevê a queda da economia tenha um impacto “profundamente negativo” no défice orçamental, que irá evoluir de 2,8% do PIB em 2019 para 10,1% em 2020 e 6,7% em 2021.
Bruxelas explica que a contração nos setores onde o Estado arrecada os impostos deverá conduzir a uma “queda significativa” das receitas, enquanto o aumento do desemprego e a utilização esquemas de ajuda ao emprego deverão resultar em grandes aumentos das transferências sociais.
Devido ao elevado défice orçamental e à grande contração do PIB, o rácio da dívida pública em relação ao PIB deverá aumentar cerca de 20 pontos percentuais, de 95,5% em 2019 para 115,6% em 2020, antes de descer para 113,7% em 2021.
Espanha é um dos países mais atingidos pela pandemia da covid-19 que, a nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, já provocou mais de 254 mil mortos e infetou quase 3,6 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Alemanha com queda de 6,5% no PIB este ano e recuperação em 2021
A Alemanha vai ter uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% este ano, devido ao impacto da pandemia sobretudo na indústria automóvel, com o país a conseguir recuperar só em 2021, divulgou hoje a Comissão Europeia.
De acordo com as previsões económicas da primavera do executivo comunitário, as primeiras projeções sobre o potencial impacto da pandemia da covid-19 na economia europeia, vai registar-se uma contração de 6,5% do PIB na Alemanha em 2020, que ainda assim fica abaixo da média da zona euro (7,7%) e do conjunto da União Europeia (7,4%).
Nas anteriores previsões económicas, as intercalares de inverno publicadas em fevereiro passado, Bruxelas esperava que a economia alemã crescesse 1,1% em 2020 e 2021.
No documento hoje divulgado, a Comissão Europeia aponta que, “no início de 2020, a indústria transformadora alemã tinha dado sinais de recuperação, mas a pandemia de covid-19 e as medidas de confinamento [adotadas] em março puseram termo a esta situação”.
À semelhança de muitos outros países europeus, a economia alemã enfrenta agora “a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial”, acrescenta o executivo comunitário.
Com a indústria automóvel a pesar significativamente no PIB alemão, a manufatura no país “não está sujeita a restrições, mas grandes fábricas foram encerradas devido ao desaparecimento da procura e à perturbação de cadeias de abastecimento em resultado da expansão global da covid-19”, justifica a Comissão Europeia.
De acordo com Bruxelas, é agora esperado que “a atividade recupere no segundo semestre do ano e posteriormente, mas que se mantenha abaixo de normal durante algum tempo, devido a limitações persistentes na vida social e nas viagens e ao comércio externo prejudicado”.
Assim, a recuperação só deverá chegar em 2021, ano para o qual o executivo comunitário espera agora um crescimento do PIB na ordem dos 5,9%.
Também relativamente às exportações, Bruxelas projeta um “grande declínio antes da recuperação dos mercados estrangeiros”, com uma queda de 12,1% este ano e uma subida de 10,3% em 2021 que demonstra que a procura por veículos e bens de investimento, que lideram as exportações alemãs, deverá permanecer fraca e restringir o apetite dos investidores na Alemanha.
Relativamente ao desemprego, outro dos indicadores considerados, deverá crescer 4% este ano e 3,5% em 2021.
A Alemanha teve um aumento de 947 novos casos diagnosticados da covid-19 nas últimas 24 horas, para um total de 164.807 e anuncia hoje um novo pacote de medidas que visam o regresso à normalidade.
Reino Unido com contração de 8,3% este ano e “consequências duradouras”
O Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido vai “diminuir acentuadamente”, em 8,3%, este ano devido à covid-19, estimou hoje a Comissão Europeia, alertando para as “consequências duradouras”, que são pioradas pelas incertas relações entre Londres e Bruxelas.
De acordo com as previsões económicas da primavera do executivo comunitário, as primeiras projeções sobre o potencial impacto da pandemia da covid-19 na economia europeia e que também consideram o Reino Unido, apesar de já não fazer parte da União Europeia (UE) desde fevereiro passado, o PIB britânico vai cair 8,3% em 2020, acima da queda na zona euro (7,7%) e no conjunto dos 27 Estados-membros (7,4%).
“Prevê-se que o PIB do Reino Unido diminua acentuadamente no primeiro semestre de 2020, sobretudo devido às medidas de contenção que o Governo britânico implementou para combater a propagação da covid-19, antes de se recuperar para 2021”, refere o executivo comunitário no documento hoje divulgado.
Assim, para 2021, é projetada uma subida no PIB do Reino Unido na ordem dos 6%.
Nas anteriores previsões económicas, as intercalares de inverno publicadas em fevereiro passado, Bruxelas esperava um crescimento da economia britânica em 1,2% este ano e em 2021.
Nestas previsões económicas hoje publicadas, Bruxelas alerta também que o consumo privado deverá “diminuir acentuadamente, antes de recuperar novamente, enquanto o investimento deverá demorar mais tempo a recuperar, devido tanto às consequências duradouras da covid-19 como à incerteza contínua sobre as futuras relações comerciais do Reino Unido com a UE”, isto numa altura em que Londres e Bruxelas tentam acordar a sua parceria, ainda sem qualquer ‘fumo branco’.
Já relativamente ao desemprego, outro dos indicadores considerados, a Comissão Europeia aponta para “um pico em 2020, antes de diminuir em 2021”, ao atingir 6,7% este ano e 6% no próximo.
Bruxelas estima "recessão profunda" em Itália com PIB a cair 9,5% este ano
A Comissão Europeia espera que Itália entre numa “recessão profunda” este ano, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair até aos 9,5% devido ao impacto da pandemia de covid-19, segundo as previsões de primavera hoje divulgadas.
Nas anteriores previsões apresentadas em 13 de fevereiro (inverno), a comissão europeia previa o crescimento da economia de Itália para 0,3% em 2020.
Bruxelas espera uma “recuperação técnica” no segundo semestre de 2020, apoiada pelas medidas de desconfinamento e reabertura da economia.
“As medidas de confinamento representaram uma rutura abrupta no consumo privado, mas o consumo das famílias deverá recuperar no segundo semestre de 2020”, sinaliza.
Para 2021, a Comissão Europeia espera que a economia italiana recupere e o PIB consiga atingir um crescimento de 6,5%.
Para a taxa de inflação de Itália, Bruxelas espera uma queda de 0,3% dos preços em 2020, devido à descida dos preços da energia e ao choque da queda da procura interna e posterior recuperação para os 0,7% em 2021.
A taxa de desemprego deverá subir até aos 11,8% em 2020 (dos 10,0% em 2019) e baixar para os 10,7% em 2021.
Economia irlandesa contrai-se 7,9% este ano e cresce 6,1% em 2021
A economia irlandesa deverá contrair-se 7,9% este ano e voltar a crescer, 6,1%, em 2021, com os riscos macroeconómicos negativos a manterem-se excecionalmente elevados, segundo as previsões de primavera da Comissão Europeia hoje divulgadas.
Depois de anos de forte crescimento, a economia irlandesa deverá contrair-se no segundo trimestre deste ano, com um ambiente externo fortemente enfraquecido e as medidas de confinamento a atingirem negativamente o investimento, o consumo privado e o comércio externo, refere a Comissão Europeia (CE).
A despesa pública deverá expandir-se fortemente para mitigar estes efeitos e contribuir para um défice governamental significativo, adianta a CE no documento.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Irlanda cresceu 5,5% em 2019, sustentado em parte pela atividade das multinacionais e pelo crescimento da procura interna, que aumentou 3%, bem como pelas exportações, mas a pandemia no início deste ano alterou dramaticamente a situação, indica a CE.
Depois de se cifrar em 5% em 2019 e 7,4% este ano, a taxa de desemprego na Irlanda deverá cair para 7% em 2021, indicam as previsões da comissão.
A taxa de inflação deverá cair para -0,3% este ano, afirma Bruxelas, precisando que deve subir em 2021 para o nível moderado de 0,9%, também registado em 2019.
O défice orçamental deverá cair de 5,6% do PIB este ano para 2,9% em 2021. Em 2019, a Irlanda apresentou um excedente orçamental de 0,4% do PIB.
A dívida pública da Irlanda deverá ser 66,4% do PIB este ano e subir ligeiramente para 66,7% em 2021, depois de ter sido de 58,8% do PIB em 2019.
Economia grega contrai-se 9,7% este ano e cresce 7,9% em 2021
A economia grega deve contrair-se 9,7% este ano, severamente atingida pela pandemia e pelas medidas adotadas para a travar, mas voltar a crescer, 7,9%, em 2021, segundo as previsões da Comissão Europeia (CE) hoje divulgadas em Bruxelas.
No documento das previsões de primavera, Bruxelas estima que o impacto da crise seja "grande" devido à importância do setor turístico na Grécia e à elevada contribuição de microempresas, que são particularmente vulneráveis.
Apesar da rápida resposta política, prevê-se que a forte contração do Produto Interno Bruto (PIB) tenha um impacto sobre o emprego", afirma a CE, estimando, no entanto, que a crise seja seguida por uma recuperação em 2021.
A recessão e o custo das medidas orçamentais para enfrentar a crise levarão a um défice considerável em 2020, afirma ainda Bruxelas.
O PIB da Grécia aumentou 1,9% em 2019, depois de ter começado a crescer em 2017 após anos de recessão.
Depois de se ter cifrado em 17,3% em 2019, a taxa de desemprego na Grécia deverá subir para 19,9% em 2020 e voltar a cair para 16,8% em 2021, indicam as previsões da Comissão.
A taxa de inflação deverá baixar de 0,5% em 2019 para -0,6% em 2020, passando para 0,5% em 2021.
Depois de um excedente orçamental de 1,5% em 2019, o quarto consecutivo, Bruxelas afirma que Atenas deverá entrar em terreno negativo e apresentar um défice de -6,4% do PIB em 2020 e outro mais baixo de -2,1% do PIB em 2021.
A dívida pública da Grécia deverá subir de 176,6% do PIB em 2019 para 196,4% este ano e voltar a cair para 182,6% do PIB em 2021.
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