A assembleia-geral extraordinária, que decorre exclusivamente por meios telemáticos, tem por objetivo a eleição do Conselho de Administração Executivo (CAE) para 2021-2023, tendo o atual mandato (2018-2020) terminado em 31 de dezembro passado.

Ainda assim, antecipa o calendário habitual de eleição da nova gestão, pondo fim à presidência provisória de Stilwell de Andrade, que dura desde julho, na sequência da suspensão de funções de António Mexia, determinada pelo tribunal.

Segundo a proposta apresentada pelos acionistas China Three Gorges (CTG), Oppidum Capital, Senfora, Sonatrach e o Fundo de Pensões do BCP, o novo CAE será composto por Miguel Stilwell de Andrade (presidente), Miguel Setas, Rui Teixeira, Vera Pereira e Ana Paula Marques, que era administradora da NOS, cargo a que renunciou em dezembro, sendo este órgão reduzido de nove para cinco membros.

Além de António Mexia, com funções suspensas desde julho, na sequência do processo das rendas excessivas, deixa a comissão executiva João Manso Neto, que era presidente executivo da EDP Renováveis, e é arguido no mesmo processo.

Saem ainda João Marques da Cruz, António Martins da Costa e Maria Teresa Pereira.

Os acionistas da elétrica vão ainda votar a prorrogação transitória da política da remuneração do CAE e a aplicação aos seus membros.

Em 30 de novembro, António Mexia e Manso Neto, ambos suspensos de funções, manifestaram-se indisponíveis para voltar a integrar os órgãos sociais do grupo num novo mandato.

Os dois gestores foram suspensos das funções pelo juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal, Carlos Alexandre, por serem suspeitos, em coautoria, da prática de quatro crimes de corrupção ativa e de um crime de participação económica em negócio, tendo sido constituídos arguidos há cerca de três anos.

Acionistas da empresa, também em 30 de novembro, representados no Conselho Geral de Supervisão, pediram ao presidente interino, Miguel Stilwell de Andrade, uma proposta relativa à composição do CAE para o próximo mandato.

Numa carta dirigida ao presidente do Conselho Geral e de Supervisão, Luís Amado, e ao presidente da mesa da assembleia-geral, Luís Palha da Silva, a que a Lusa teve acesso, António Mexia considerou que a decisão de deixar a liderança da empresa foi a "mais difícil" da vida profissional, sobretudo por resultar de "um contexto de incompreensível injustiça".

António Mexia liderou expansão internacional e tornou empresa mais verde

Nos 14 anos na liderança da EDP, António Mexia expandiu a empresa a quase duas dezenas de países, sendo mais de metade do resultado gerado fora de Portugal, e colocou-a na linha da frente do investimento em renováveis.

Numa análise aos principais indicadores, percebe-se que há uma EDP antes e depois da chegada de Mexia: em 2006, ano em que o gestor assumiu os comandos da elétrica e também o ano da criação do mercado liberalizado da eletricidade, a empresa operava em Portugal, Espanha e no Brasil, enquanto no final de 2019 tinha presença em 19 geografias e mais de 65% do resultado operacional bruto recorrente era gerado fora de Portugal.

Foi durante a presidência do gestor que a EDP passou de empresa pública a privada, tendo Mexia sido mantido no cargo pelos acionistas privados, liderados pela China Three Gorges (CTG).

Relativamente à capacidade instalada, de 2006 até ao final de 2019, a EDP passou de 13,6 megawatts (MW), para 27,6 MW, dos quais 20 gigawatts (GW) são em renováveis, e, desde a chegada de Mexia até setembro de 2020, a percentagem de produção renovável no ‘mix’ energético passou de 37% para 74%, isto é, três quartos da eletricidade produzida é a partir de fontes limpas.

Já no que diz respeito aos indicadores financeiros, segundo os relatórios e contas da empresa, em 2006 o resultado líquido recorrente (ou seja, expurgado de fatores extraordinários) foi de 663 milhões de euros, enquanto no final de 2019 foi de 854 milhões, depois de ter batido os 1.000 milhões de euros.

Por seu turno, o resultado operacional bruto passou de 2.305,4 milhões de euros para 3.706 milhões, no mesmo período de tempo.

Mas foi na área das energias renováveis em que se notou a maior transformação da empresa, com a criação da EDP Renováveis (EDPR) em 2007, subsidiária que liderou a expansão internacional do grupo, com os EUA em destaque.

No ano seguinte ao da sua fundação, a EDPR entrava em operação no seu quinto mercado, estando atualmente representada em 14 (o grupo EDP está em 19).

De 2006 até 2020, a EDP passou de ter 60 parques eólicos no mundo, para 255 e, em Portugal, aquele valor aumentou de 20 para 54.

As práticas ambientais da empresa também sofreram alterações: em 2006 os investimentos ambientais totalizavam 163 milhões de euros, aumentando para 364 milhões no final de 2019.

Assim, a empresa passou de evitar a emissão de 9.676 quilotoneladas de dióxido de carbono (ktCO2) em 2006, para evitar 24.725 ktCO2 no final de 2019 e os índices de sustentabilidade com a participação da EDP passaram de 1 para 14, no mesmo período.

Nos últimos 14 anos, a empresa sofreu, no entanto, uma redução do número de trabalhadores, que passaram de 13.575 para 12.181 no final de 2020.

A empresa tinha em 2006 23,2 mil clientes, ao passo que no final de 2020 eram 4,052 milhões, sendo a maioria da EDP Comercial, líder de mercado no fornecimento de eletricidade em mercado livre.

Os acionistas da EDP reúnem-se hoje em assembleia-geral extraordinária para eleger Miguel Stilwell de Andrade presidente executivo para os próximos três anos, que já tinha assumido a presidência provisória em julho, na sequência da suspensão de funções de António Mexia, determinada pelo tribunal, na sequência do processo das rendas excessivas.