O estudo realizado pelos investigadores Maria do Castelo Gouveia, Carla Henriques e Pedro Costa, foi publicado na Omega - The International Journal of Management Science, uma revista científica de gestão.

A Coimbra Business School refere em comunicado enviado à agência Lusa que o estudo conclui que, no universo estudado de 31 regiões de 16 países da UE, se verifica o "paradoxo europeu": "São as empresas das regiões mais desenvolvidas que mais cedo, e de forma mais eficiente, aplicam as verbas europeias, invertendo o objetivo das políticas de coesão - a convergência das regiões mais pobres para o nível de riqueza das regiões mais desenvolvidas".

"O objetivo da política europeia de coesão é diminuir assimetrias entre países e regiões menos desenvolvidas, mas não é isso que está a acontecer", afirma Carla Henriques, uma das autoras do estudo.

Acrescenta que "os resultados mostram com clareza que os países mais ricos são os que aplicam de forma mais eficiente as verbas europeias".

"No caso de Portugal, a eficiência do seu tecido empresarial a aplicar fundos estruturais deixa a desejar quando comparada com a das empresas de outros países da UE", segundo a nota.

Pedro Costa, presidente da Coimbra Business School e um dos autores do estudo, afirma, citado no comunicado, que "as empresas portuguesas têm um problema claro de execução dos projetos financiados pelos fundos estruturais".

"Portugal, à semelhança de outros países europeus, precisa de melhorar em dois planos: desde logo, ao nível das empresas, que não são expeditas nos processos de candidatura, nem ágeis na execução de investimentos financiados a 50%, a 70% ou a 85% a fundo perdido; por outro lado, a carga burocrática e os encargos administrativos impostos pelas autoridades gestoras emperram, em vez de estimular, o investimento para tornar os bens e os serviços produzidos em Portugal mais competitivos no mercado global", defende.

Segundo o responsável, é por estas razões que Portugal tem sempre baixas taxas de execução em todos os quadros de verbas europeias, desde os "velhinhos" Quadros Comunitários de Apoio, passando pelo QREN, até ao Portugal 2020 (em curso).

"Já este ano, em fevereiro, o Governo assumiu que, no último ano do Portugal 2020 - que compreende o período 2014-2020 - ainda só tinham sido executadas 45% das verbas disponibilizadas pela União Europeia", afirma Pedro Costa.

Entre as empresas das regiões analisadas, as dos Açores foram as únicas a conseguirem atingir a classificação "eficiente", devido ao emprego gerado e à taxa de execução dos projetos, segundo a fonte.

"Esta região já aplicou grande parte das verbas dos fundos comunitários destinados às PME, sendo no território português as empresas com o melhor desempenho", afirma Maria do Castelo Gouveia, outra autora do estudo.

No sentido oposto, as PME das restantes regiões nacionais analisadas (Centro, Norte, Alentejo, Algarve e Madeira) tiveram um parecer negativo e foram declaradas "ineficientes". Relativamente ao número de ‘startups' apoiadas, a região Centro é a mais representada, com 680, seguindo-se Açores (271), Norte (252), Algarve (148), Alentejo (126) e, por fim, Madeira (32).

Empresas que melhor usavam verbas europeias eram do Reino Unido

Os três investigadores da Coimbra Business School concluíram que as empresas do Reino Unido se destacavam na implementação de apoios europeus em programas nacionais e regionais, quando Portugal se posicionava "a meio da tabela".

Os investigadores, que fizeram uma análise comparativa entre programas de 16 países da União Europeia (UE), através da ferramenta DEA - Data Envelopment Analysis, concluíram que, na amostra estudada, apenas seis países "são eficientes" a executar os fundos estruturais em Pequenas e Médias Empresas (PME).

Segundo a Coimbra Business School, "o Reino Unido - que no período investigado ainda integrava a União Europeia - lidera a lista deste estudo na implementação de apoios europeus em programas nacionais e regionais".

"Com o Brexit, a UE deixou de ter como referência o Estado-membro que melhor fazia a gestão dos fundos", afirma Maria do Castelo Gouveia, matemática, uma das autoras do estudo.

A fonte adianta que Áustria, Espanha, Finlândia e Estónia são os países que se seguem no ranking e que Portugal "fica a meio da tabela, em 7.º lugar".

A Letónia, República Checa, Eslovénia, Itália e Polónia ocupam, por esta ordem descendente, as últimas posições.

"Os países e regiões foram analisados segundo cinco indicadores: a percentagem de cofinanciamento da UE no financiamento total; o número de ‘startups' suportadas; o número de PME financiadas; o aumento direto do emprego nas empresas apoiadas e a relação entre gasto/custo elegível de cada projeto", esclarece a nota.

O documento sublinha ainda que, "para serem mais eficientes, as empresas portuguesas teriam de gerar mais postos de trabalho".

"Não se verificou um aumento direto do emprego nas empresas portuguesas apoiadas na mesma proporção registada noutros países europeus", afirma Carla Henriques, também autora do estudo.

Os resultados demonstram que, em Portugal, "o número de empregos criado pelas PME que obtiveram financiamento europeu é inferior a um terço da média europeia".

Por outro lado, "o número de ‘startups' que foram apoiadas ficou aquém dos objetivos.

"Como o crescimento económico é impulsionado por empresas emergentes, e as ‘startups' são um verdadeiro motor para regiões menos desenvolvidas contribuindo para a redução de disparidades, o número insuficiente de empresas apoiadas acaba por se refletir, quer nas dificuldades de desenvolvimento das regiões mais pobres, quer no baixo crescimento económico do país", sublinha Carla Henriques.

Apesar do mau desempenho verificado, os investigadores indicam que Portugal "está relativamente próximo de apanhar o comboio da eficiência, podendo passar a acompanhar os países que integram a metade mais eficiente da tabela".

"Ao analisarmos a performance portuguesa, verificámos que as empresas precisam de reforçar os seus capitais próprios e outras fontes de financiamento no mercado para terem mais condições para se candidatarem a verbas europeias e, sobretudo, para as executarem de forma eficiente e produtiva ", considera Pedro Costa, presidente da Coimbra Business School e um dos autores do estudo.