Um tal fundo, com um montante “por determinar”, seria financiado pelos Estados-membros ou por um imposto próprio e teria uma duração temporal, de entre cinco e 10 anos, explicou, numa conferência de imprensa com ‘media’ internacionais em Paris.

A proposta, como tinha explicado numa entrevista ao Financial Times publicada na quarta-feira, permite ultrapassar as objeções de alguns países aos chamados ‘coronabonds’, a emissão de dívida europeia.

“Não devemos estar obcecados com a palavra ‘coronabonds’ ou ‘eurobonds’. Devemos estar obcecados com a necessidade de ter um instrumento muito poderoso que nos permita recuperar economicamente após a crise”, disse ao jornal.

Um fundo “com uma duração limitada e com a possibilidade de ter dívida comum, mas apenas nesse fundo, que pode ser mais aceitável para outros países”.

Esse fundo, explicou hoje na conferência de imprensa, seria “financiado ou por contribuições voluntárias dos Estados, ou por um imposto específico”.

Le Maire sublinhou que os 19 países membros da zona euro devem “mostrar solidariedade” e “ir mais longe” nas medidas para fazer face a uma crise económica, provocada pela pandemia, cujas consequências serão “violentas, globais e longas”.

“Nada seria pior para a Europa que ter uma resposta à crise partilhada por uns e rejeitada por outros”, disse, aludindo à recente divisão entre a Alemanha e Holanda, por um lado, e Itália, Espanha e Portugal, por outro.

“Se queremos ser eficazes, precisamos claramente de uma forte coordenação”, disse, acrescentando esperar conseguir “um consenso” até à próxima reunião do Eurogrupo, prevista para terça-feira.

O ministro francês recordou três propostas que estão na mesa dos ministros das Finanças da zona euro.

“A utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) sem condições excessivas e sem singularizar um ou outro Estado”, a “utilização de novas facilidades de empréstimo pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e a ideia de um sistema de seguro de subsídios de desemprego comum”.

Na semana passada, na reunião extraordinária dos líderes dos 27 consagrada às medidas para fazer face à pandemia, nove países, entre os quais Portugal, França, Espanha e Itália, pediram ao Conselho Europeu que aprovasse a emissão de títulos de dívida comum.

A proposta foi recusada por quatro Estados-membros, entre os quais a Alemanha, que é contra qualquer mutualização, mas se diz “preparada” para “mostrar solidariedade”.

Bruno Le Maire considerou por outro lado um “sinal muito positivo”, mas insuficiente, a proposta do primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, de criar um “fundo coronavírus” europeu para ajudar a financiar as despesas nos países onde os sistemas de saúde foram mais afetados, caso de Itália e de Espanha, por exemplo.

“É uma boa notícia toda a gente na Europa estar ciente da necessidade de demonstrar uma solidariedade forte e clara entre os Estados-membros”, disse o ministro francês.

A Europa é atualmente o epicentro da pandemia do novo coronavírus, que provoca a covid-19, com, segundo números de hoje, mais de 508 mil casos de infeção e 34.500 mortos.

Os países europeus mais afetados são Itália, com 110.574 casos e 13.155, Espanha, com 110.238 casos e 10.003 mortes, e França, com 56.989 casos e 4.032 mortes.

Em Portugal registavam-se, também hoje, 9.034 casos e 209 mortes.