Na entrevista a Vítor Gonçalves, o ministro da Economia avançou com uma estimativa do número de trabalhadores em lay-off, com base no número atualizado de empresas que já aderiram ao regime excecional de proteção dos postos de trabalho.
"Ontem [terça-feira] eram cerca de 70 mil as empresas com requerimentos para aderirem ao lay-off; essas empresas têm nos seus quadros de pessoal quase um milhão de trabalhadores”, revelou.
Um milhão de trabalhadores é um número que está em linha com as estimativas do ministro quando aprovou o sistema de lay-off simplificado, admitiu Siza Vieira na entrevista à RTP.
E "isso é bom", disse depois. "Porque a alternativa era termos 500 mil no desemprego", justificou.
De acordo com Siza Vieira, estes números contrariam a previsão do FMI, que estima que Portugal perca 380 mil empregos com esta crise.
"O FMI quando faz a sua estimativa do desemprego não está a contar com o nosso mecanismo de lay-off. Eles pensam que a crise vai afetar um grande número de empresas que vão ficar com menos receitas e vão despedir. Mas como temos este balão de oxigénio para proteger o emprego, que é o lay-off simplificado, se tivermos uma boa saída da crise, provavelmente estes trabalhadores irão manter os postos de trabalho".
Porém, admite, ainda assim "o desemprego vai crescer", mas não atingindo os valores estimados pelo FMI. "Vou trabalhar todos os dias para criar as condições para que os números não atinjam esse valor", prometeu.
Levantamento de restrições e recuperação
Na entrevista à RTP, o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital apontou para "o segundo semestre do ano o processo de recuperação económica" e desvalorizou a aplicação de medidas de austeridade semelhantes às da crise de 2008.
"A forma de contrariar as previsões mais pessimistas vai depender da nossa capacidade de voltar ao trabalho" e isso, garantiu Siza Vieira, vai "implicar uma mudança de comportamentos".
“Precisamos de ser disciplinados na forma como nos vamos comportar. Não podemos pensar que vamos chegar ao verão com uma vida social, económica e laboral e como tínhamos no ano passado. Temos de ter uma nova organização dos espaços de trabalho, maior exigência de condições de higiene nos locais de trabalho, de consumo e nos transportes”, disse.
"Depois da disciplina do confinamento vamos ter de ser auto-disciplinados fora de casa" com "melhores condições de segurança sanitária", sublinhou.
Mas o momento agora, disse, não é de "abrir, mas de consolidadar os ganhos tidos no confinamento": "Há que criar condições para que quando voltemos estejamos protegidos".
Condições que implicam "aumentar a capacidade de resposta do Sistema Nacional de Saúde" e "ganhar capacidade de produção em Portugal de material de proteção individual".
Sem adiantar uma data, Siza Vieira atirou para maio um cenário de levantamento das medidas restritivas de contenção à Covid-19. Isto se, acrescentou, os números da epidemia derem "conforto" e "segurança".
Em resposta às críticas da Confederação Empresarial Portuguesa (CIP), que apontou esta quarta-feira para o facto das empresas ainda não terem recebido os apoios prometidos pelo Estado, o ministro da economia admitiu que em alguns casos o dinheiro ainda não chegou "à caixa das empresas”.
"Na linha de 400 milhões de euros já chegou dinheiro às empresas", defendeu. O mesmo em relação à linha de 60 milhões de euros para apoiar as tesourarias do setor turístico. Porém, nas novas linhas, autorizadas pela Comissão Europeia a 4 de abril, "tanto quanto sei ainda não chegou dinheiro às empresas”, disse. "Haverá já 430 milhões contratados, mas ainda não entregues" admitiu Pedro Siza Vieira.
O ministro assegurou ainda que “os bancos estão a aprovar em dois ou três dias" os pedidos de financiamento com garantias públicas e que os processos estão a ser agilizados".
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