Se está a pagar um empréstimo por ter contraído crédito à habitação, os próximos meses podem vir a ser duros — e tudo se deve às alterações nas taxas Euribor. Se em dezembro de 2021 estavam em mínimos históricos, agora as taxas subiram a três, a seis e a 12 meses respetivamente para novos máximos desde junho de 2020, dezembro de 2015 e setembro de 2014.
A taxa Euribor é fixada pela média das taxas às quais um conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário. É, no fundo, o valor que os bancos dão ao dinheiro que lhe emprestam, o que significa um aumento ou diminuição das taxas de juro.
Para contrariar a subida da inflação na zona euro, o Banco Central Europeu tem vindo a endurecer a sua política monetária, o que se traduz em maior pressão sobre o sistema bancário — e o que, por sua vez, tem levado à subida das taxas Euribor e ao aumento das taxas de juro.
O que é que isto significa para quem está a pagar um empréstimo? Depende, se pediu um crédito com taxa fixa ou com taxa variável:
- Se o seu crédito à habitação foi contraído com um taxa fixa, deverá continuar a pagar o mesmo — a questão é que esta é a opção menos popular porque significa frequentemente pagar prestações mais altas com a vantagem da previsibilidade;
- Se o seu crédito à habitação foi contraído com um taxa variável, esta tem este nome porque é indexada à Euribor. Pode ser indexada a três meses (ou seja, a prestação é revista de três em três meses), a seis (idem) e a 12 (no fundo, é revista uma vez por ano). O que isto significa é que, se a Euribor sobe, a taxa de juro também. Por outras palavras, se a Euribor sobe, a prestação mensal agrava-se. Este é o cenário que, de acordo com o Banco de Portugal, cobre 93% dos créditos à habitação no país.
As taxas de juro estão a -0,338% a três meses, a -0,045% a seis e a 0,39% a 12, mas dada a tendência de subida, os cálculos pedidos à Deco Proteste pelo Expresso e pela Rádio Renascença, prevê-se que as taxas Euribor atinjam valores positivos até ao próximo ano.
“É importante que quem tem um crédito à habitação com taxa de juro variável se prepare para valores da Euribor entre 1% e 2% e para o consequente agravamento das prestações mensais ao banco”, conta Nuno Rico, economista da Deco Proteste, ao Expresso. Nos cenários mais conservadores, se a taxa de juro ficar entre 1% e 1,5%, tal significará pagar mais 100 euros por mês.
De acordo com os dados prestados ao Expresso, uma família com um empréstimo de 150 mil euros, pago a 30 anos, com um spread negociado de 1% e cuja prestação tenha sido revista em janeiro, vai pagar mais €160 por mês até julho do próximo ano (altura em que a Euribor a seis meses deverá rondar 1,67%). E, num cenário em que a Euribor a seis meses atinja 2%, o aumento na prestação chega aos €187.
Para quem tenha pedido empréstimos maiores — por exemplo, de 250 mil euros — e lide com um spread de 1,5%, o aumento na prestação que tenha sido revista em janeiro chega aos €278 em julho do próximo ano, atingindo €324 se a Euribor chegar aos 2%.
Já nas simulações divulgadas à Rádio Renascença, quem paga 100 mil euros a 30 anos com Euribor a seis meses e spread de 1%, a prestação média atual com Euribor a -0,144% é de 315,07 euros, subindo para 369,62 euros com a Euribor a 1% (mais 54,55 euros) e para 421,60 euros com a Euribor a 2% (mais 106,53 euros).
Dadas estas previsões, Nuno Rico aconselha as famílias portuguesas a agir já, dirigindo-se aos seus bancos para simular o impacto da subida dos juros e avaliar alternativas: uma renegociação do crédito, o aumento do período de pagamento ou a alteração do tipo de taxa.
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