"É importante que o Governo tenha estudado e preparado cenários concretos de reestruturação da dívida pública ao setor oficial que possam ser utilizados como base de discussão em potenciais futuras negociações multilaterais no contexto europeu sobre o endividamento excessivo", frisa o texto, que será hoje apresentado no parlamento e a que a agência Lusa teve acesso.
O Governo, aponta o texto, de 80 páginas, poderá contribuir para esse processo de negociação "com propostas construtivas que possam ser utilizadas não só no caso de Portugal, mas também com outros" Estados-membros da União Europeia.
Mais, o relatório define também como importante que o Governo "disponha de análises que lhe permitam avaliar qual o nível de reestruturação de dívida que seria importante defender no contexto dessas negociações" europeias, "para que esta reestruturação de dívida possa ter o impacto necessário de forma a alterar de forma permanente a dinâmica (e a sustentabilidade) da dívida pública e da dívida externa portuguesas".
No caso português, é referido que deve haver um "acordo em relação às metas de longo prazo do saldo primário" que sejam "simultaneamente compatíveis" com os compromissos futuros com os credores "e com o desenvolvimento económico e social do país".
O PS e o Bloco de Esquerda (BE) apresentam hoje no parlamento as conclusões do relatório do grupo de trabalho sobre a sustentabilidade da dívida externa portuguesa, mas o Governo não se vinculará ao documento.
O peso da dívida externa, é referido no trabalho - que não vincula o Governo, embora este tenha estado representado no Grupo de Trabalho - "restringe o crescimento económico do país e as suas escolhas democráticas" e a "manutenção de elevados níveis de dívida externa e pública é ela própria um constrangimento à retoma da economia portuguesa na atualidade".
Tal deve-se, referem os deputados e economistas que assinam o texto, porque os referidos níveis de dívida "conduzem a uma permanente saída de recursos do país, em particular sob a forma de juros pagos ao exterior", e resultam também em "custos mais elevados de financiamento da economia portuguesa, agravando ainda mais as dificuldades do presente".
"Reduzir a dívida externa de forma sustentada deve, pois, ser assumido como um objetivo central de política económica, a par do crescimento económico e da criação de emprego", é pedido no texto.
O período entre o ano presente e 2020 afigura-se, dizem os signatários, como "mais exigente" para Portugal no que refere à gestão da sua dívida: "Existe ainda a necessidade de estabilizar o sistema financeiro e resolver o problema do crédito mal parado nos ativos dos bancos", começam por assinalar os responsáveis pelo relatório.
Depois, é lembrado que os encargos líquidos com parcerias público-privadas terão atingido o "valor de 0,9% do PIB em 2016 e reduzem-se para 0,5% em 2020, caso não sejam celebrados novos contratos".
"O peso dos juros da dívida é também máximo em 2016 e deverá começar, aos poucos, a aliviar apenas com a dinâmica do crescimento do produto e da redução do défice orçamental", é escrito, antes de ser referido que, "no curto prazo", são necessárias "medidas de consolidação orçamental, mas que não sejam de austeridade sobre os cidadãos e agentes económicos nacionais".
São também necessárias medidas de política económica e orçamental nacionais que permitam contribuir para a sustentabilidade da dívida pública, "nomeadamente que se traduzam na redução dos seus juros excessivos" e, no contexto multilateral europeu, Portugal e o seu Governo deve "pugnar por um reforço da política alargada de compra de ativos (PSPP) pelo Banco Central Europeu e por uma "reestruturação da dívida pública de países altamente endividados".
O PS e o BE apresentam hoje no parlamento as conclusões do relatório do Grupo de Trabalho sobre a sustentabilidade da dívida externa portuguesa, mas o Governo não se vinculará ao documento, apesar de o secretário de Estado do Orçamento, João Leão, ter integrado o grupo.
O grupo de trabalho foi criado no âmbito do acordo para a viabilização do Governo minoritário socialista, em novembro de 2015.
Francisco Louçã, antigo líder do BE, os deputados do PS João Galamba e Paulo Trigo Pereira, o líder da bancada parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, e os economistas Ricardo Cabral e Ricardo Paes Mamede são alguns dos integrantes do Grupo de Trabalho e signatários do relatório agora conhecido.
Comunistas e bloquistas têm defendido a necessidade de uma renegociação da dívida pública, mas o executivo tem remetido esta questão para o foro europeu.
A dívida pública aumentou em fevereiro para 243.490 milhões de euros, mais 643 milhões de euros face a janeiro e mais 11.956 milhões face ao mesmo mês do ano passado, divulgou hoje o Banco de Portugal (BdP).
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