Em fevereiro, em entrevista à RTP, o presidente do partido, Rui Rio, tinha afirmado que não vetaria "à partida" o nome de Mário Centeno caso o ministro das Finanças fosse apontado para governador do Banco de Portugal (BdP), manifestando então maior preocupação em que a próxima administração do banco central "não fosse monolítica".

Questionada pela Lusa, fonte oficial do PSD defendeu que o partido mantém a mesma posição de princípio, mas acrescentou uma condicionante temporal: "Não veria nenhum obstáculo a que Mário Centeno exercesse este cargo um dia, tem condições, mas entende que deveria mediar algum tempo" entre a sua eventual saída do Ministério das Finanças e o cargo máximo no banco central.

A mesma fonte realça que, depois de na semana passada o primeiro-ministro ter renovado a confiança pessoal e política no ministro de Estado e das Finanças, só um "acontecimento extraordinário" justificaria a saída de Centeno do Governo.

Hoje, em entrevista à TSF, o primeiro-ministro recusou-se a antecipar o processo de nomeação do governador do Banco de Portugal, alegando que isso deslegitimaria Carlos Costa, mas assegurou que antes da escolha vai consultar os partidos e o Presidente da República.

Questionado sobre a oposição que já terá sido manifestada pelo PSD em relação a uma escolha de Mário Centeno para o cargo de governador do Banco de Portugal, António Costa respondeu: "Se o critério é saber pela comunicação social, então já soube duas coisas (?) Já li que o PSD entende dizer uma coisa e já li que o PSD dizia outra coisa. Já me habituei a não ouvir os outros através da comunicação social, mas, tendo essa possibilidade, a ouvi-los diretamente e no momento próprio", acrescentou.

Em fevereiro, quando foi questionado sobre o tema, Rui Rio remeteu para o executivo a escolha do sucessor de Carlos Costa: "Não tenho que aceitar nem deixar de aceitar, o Governo, se quiser, ouve a oposição. Mais importante é a equipa como um todo e penso que é assim que o Governo está a pensar (?) Acho que essa administração do Banco de Portugal não pode ser monolítica, deve ser como neste momento, mais abrangente", afirmou.

Perante a insistência no nome de Mário Centeno, o líder do PSD respondeu então: "Não veto à partida, pode haver melhores candidatos, deixe que o Governo na devida altura faça o que entender".

Na semana passada, e depois da polémica relacionada com a injeção do Estado de 850 milhões de euros no Fundo de Resolução destinados ao Novo Banco antes de conhecidos os resultados de uma auditoria independente, Rio defendeu que Mário Centeno não tinha condições para se manter no Governo, considerando que "não foi leal" ao primeiro-ministro e foi alvo de "censura pública" por parte do Presidente da República.

No início de maio, o PAN entregou no parlamento um projeto-lei - que ainda não está agendado para discussão e votação - que pretende impor um "período de nojo de cinco anos" na nomeação do governador do Banco de Portugal para quem tenha desempenhado funções no Governo, na banca ou em consultoras que tenham trabalhado com aquele regulador.

No sábado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou não ver nenhum problema numa transição direta do cargo de ministro das Finanças para governador do Banco de Portugal e recordou que isso já aconteceu duas vezes.

"Um no tempo da ditadura, o professor Pinto Barbosa, que foi um muito bom ministro das Finanças e depois foi muito bom governador do Banco de Portugal logo a seguir, outro no tempo do governo do professor Cavaco Silva, o professor Miguel Beleza foi um dedicado ministro das Finanças, devotado ministro das Finanças, saiu e depois foi nomeado governador do Banco de Portugal e foi também um dedicado e devotado governador do Banco de Portugal", referiu o Presidente da República, sem comentar especificamente a possibilidade de o atual ministro de Estado e das Finanças suceder a Carlos Costa.