"Não é um segredo a situação económica da Venezuela, vocês acompanham nas notícias. Estou aqui, muito respeitosamente, oferecendo para vocês uma peça de colecionador, já que para o meu sustento em Bogotá já não vale", afirmou um emigrante venezuelano de 27 anos, que interrompeu os seus estudos em engenharia para se mudar para a Colômbia.

Sem ter ainda mercadoria para vender nos autocarros do Transmilenio (sistema de faixa exclusiva para os veículos coletivos), tirou do bolso um maço de notas, de 10 a 50 bolívares, e distribuiu-as pelos passageiros da linha K16.

A constante desvalorização do bolívar fez com que as casas de câmbio de Bogotá deixassem de aceitar a moeda. Operadores de câmbio do centro da cidade afirmaram à Lusa que já não compensa monetariamente comprar ou vender bolívares, devido à instabilidade do preço. Emigrantes venezuelanos comentam que, atualmente, a troca por pesos colombianos se deve fazer na cidade de Cúcuta, que fica na Colômbia, mas próxima à fronteira com a Venezuela.

Ainda no Transmilenio, outros emigrantes venezuelanos optam por entregar notas de bolívares junto à mercadoria que vendem, como chocolates e doces. A moeda, que está em falta na Venezuela, em Bogotá tornou-se brinde.

Também venezuelano, Alexis, 37 anos, chegou a Bogotá há 8 meses, quando ainda conseguia trocar bolívares por pesos nas casas de câmbio. Contou que se pagava 0,45 pesos para cada bolívar. Sua esposa Norelkys, 26 anos, chegou quatro meses depois, quando a troca das moedas já se restringia à Cúcuta e a cotação não passava dos 0,16 pesos por bolívar.

Alexis e Norelkys, ambos comissários de bordo que agora trabalham a vender chocolate no Transmilenio, são contra a venda de bolívares no autocarro. "Já vi essa prática e isso pode ser considerado lavagem de dinheiro. E é complicado, agora que falta moeda lá na Venezuela, que as pessoas não podem nem tirar o que têm no banco", afirmou Alexis.

Norelkys acrescentou que os bancos em Caracas só permitem a retirada de 10 mil bolívares por pessoa ao dia, o equivalente a 1.600 pesos colombianos (0,45 centavos de euro). O chocolate que o casal vende no Transmilenio custa mil pesos colombianos a unidade. Na preparação da sua viagem para a Colômbia, ela e a cunhada iam ao banco todos os dias levantar o valor permitido. "Muitos querem vir, mas não conseguem ‘sacar’ o suficiente, mesmo tendo o dinheiro no banco", disse.

O presidente da Associação de Venezuelanos na Colômbia, Asovencol, Daniel Pagés, afirmou que é difícil para os compatriotas economizar o suficiente para viajar para o país vizinho, considerando que um salário mínimo na Venezuela não supera os quatro dólares. Por outro lado, o esforço é feito porque, mesmo ganhando pouco na Colômbia, os emigrantes conseguem enviar remessas para as famílias.

Dados oficiais do Governo colombiano registam a chegada de cerca de 400 mil venezuelanos no último ano e meio. Segundo a Asovencol, estima-se que 1,2 milhões de venezuelanos estejam na Colômbia, considerando o incremento da migração em 2017 devido à crise política e económica.

A Venezuela está a passar por uma crise humanitária marcada pela escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos e o aumento quase quotidiano dos preços face ao colapso do bolívar em relação ao dólar e com uma inflação superior a 1.500%, embora a oposição estime um valor de 2.000%.

As manifestações contra o regime do Presidente Nicolás Maduro, que criou a Assembleia Constituinte para exercer as funções de parlamento, antes dominado pela oposição, provocaram pelo menos 120 mortos desde agosto.

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