
Numa conferência de imprensa em Genebra, Suíça, o representante da organização para os Territórios Palestinianos Ocupados, Rik Peeperkorn, alertou que as crianças que conseguiram sobreviver até à data enfrentam possíveis problemas de saúde para toda a vida.
A OMS vincou que, se a terrível situação humanitária persistir, cerca de 71.000 crianças com menos de cinco anos poderão sofrer de desnutrição aguda nos próximos 12 meses, e que muitas delas estão "presas no ciclo vicioso causado pela falta de alimentos".
Peeperkorn denunciou que o embargo à ajuda por parte de Israel "só permite que a assistência chegue a 500 crianças com desnutrição aguda", o que é apenas uma "fração" das que enfrentam "necessidades urgentes".
"Já sabemos que os danos causados pela falta de alimentos têm consequências para toda a vida. Isto inclui problemas cognitivos e outros. Sem alimentos e água potável, toda uma geração será permanentemente afetada", disse Peeperkorn, antes de afirmar que a OMS dispõe de "recursos na Cisjordânia" que aguardam entrega no enclave.
O representante da OMS para os Territórios Palestinianos Ocupados sublinhou que esta é "uma das piores crises de fome do mundo" e que "está a acontecer em tempo real".
Os alertas de Peeperkorn surgem um dia após a divulgação de um relatório apoiado pela ONU que alerta para a insegurança alimentar e sugere que uma em cada cinco pessoas em Gaza poderá passar fome.
"Temos vindo a chamar constantemente a atenção para a necessidade de fazer chegar a ajuda à Faixa de Gaza. Os 31 camiões da OMS continuam parados em al-Arish, no Egito, a apenas algumas dezenas de quilómetros da passagem de Rafah", lamentou.
Peeperkorn afirmou que os centros médicos de Gaza "não são um alvo legítimo" na ofensiva israelita, depois de o exército ter atacado o hospital Nasser, a sul de Khan Yunis (sul do enclave), onde morreram duas pessoas, incluindo um jornalista, e 12 ficaram feridas.
"A saúde não é um alvo", afirmou o representante da OMS, que aproveitou a ocasião para reiterar o apelo à "proteção das instalações de saúde" e à implementação de medidas para "pôr fim ao bloqueio, libertar os reféns e conseguir um cessar-fogo que conduza a uma paz duradoura".
A ofensiva israelita foi desencadeada por um ataque do grupo radical palestiniano Hamas no sul de Israel em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns, segundo as autoridades israelitas.
A retaliação de Israel contra a Faixa de Gaza provocou mais de 52.900 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o enclave desde 2007.
A ofensiva israelita na Faixa de Gaza causou também a destruição de grande parte das infraestruturas do território de 2,4 milhões de habitantes.
Israel retomou a ofensiva em março, pondo termo a um cessar-fogo negociado em janeiro, durante o qual trocou vários reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.
Desde que retomou a ofensiva, impôs um bloqueio à entrada de ajuda humanitária na Faixa da Gaza, apesar dos apelos de organizações internacionais, como a ONU, para que não deixasse morrer a população à fome e de doenças.
JSD // SCA
Lusa/Fim
Comentários