Passou mais um ano e, este, atípico, já que nos vimos privados de alguma liberdade. Ainda assim, parece que quanto mais tempo passa, mais a necessidade de relembrar os valores de Abril se torna fulcral.

Tenho falado com algumas pessoas, mais novas do que eu, que o que sabem sobre a Revolução dos Cravos, e tudo o que se passou previamente, se resume a muito pouco. Parecem desconhecer, principalmente, quando se deu o ponto de viragem que nos permitiu viver como vivemos hoje, com coisas que já nos são tão normais que nem nos imaginamos a viver sem elas.

Muitos não terão noção de que, por exemplo, antes do 25 de Abril, as mulheres tinham o passaporte em conjunto com o marido e, por lei, tinham de ter autorização do próprio para poderem viajar para fora do país. Não podiam votar. Casais que se beijassem em público estavam sujeitos a pagar uma multa por tal acto ser considerado um atentado ao pudor. A mulher divorciada não era bem vista.

Os adolescentes, homens, tinham tropa obrigatória. Como o país entrou em guerra, aquando da libertação das “nossas” antigas colónias em África, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, a partir de 1961, os jovens adultos foram obrigados a ir para a guerra.

Tal como quem, actualmente, conduz precisa de carta de condução, quem fumava tinha de ter licença de isqueiro para poder acendê-lo na rua.

Imagine-se algo tão banal como um simples refrigerante americano que, então, não existia por não ser permitido.

Todas as peças de teatro, músicas, livros, filmes eram escrutinados e, consequentemente, censurados, se se achasse que representavam um perigo para o regime ou para os bons costumes. Tudo “a bem da nação”, é claro.

Livros como «Lolita», de Vladimir Nabokov; «Bichos», de Miguel Torga; ou «Capitães da Areia», de Jorge Amado, entre muitos outros, foram proibidos, tal como toda a obra de Bertold Brecht, um dos mais importantes autores de teatro do século XX.

Enfim, a lista é interminável e a única maneira de valorizarmos o que tantas vezes damos como garantido, nos dias de hoje, é revisitando o nosso passado não assim tão distante. Tudo isto aconteceu há pouco mais de 47 anos. Foi há muito pouco tempo e ainda nos falta discutir isto abertamente e fazer as pazes com tanta coisa, sobretudo quando a nossa Liberdade é ameaçada todos dias com o surgimento de partidos saudosistas e populistas que usam exactamente os mesmos chavões da altura, em prol da pátria, dizem.

Não caiamos, outra vez, em slogans que prometem soluções fáceis para situações difíceis, provenientes de pessoas que sempre fizeram, e fazem parte, do problema. Aprendamos com a nossa História. Leiam-na ou perguntem aos vossos pais e avós e eternizem-na de boca em boca. 25 de Abril, sempre.

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