São poucas as cidades no Algarve que tenham o carisma de Tavira. O centro é um postal que os turistas gostam de registar, os veraneantes habituais passeiam pelo jardim, passam a ponte romana, vão à gelataria e conversam, conversas de verão que constituem memória familiar de décadas e décadas.
Nos últimos tempos, ouvimos falar de Tavira por causa de uma contestação à nova ponte sobre o Rio Gilão. A Câmara Municipal de Tavira, com governo do partido socialista, parece não ter achado grande graça à petição que anda a circular, ao movimento de cidadãos, às reuniões de discussão pública.
A verdade é que é inadmissível que se vá construir uma nova ponte sem se discutir o projecto, sem perceber quais foram os estudos feitos para verificar questões de impacto ambiental e paisagístico, de estabilidade e de mobilidade. A localização da nova ponte compromete o jardim e poderá implicar o abate de árvores centenárias. A nova ponte permitirá ainda circulação automóvel na baixa da cidade para zonas sem parque de estacionamento. A nova ponte irá substituir uma ponte provisória, é certo, mas a sua construção deveria implicar a requalificação do Jardim do Coreto e respectivas frentes ribeirinhas.
Os governos autárquicos devem uma proximidade às comunidades que gerem. Conseguem ter uma proximidade que o governo central dificilmente terá. Tavira é uma cidade média, não é Lisboa ou Porto. Conferir espaço de discussão pública deveria ser constante.
Tavira não precisa de mais uma ponte e não precisa certamente de ser descaracterizada com uma ponte cujo desenho deixa muito a desejar considerando a envolvente. Criou-se um movimento cívico e com ele uma onda de apoio a esta contestação. O movimento chama-se “Tavira Sempre” e é muito activo. Diria que ainda bem, porque nos queixamos muito sem agir e quando agimos podemos aborrecer, mas estamos a participar na vida, estamos a exercer um direito.
É a grande coisa da democracia: temos uma voz. A autarquia parece ter recusado - até esta semana - entrar em diálogo com este movimento de cidadãos. Seria, porventura, melhor ouvir as pessoas e procurar uma solução? Pois. Mas parece que foi preciso polémica e uma petição a circular. Não importa, haja diálogo!
Os trabalhos estão em curso. É urgente tratar desta situação. Caso contrário, teremos uma nova ponte com 10 metros de largura e que irá permitir mais carros no centro histórico da cidade, tendência completamente distinta do que outras cidades estão a implementar. A Baixa de Tavira merecia melhor.
O Partido Socialista, este executivo camarário, quer que esta seja a obra para memória futura de uma intervenção na cidade? Sim, estava no programa eleitoral, mas, caramba, tanta promessa eleitoral que não se cumpre e esta, com problemas evidentes, é para seguir em frente? Espero que haja o bom senso de parar os trabalhos e rever a situação. Mais uma vez, Tavira merece.
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