Esta geração nascida já no século XXI, e com mulheres na linha da frente, está a começar a fazer. A realidade é a afirmação de uma geração que muitos adultos julgavam despolitizada e indiferente, mas que se revela informada e determinada, a responder com vigor ao desafio do clima. Mais: que é capaz de recorrer à força persuasiva da metáfora e do bom humor (“Se o clima fosse um banco, já estaria salvo”) para instalar na ordem do dia as mensagens de alerta para o estado do planeta.

Há muito que andamos a ouvir discursos de cientistas, políticos e ativistas que nos avisam que a crise do clima está a tornar-se um cataclismo. É um facto que até estamos a sentir perturbações, algumas devastadoras, no clima do nosso dia-a-dia. Um furacão a entrar pela costa portuguesa e a desencadear incêndios incontroláveis é algo de novo para nós todos. Tal como anos sucessivos de seca que esgota as reservas das barragens. Nós até começamos a sofrer as consequências da febre do planeta, até estamos avisados de que as alterações do clima serão as principais causas de conflitos, guerras e fluxos de refugiados no futuro próximo, mas preferimos continuar alheios ao alerta para cataclismo, que remetemos para uma mera ameaça num futuro longínquo.

Apareceu no último ano uma instigadora que parece capaz de fazer mudar tudo. É, como todos já constatámos, Greta Thurnberg, a sueca que costuma usar um barrete sobre as tranças do cabelo, não obstante ser pouco mais que uma miúda em idade (16 anos feitos em janeiro), quem tem olhos para ver o que a maior parte dos adultos se obstina a ignorar: estamos a comprometer o planeta e o futuro da humanidade.

Ela nada acrescenta ao que cientistas, políticos e ativistas estão fartos de avisar. Há uma diferença, está no mensageiro, que tem prevalência sobre a mensagem. Greta é exemplo poderoso de um fenómeno cada vez mais relevante na comunicação contemporânea: a força da mensagem depende do mensageiro. Acresce a capacidade de contágio global instantâneo na sinergia das redes.

A contundente intervenção da adolescente Greta Thurnberg em assembleias de adultos poderosos como o Parlamento Europeu, Forum de Davos ou a Conferência da ONU sobre o Clima, inflamou a chama mobilizadora de milhões de jovens por todo o mundo para a necessidade de ação pelo clima.

Greta tornou-se a líder de um movimento mundial. Tem o apoio dos pais, a cantora de ópera Malena Ernman e o ator Svante Thurnberg. Greta está a conseguir uma mobilização global pela proteção do planeta e contra a febre da terra que é um fenómeno tão surpreendente quanto estimulante de esperança. Greta conseguiu que o protesto dela se multiplicasse exponencialmente e convertesse em movimento global, transversal.

A manifestação global de estudantes em 15 de março tornou-se uma fanfarra pelo clima. Há notícia de desfiles em pelo menos 1700 cidades de 112 países.

A geração de Greta dá-nos a todos uma lição: é uma geração que aponta uma tarefa e um horizonte, é uma geração que tem um modo de intervenção política, é uma geração que se bate pelo futuro, o próximo e o mais remoto. É uma geração que em vez de se fechar num discurso conformista ou de impotência, opta por envolver-se de corpo e alma na transformação do estado das coisas. Assumem que a luta pelo clima passa pela mudança dos modelos económicos e sociais.

Alguém contestará que muitos estudantes aderiram à greve do clima apenas para se baldarem às aulas e alinharem numa festa. Talvez. Mas há muitos que estão mobilizados com convicção. Ainda melhor: encaram a luta com alegria.

A TER EM CONTA:

A matança terrorista em Christchurch, tal como outras anteriores, faz pensar no papel de dirigentes políticos e dos media na difusão de discursos de ódio. A intolerância está em escalada. Neste caso na Nova Zelândia, muita gente quis ver o vídeo da atrocidade. É interessante ter em conta este manual The Oxygen of Amplification sobre cuidados a observar em cobertura jornalística.

Os “gilets jaunes”no 18º fim de semana de protesto, voltaram a instalar guerrilha urbana na principal avenida de Paris. É legítimo perguntar: o Estado está a falhar na garantia da segurança pública?

A campanha de Nigel Farage contra a União Europeia: depois do Reino Unidos, conseguir também a saída da Itália.

Duas primeiras páginas escolhidas hoje: esta e esta.

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