Ao mesmo tempo egocêntrico e reservado, o Presidente crónico da Federação Russa gosta de aparecer, amiúde em poses heróicas, mas não quer que a sua vida privada seja conhecida e ainda menos exposta.
Não há muitos anos, com objectivos de propaganda para os seus admiradores mais simplórios, Putin mandava divulgar fotografias em tronco nu a cavalgar na natureza com animais selvagens, a praticar desportos testosterónicos, andar de moto, e outras poses tão improváveis (tratadas a Photoshop, certamente) como ridículas para as sensibilidades do mundo civilizado.
Depois, quando ficou mais velho e possivelmente mais carente ainda de Photoshop para manter a imagem de macho cossaco, passou a aparecer de fato e gravata, sóbrio e digno, ou então com equipamentos mirabolantes, como foi o caso da visita a uma enfermaria covid, em que envergava um exagerado escafandro amarelo “azmat” (à prova de ambientes perigosos) no meio dos médicos simplesmente equipados com máscaras.
Também é famoso — e repetido ad nauseam — um vídeo em que ele sai do seu gabinete napoleónico e percorre incontáveis salões e corredores, pontuados com sentinelas perfiladas a ladear as portas monumentais, até chegar a um pátio onde o espera a limousine com o obsequioso motorista fardado.
Resumindo, um exibicionista.
Em termos históricos, a postura é mais comparável a um Napoleão ou um Hitler, do que ao tirano que pretende emular, Estaline.
Já no plano íntimo, daqueles com quem tem laços sentimentais ou de parentesco, a situação é oposta — talvez para só ele brilhar, talvez por paranóia de segurança e secretismo, se calhar para não mostrar o mundo exclusivo em que vivem. O facto é que as pessoas de quem se aproximou intimamente sempre estiveram na sombra ou, melhor, são sombras; os seus nomes verdadeiros nem sempre se sabem, onde e como vivem é uma charada.
Muitas investigações têm sido feitas sobre estas pessoas e recentemente um extenso artigo do jornalista Jason Horowitz no The New York Times resume e coloca em contexto todas as tentativas feitas por vários colegas ao longo dos anos.
Em 2008, corria que se teria divorciado da sua esposa de 25 anos, Lyudmila Aleksandrovna Putina, também conhecida como Lyudmila Ocheretnaya; no entanto, ela só confirmou que se tinham divorciado em 2013. Hospedeira da Aeroflot, posteriormente ensinou alemão em Dresden, onde conheceu Vladimir. Casaram em 1983 e tiveram duas filhas, Maria, nascida em 1985 em Leninegrado, e Katerina, nascida em 1986 em Dresden. A última coisa que se sabe dela é que ensinava na Universidade de São Petesburgo (que já se chamou Leninegrado e Estalinegrado), mas nenhum jornalista ocidental tem conseguido encontrá-la. Provavelmente prefere uma vida discreta e viverá numa datcha luxuosa e bem guardada.
E foi em 2008, quando Putin visitava o seu grande amigo Berlusconi na fabulosa “Villa Certosa”, na Sardenha, que a jornalista Nataliya Melikova, da “Nezavisimaya Gazeta”, se atreveu a fazer-lhe uma pergunta sobre Alina Kabaeva, pois corriam boatos de que seria a sua amante. Putin negou peremptoriamente que se tivesse divorciado ou que tivesse alguma relação com Alina.
A pergunta da jornalista surgiu no seguimento de um artigo publicado no jornal “Moskovsky Korrespondent”, dirigido por um ex-agente de segurança soviético, onde se afirmava que Putin, então com 56 anos, planeava casar-se com Alina, de 24 anos, atleta com uma medalha de ouro olímpica e considerada uma das mulheres mais bonitas da Rússia. Dias depois, o “Moskovsky Korrespondent” fechou por “falta de rentabilidade”. Uma coincidência, certamente.
Portanto, Vladimir tem duas filhas legítimas. Fontes não especificadas atribuem-lhe mais quatro filhos de duas outras mulheres, mas tanto podem ser verdades escondidas como boatos para reforçar a sua imagem de macho – na Rússia, nunca se sabe, e é melhor não investigar, pois já foram abatidos 58 jornalistas entre 1992 e 2022.
Quanto a Alina Kabaeva, atualmente vive num condomínio de luxo em Lugano, na Suíça, eleito como destino por uma colónia russa milionária. Chegou a circular um abaixo-assinado de alguns residentes não russos para que ela fosse expulsa. Correm boatos até sobre o hospital onde teria tido dois filhos e as escolas que frequentam, mas a verdade é que nunca ninguém a viu, nem a ela, nem às crianças...
Uma situação semelhante ocorre em Monte Carlo, onde viveria outra amante de Putin, com um filho. Essa mulher é vizinha de Alina num edifício de luxo em Moscovo.
Agora, as filhas: Maria Vladimirovna Vorontsova vive com o marido e um filho em Amsterdão, também num prédio magnífico, sobre o canal Voorschoten. O marido é o holandês Jorrit Faassen, que tem negócios em Moscovo, e que negou aos jornalistas Jan Daalder e Harry Lensink, holandeses, que fosse casado com Maria. Os jornalistas descobriram que, depois de o entrevistarem, os seus telemóveis estavam a ser rastreados por um servidor em Moscovo. E também descobriram que o casamento aconteceu em 2008 in Wassenaar, na região mais rica e luxuosa dos Países Baixos, e que Jorrit trabalha para o Gazprombank. Testemunhas locais confirmaram que havia muitos russos no casamento.
Há outra história reveladora: numa altercação de trânsito em Moscovo, em 2010, os guarda-costas do banqueiro Matvey Urin deram uma sova a Jorrit. Posteriormente, Urin perdeu a concessão do seu banco e ele e os guarda-costas acabaram na cadeia.
Enquanto Maria é discreta e estudou ciências, a outra filha, Katerina Tikhonova Putina, é extrovertida e tem uma vida muito mais pública. Para já, a sua actividade: é patinadora artística, especializada em dançar rock’n’roll! Em 2013, no ano em que ficou em quinto lugar num concurso internacional, casou com o seu parceiro artístico, Kirill Shamalov, filho de um velho amigo de Putin.
Segundo a BBC, o casamento aconteceu num resort de neve perto de São Petesburgo, e o casal actualmente uma casa em Biarritz.
Há muita informação na internet sobre as irmãs, e a situação ficou pior para elas desde que o pai decidiu atacar a Ucrânia. Não só estão na lista dos russos sancionados por vários países, como ninguém as quer ter como vizinhos.
E os netos de Putin? Não se sabe quantos são, evidentemente. Numa ocasião, quando o interpelaram sobre o assunto, disse laconicamente que ainda era bebé, mas que a sua vida particular e a da sua família não devem ser devassadas.
Até à invasão da Ucrânia, esta gente toda tinha uma rica vida; casas fantásticas, navegação de luxo nos mais chiques sítios da Europa – e do mundo, certamente – a protecção dos serviços de segurança russos e a discrição que quisessem. Alguma reverência, eventualmente movida pelo medo. Tudo mudou, agora que se tornaram tóxicos. A maldade putinista, conhecida pelo seu persistente envenenamento de dissidentes, ter-se-á virado contra a família.
Coitadinhos dos ricos e poderosos ...
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