Era uma desobediente com uma voz singular assente na liberdade, numa ideia de liberdade e de democracia, de paridade entre os géneros. A Teresinha tornou-se, acredito eu, feminista muito cedo, aos nove anos, quando decide ficar do lado da mãe, Carlota de Mascarenhas, que tinha abandonado o marido e as filhas. Disse-me muitas vezes que compreendeu então que a liberdade das mulheres era nenhuma comparada com a dos homens.

A mãe de Teresa tornou-se uma mulher proscrita na família, na sociedade, e a filha tomou-lhe as dores e perguntou-se: por que é que as mulheres não podem? E esta pergunta pautou a sua vida. É numa infância e adolescência atribulada que a Teresinha se torna a Maria Teresa Horta. 

Não é apenas a personagem pouco consensual por conta da sua ousadia, da voz que nunca calou. Não é apenas a co autora das Novas Cartas Portuguesas, livro que é um marco na luta feminista portuguesa. Não é apenas a jornalista pioneira que foi chefe de redação da revista Mulheres. Não é apenas a poetisa do erotismo. Não é apenas a ficcionista maravilhosa que nos deu a história da Marquesa de Alorna, Leonor de Almeida, sua pentavô. 

Maria Teresa Horta é um pouco (enorme) da História, um pedaço de Portugal. E Portugal nem sempre a quis ouvir, nem sempre a reconheceu.

Mas a Teresa é para sempre. 

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*Patrícia Reis é biógrafa de Maria Teresa Horta