Lisboa, não sendo Nova Iorque ou Xangai, é uma cidade vertiginosa e cruel, que nos ilude com a ideia que a controlamos. Não é verdade. A cidade toma conta de nós e movimentamo-nos mais depressa, ao som dos ruídos constantes, engolindo nuvens de poluição, exasperando no trânsito, nas burocracias inerentes à secretaria da existência.

Por estas razões e tantas outras, as férias tornam-se sonhos, postais de praias tropicais fazem-nos suspirar, a possibilidade de não ter de fazer um mapa de excel para todos os dias da semana é bem vinda, estamos prontos para fazer as malas e partir, partir para um descanso que não sabemos como atingir.

Vim eu de férias, para uma praia tropical, avisei que não escreveria uma linha, não ligaria o computador mais do que uma vez por dia e, eis-me no ridículo de andar à cata de wi-fi como quem mendiga por pão, como se fosse vital. Eis-me a ver emails, a responder a emails, a ver textos, a escrever crónicas. E uma amiga pergunta-me: mas nem aí consegues parar? Não consigo.

Bebo um cocktail, acordo mais tarde, faço listas de prendas de natal que ainda não comprei, vou lendo notícias e, de repente, vá de incorporar tudo isto porque não me é possível desligar. Vejo as pessoas, todas as pessoas que, em teoria, estarão de férias como eu estou e que se mantêm com os seus telemóveis, tablets e afins, instrumentos de ligação ao mundo. Eu carrego com orgulho os meus livros e o telemóvel e aceito que é isto, o meu descanso na sua melhor forma, é isto: aceito, portanto, custa menos.

Depois ocorrem-me os amigos que morreram novos com ataque cardíaco, aqueles para quem a palavra cancro é familiar, e desespero um pouco mais. Deveria cuidar de mim, deveria ser mais atenta, comer só de forma saudável, sei lá, beber sumos detox e preocupar-me com a fermentação do pão, aprender a meditar, a fazer yoga, a mandar o mundo às urtigas. O tempo urge, o tempo corre e a idade já não é a leveza de outras décadas. Talvez fosse de reconsiderar tudo.

Como estou longe, reconsidero com inúmeras boas intenções, durante um dia. Depois passa-me. Peço um novo cocktail, mando a crónica, respiro fundo, sei que planos para uma vida assim ou assado são planos teóricos, a vida encarrega-se de nos mostrar o que é ou não é nosso. Há um nível de stress que tenho desde pequena e que se irá manter, imaculado, e irei sempre ser alvo da fatídica pergunta: mas não sabes acalmar?

É apenas bizarro que às pessoas calmas ninguém pergunte se se conseguem stressar, não é?