Uma das vantagens da minha profissão, de jornalista, é conhecer pessoas diferentes e ter a possibilidade de aprender. Em conversa com três pneumologistas, sábado passado, fui confrontada com informações que desconhecia completamente. O último estudo – intitulado Estudo Epi-Asthma – sobre a população adulta em Portugal, revela que existem cerca de 570 mil asmáticos. Quantos são os jovens? Podemos extrapolar para uma grandeza na ordem dos 200 mil.

Muitos deles não têm a asma controlada – sete em cada dez doentes adultos –, existem muitos doentes não diagnosticados (desculpem referir de novo o estudo, mas os resultados são inacreditáveis: cerca de um em cada quatro doentes adultos com asma não tem um diagnóstico prévio), ou seja, há inúmeros registos que não constam da base de dados dos cuidados primários. Conclusão? Eis uma doença crónica sobre a qual se fala pouco, a envolver indicadores que sobem de estudo para estudo e uma clara inércia ao nível das políticas públicas, face às questões da saúde respiratória.

Conversas paralelas revelaram-me outros dados interessantes: é uma doença crónica que sofre de um estigma – ninguém gosta de se dizer asmático. Pior ainda, existem mitos difíceis de desfazer, nomeadamente a convicção de que um asmático deve evitar o exercício físico. Nada de mais errado, o organismo agradece a oxigenação. A nossa hiper premiada atleta Rosa Mota é asmática. O futebolista David Bekham também. Correm, saltam e pulam. Muitas famílias ainda chegam aos consultórios médicos a pedir atestados, para escusa de participação na área da Ginástica e da Educação Física. Outro mito respeita à utilização do inalador com componente de corticóide associada: fará engordar? Na verdade, a dose é tão baixa, tão baixa, que não há esse risco; aliás, como combate à inflamação, é o ideal e o mais recomendado.

A pior notícia, porém, será ter conhecimento de que muitos doentes usam a terapêutica em SOS e a abandonam, mal a crise atenua. Ou saber que muitos não usam os inaladores de forma correcta. A iliteracia médica é transversal à comunidade alargada e à científica, porque muitos médicos de Medicina Geral e Familiar desconhecem as melhores práticas e as melhores terapêuticas a prescrever aos seus doentes.

A asma é um flagelo, os números crescem e a comunicação é urgente.