
Pedem-me opinião sobre alguma coisa e percebo imediatamente que não é uma posição honesta que pretendem, apenas uma validação. Importa concordar, elogiar, festejar a putativa ideia brilhante de alguém, a sua convicção, a tomada de posição.
Ninguém quer ouvir: Pois, acho que podes ver isto por outro ângulo. As pessoas ficam ofendidas por concordarmos que discordamos e o mundo tornou-se cansativo e hipócrita.
O tempo que temos é cada vez menor, é mais contado e rápido. Não ajuda na construção de conversas longas e atentas. Estamos sempre a controlar o relógio, as notificações, somos o coelho branco da Alice no País das Maravilhas, a correr, a correr contra o tempo. Esta velocidade, e a pouca predisposição para ouvir o que a malta tem a dizer, vai potenciando várias hipocrisias. E existem temas sobre os quais ninguém quer conversar, simplesmente por serem complexos e não há tempo para tanto. Assim, vivemos na mediocridade de pensamento e partilha, vivemos na hipocrisia.
E isto tudo porquê? Muito simples. Tentei ter uma conversa sobre a situação das mulheres na aldeia global que é o mundo e a resposta do outro lado foi: Ah, não sei se será bem assim, sabes que muita informação é construída e as mulheres estão muito melhores.
Melhores em comparação com…? Não quis adiantar, esta alma dita moderna, dita intelectual. Eu dantes ficava a espumar e apetecia-me convocar uma conferência de imprensa para repor ideias e promover debates, mas desta feita dei comigo a virar as costas e a pensar: Não vales o tempo que estou a gastar contigo.
De certa forma, embarquei nesse barco que vai navegando sem pensamento crítico, sem oposição. O que eu deveria ter dito (ou mesmo gritado, fosse eu uma pessoa desse calibre vocal) era: todos os anos existem 82 milhões de mulheres vítimas de violência sexual. Em Portugal, fizeram-se 30 mil queixas no passado. Foram registadas 543 violações, mais 49 do que no ano anterior. Os níveis de violência não param de aumentar. Desde o início do ano, mais de cinco mulheres morreram às mãos de homens em Portugal. Isto são factos, não são opiniões e se escolhemos não pensar sobre eles, somos o quê? Deixo ao vosso critério.
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