Achei o exercício interessante e, agora que todos os partidos com representação parlamentar já apresentaram os seus programas, tive o ímpeto de o reproduzir, recorrendo às propostas das nove forças políticas e pesquisando palavras chave que verdadeiramente representem temáticas relevantes para os portugueses. Infelizmente, os resultados não são nada animadores.
A começar por aquilo que é mais importante para o país: a comida. Segundo o que a minha pesquisa conseguiu apurar, nenhum dos programas políticos inclui o termo "bacalhau". “Cabidela” também está ausente, bem como “açorda” ou “pastel de massa tenra”. “Cerveja” não tem qualquer menção, o que não é tão grave como nenhum partido referir a palavra “vinho”. Em 165 páginas, o PSD consegue a proeza de não trazer uma única vez o termo “pão” à baila, quando o seu hino gira precisamente em torno de carcaças.
Acima de tudo, os programas são vagos. “Rodovia” é um conceito repetido, mas a expressão “conduzir na faixa do meio”, um flagelo irresolúvel, não recolhe resultados. Alguns partidos mencionam “pobreza energética”, mas nenhum tem a coragem de escrever a palavra “ceroulas” (que Portugal devia procurar universalizar no combate à sensação de frio). Todos os partidos falam de “jovens”, mas nenhum se arrisca a falar do que é o ou não é “cringe”. A “natalidade” é uma questão relevante para quase todos, mas é inadmissível que nenhum destes projectos ideológicos recorra à utilização do verbo “pinar”, acto insubstituível para a consecução do supracitado objetivo.
Há palavras que surgem vezes sem conta, como “nacional”, “serviço”, “reforçar”, “Portugal”, “emprego”, “empresas”. Curiosamente, podemos encontrar “desenvolvimento” em todos os programas, menos no do Chega. Para meu desapontamento, “Sport Lisboa e Benfica” não está em lado nenhum; nem “Rúben Amorim”, o que é injusto na medida em que este se afirmou como o maior reformista português desde o Marquês de Pombal.
Há também algumas surpresas, ou talvez não. O programa do PS não menciona uma única vez “socialismo” e o programa do PCP só refere “comunismo” na palavra “anticomunismo”. Já o Chega, não recorre a “vergonha” nem a nenhuma conjugação do verbo “arrasar”. O PAN, para desilusão de muitos dos seus eleitores, refere-se zero vezes aos “nossos patudos”. Agora, há uma palavra que está ausente de todos os PDFs apresentados pelas forças candidatas à Assembleia da República. A palavra que nunca surge nesses documentos, meus amigos, é “amor”. E ainda bem. São programas políticos, não são livros do Raúl Minh’alma.
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