Pois bem, deixo aqui cinco sugestões, todas a rondar os géneros habituais da época, mas a fugir deles num delicioso jogo que nos deixa agarrados às páginas. E não é um prazer estar com o corpo encostado a uma toalha quente, o mar a deliciar-nos os ouvidos e, pela imaginação, estar a fugir do KGB numa estrada do Norte da Rússia, a tentar chegar à Finlândia na mala dum carro?

Comecemos, pois, com a lista:

1) Em As Suspeitas do Sr. Whitcher, Kate Summerscale reconta um caso policial da Inglaterra oitocentista — uma criança de três anos é assassinada e há um detective atrás dos culpados. O detective chama-se Whitcher e veio a ser uma das fundações da figura do detective. No caso real descrito no livro, as coisas não correm como o detective gostaria — já no relato que o leitor tem entre mãos, as coisas correm muito bem... A história chega à Austrália, já em meados do século XX.

2) Uma guinada em direcção a um livro muito diferente: em Os Mares do Sul, de Manuel Vázquez Montálban, temos um romance amargo numa Barcelona suja — em suma, um livro apetitoso, mesmo para uma tarde de praia (o mundo não se faz de leituras arrumadas). Aviso: o livro provoca vontades tremendas de provar os pratos que nos vão passando pela imaginação.

3) Um outro livro a rondar o policial e que é amargo e muito bom: a Balada da Praia dos Cães, do nosso José Cardoso Pires, um livro em que, pouco a pouco, aprendemos a não gostar do detective que nos calhou em sorte e a deixar-nos cair, devagarinho, para o lugar do criminoso.

4) Cada um tem as suas tendências — pois eu nunca tendi muito para histórias de espiões. No entanto, há vezes em que, ao contrariar as tendências, encontramos grandes surpresas. Foi o que me aconteceu quando me atrevi a ler um livro de espiões. Assim, proponho este relato verídico sobre um dos maiores espiões do século XX: em O Espião e o Traidor, Ben Macintyre conta a história de Oleg Gordievsky, um alto quadro do KGB que trabalhava para o MI6 britânico…

5) O outro grande livro de espiões que tinha lido fora O Inocente, de Ian McEwan — um autor que ninguém associa a livros de espiões, é bem verdade. Serão também poucos os que o associam à ficção científica — e, no entanto, aí temos um livro que brinca com esse tipo de ficção: Máquinas como Eu. Como seria o mundo ali em meados dos anos 80 se o Reino Unido tivesse perdido a Guerra das Malvinas e fosse possível comprar humanos artificiais? (O livro é muito melhor — mas mesmo muito — do que esta esta pergunta faz crer.)

E pronto, foram cinco sugestões para leituras de praia, porque tenho para mim que na praia podemos ler o que quisermos — até mesmo livros muito bons!


Marco Neves | Escreve sobre línguas e outras viagens no blogue Certas Palavras. É autor de vários ensaios sobre a língua e ainda do romance de aventuras A Baleia que Engoliu Um Espanhol.