O ano é 2022, o futebol tem uns 150 anos e a homossexualidade conta já com alguns milénios. Ainda assim, um jogador deste desporto assumir uma orientação sexual que não a hetero é algo estranhamente raro. Jake Daniels, jogador de 17 anos do Blackpool que até tem um nome que remete para um uísque que habitualmente associamos à masculinidade frágil, teve a coragem de se assumir publicamente como homossexual, numa modalidade que finge que o que ele é não existe. O futebol gaba-se de ser um fenómeno social, mas deixará de o ser se continuar a excluir uma parte da sociedade. E, sejamos sérios, acreditar que não há jogadores de futebol homossexuais faz tanto sentido como assumir que não há heterossexuais que gostem de musicais. 

Não é só uma questão de inclusão, um futebol reservado a heteros não tem futuro competitivo. Se no futebol só podem jogar heterossexuais, estaremos a desperdiçar imenso talento. É que não há nenhuma razão fisiológica que nos leve a acreditar que para se ser um grande atleta seja necessária uma atracção pelo sexo oposto. Aliás, note-se que, quando um homem marca um grande golo, está sobretudo a impressionar outros homens. Também não me parece que este tabu com a homossexualidade no futebol seja uma questão de puritanismo. Afinal de contas, estamos a falar do desporto que convive bem com jogadores alvo de acusações de violação. Curiosamente, Cristiano Ronaldo foi menos posto em causa pelos seus admiradores quando surgiram tais alegações do que quando surgiu um rumor de que seria gay.

Entretanto, por cá discute-se de forma acesa se uma namorada de um jogador estará ou não envolvida com outro jogador. É verdade, o adepto de futebol gosta demasiado de mexericos para quem usualmente considera que ler uma revista cor-de-rosa é um atentado à masculinidade. Honestamente, não é este tipo de rumor que me leva a comprar jornais desportivos no fim dos campeonatos - julgo que preferia o do Cavani. De repente, fica claro que ser namorada de um futebolista é a pior coisa que pode acontecer a uma jovem. Ao que parece, não é só a posse de bola que interessa ao mundo do futebol - a posse da mulher continua a ser um tema. A verdade é que falamos de um país que não consegue amar mais do que um desporto, com o qual até tem uma relação bastante tóxica. Ou seja, não é propriamente surpreendente esta obsessão pela monogamia.