A privatização da TAP nunca foi uma questão ideológica: passou sucessivos governos, do PS e do PSD, e ainda mais ministros. Começou, aliás, pela mão de Jorge Coelho, mas a falência da Swissair acabou com um negocio antes de o ser. De então para cá, a situação financeira da TAP degradou-se de tal forma que chegou a Novembro deste ano em rutura de tesouraria. Em risco de não pagar salários se não fosse fechada a privatização assinada em Junho, a venda a Humberto Pedrosa e David Neeleman, e se não entrasse dinheiro fresco na empresa. Entraram 180 milhões de euros de um total de 320 milhões previstos até ao final de 2016. E pela primeira vez em anos, a TAP tem um dono ativo, faz investimentos e tem estratégia.

A privatização da TAP deveria ter sido feita mais cedo, sim, os últimos contratos com a banca foram assinados no dia seguinte a o governo de coligação PAF ficar em gestão e com um novo governo pré-anunciado. E isso é terreno fértil para a demagogia e para o populismo. António Costa queria manter a maioria do capital da empresa em mãos do Estado, mas isso era uma proposta inverosímil, simplesmente porque nenhum investidor estaria disposto a pagar para o Estado mandar. E era preciso pagar muito. Agora, depois do negocio feito, essa promessa é ainda mais deslocada, mas o primeiro-ministro assumiu a estratégia do ‘a bem ou a mal’. Só pode correr mal, claro, como se não bastassem os problemas que o país tem, nomeadamente os dos bancos.

Afinal, que perguntas faz Costa para justificar a possibilidade de reversão do negócio? Há mitos criados pelos sindicatos da companhia, que alimentam a associação liderada por António-Pedro Vasconcellos, que não correspondem à verdade, como a exigência de visto prévio do Tribunal de Contas, por exemplo. Mas, em entrevista ao JN, fez três perguntas: Como, quanto e quem investiu na TAP? Costa sabe, mas podemos aqui esclarecer os nossos leitores.

Como, quanto e quem? A reputação de David Neelman no setor da aviação permitiu que a TAP deixasse cair a encomenda de aviões A350 por 53 aviões A321 e A330, mais adequados à nova estratégia da companhia e, com isso, a Airbus libertou um crédito antecipado de 150 milhões de dólares que já entrou na empresa. Será isto que o primeiro-ministro quer pôr em causa? A que propósito?

Foi esta credibilidade que permitiu fazer o que o Estado – como acionista – e a gestão de Fernando Pinto não conseguiram, até porque a Airbus já temia, pelo contrário, o incumprimento dos compromissos financeiros assumidos anteriormente.

Há, depois, a palavra dos reguladores, a última, particularmente da ANAC, que tem de apurar se a privatização respeita a lei e se isso permite a concessão da licença aérea à TAP (e à Portugália, que faz parte do grupo TAP). Também aqui, há mitos – leia-se mentiras – no ar. A ANAC nunca chumbou o acordo, deu um parecer prévio positivo e pediu alterações aos estatutos da empresa de acordo com a nova estrutura acionista. E mais de 50% do capital tem de estar nas mãos de acionistas europeus, coisa que explica, claro, o aparecimento de Humberto Pedrosa no consórcio. Mas então, o problema é que o consórcio respeita a lei?

A posição de força de António Costa só pode ser explicada por despeito, por não aceitar que os novos donos, legítimos, tenham dito aos emissários do Governo que não estavam disponíveis para negociar, apenas para cumprir o que estava assinado com o Estado português. A posição de força deveria resultar do incumprimento dos compromissos do acionista privado, do fecho de rotas, da diminuição de voos, da mudança do hub de Lisboa. Ora, se Pedrosa e Neeleman estão a fazer o que assinaram, Costa deveria agradecer.

ESCOLHAS

A história do Banif ainda não está toda contada, e Jorge Tomé, o antigo presidente executivo do banco, fez acusações duras a Carlos Costa, o governador. Já sabemos que o contribuinte vai pagar muito, até 3,6 mil milhões de euros, para salvar um banco que não valia 3% do mercado, um valor astronómico. E vamos ver o que sucede ao Novo Banco, outro caso que se arrasta e que, como se sabe, precisa de mais de 1,4 mil milhões de euros de capital. O pesadelo financeiro ainda não acabou. Até quando?

Enquanto a banca tenta resolver os seus problemas, o mundo dos conteúdos anda em sentido contrário. Depois do acordo da NOS com o Benfica, a PT Portugal/Altice chega a acordo com o Porto por 457 milhões de euros, incluindo os direito televisivos, a distribuição do Porto Canal e a publicidade na camisola. O que acontece, agora, aos clubes mais pequenos? Leia o artigo do Público aqui no SAPO24.

Boas entradas em 2016, volto para a semana com as previsões para o próximo ano.

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