Eles (adoro usar este “eles” como usa o pessoal das teorias da conspiração) sabem tudo sobre os nossos próximos destinos de viagens, preferências gastronómicas, tendências políticas e gostos javardos — sim, eles sabem a que dias é que vocês pesquisam mais “threesome”, “anal” ou “big dick”, seus javardos e javardas.

Já ninguém estranha que, logo a seguir a pesquisar hotéis em Setúbal, lhe comecem a surgir anúncios de restaurantes de choco frito por todo o lado. Ou pesquisando por AirBnB em Santarém, apareça anúncios da Casa da Mãe Kikas, por exemplo. Já estamos infelizmente habituados a que os algoritmos controlem tudo o que vemos na net, consoante os dados que lhes vamos dando constantemente.

Mas tem-me acontecido algo ainda mais bizarro: aparecem-me anúncios de coisas que eu DISSE — dizer mesmo, com a voz — a falar com amigos cara-a-cara. É que nem sequer foi ao telefone, o que já era grave o suficiente. Não. O meu telemóvel estava no bolso, bloqueado, a relaxar do esfreganço que lhe dou frequentemente enquanto lambo o Instragram a ver pessoas mais ou menos atraentes e penso “fazia” ou “não fazia”, a ver incríveis fotografias de viagens, a ver bonitas citações da Comunidade Cultura e Arte, a ver cómicas montagens do Insónias em Carvão e, em para aí 75% dos casos, a pensar “porque é que sigo esta pessoa, mesmo?”. E eu estava a falar cara-a-cara com um amigo sobre ir ao Japão, e não relacionei logo essa conversa com o facto de, quando voltei mais tarde a ir ao Instagram estar a levar com constantes anúncios de sushi. Mas até achei normal, tendo em conta que os influencers não sabem o que é pagar por sushi e fazerem um milhão de stories – quase tantas como a Isabelinha Silva faz por hora — a cada encomenda que recebem.

Só que estas relações entre conversa cara-a-cara-com-telemóvel-no-bolso e anúncios nas redes sociais têm aparecido cada vez mais. E tenho quase a certeza que não estou maluco e que estamos realmente a ser espiados para propósitos – no mínimo – comerciais. Digam-me se vos tem acontecido o mesmo ou se sou eu que estou maluco, se fazem favor.
É que se isto for tudo da minha cabeça, está tudo bem. A solução é ir beber cerveja com os amigos (a minha interpretação prática do Hakuna Matata). Se não for, o mundo está um lugar muito mais estranho do que eu pensava.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Medium Raw: livro do meu ídolo Anthony Bourdain. Incrível, para variar.

- Bad Blood: série sobre acontecimentos verídicos da máfia no Canadá. Vou no quinto episódio e recomendo, para quem gosta do tema. Netflix.

- Lugar Estranho: entretanto os bilhetes para o meu solo de stand-up para Lisboa e Porto continuam aí a saltar. Anuncio em breve as datas da tour pelo país.

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