“Certain Romance” é a última faixa do álbum de estreia dos Arctic Monkeys. A letra, discutivelmente, descreve o estilo de vida conflituoso e desordeiro dos jovens “chavs” britânicos, que em Portugal seriam chamados de “gunas” ou “mitras”. O retrato do grupo social que usa “Reeboks clássicos” é acompanhado, no fim das estrofes, pela epífora “there ain’t no romance around there” (“Não há qualquer romance para ali”)”. E é precisamente essa a sensação que temos ao ver a premiada série Succession, uma trama onde o mais provável é nenhuma personagem amar outra. Só não estamos a falar de jovens da classe operária de Sheffield, mas de bilionários de Nova Iorque, porém o nível de detalhe de Jesse Armstrong, o criador da série, não fica nada a dever ao de Alex Turner.

Não, não há qualquer romance em Succession. Na série que acompanha as lutas pelo poder no seio da família Roy, proprietária de um mastodôntico conglomerado de média, a única pessoa apaixonada é mesmo o espectador. Pelas arrebatadoras prestações dos actores, pela realização cínica ou pelos hilariantes, ágeis e precisos diálogos. Estaremos também apaixonados pelas também personagens? Talvez. É complicado. Os três principais irmãos Roy saem ao pai, pelo que, cada um à sua forma, são todos uns filhos da mãe (sendo que a mãe deles é também ela uma, lá está, filha da mãe). Portanto, é uma série de más pessoas. Mas nós não nos afeiçoamos também a más pessoas, especialmente quando as más pessoas em causa passam a vida a dizer excelentes piadas? Pois.

Succession é uma comédia ou um drama? É assim, sem amor fica difícil haver drama (e com as revelações deste season finale, fica mesmo provado que ninguém ama ninguém naquela família). Ao assistir aos episódios, eu nunca torço propriamente pelo sucesso de nenhuma das personagens, espero antes ser surpreendido pela forma como se vão espetar contra a parede. Que género vive muito de pessoas que se espetam contra paredes? Aí está. Parece-me que vamos ter de entregar os pontos à comédia.

Esta série sobre partilhas e legados ainda só tem três temporadas e já merece um lugar na lista das melhores de sempre para muita gente. Em termos de qualidade da escrita (há episódios que mereciam ser lidos para além de vistos), vai ser difícil encontrar-lhe herdeiros-legitimários. Os fãs da série provavelmente sentirão hoje uma ligeira culpa: isto de ter já ter saudades de um clã de bilionários detestáveis não tem jeito nenhum e é pouco saudável. Talvez esteja na altura de falarem de Succession à vossa terapeuta.

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