Confesso-me ainda extenuado pelo texto meio emocionado, meio enfurecido, que publiquei há uma semana. Não só não retiro qualquer palavra àquilo que sentia na altura, como assumo que o sentimento prevalece. Contudo, para não repisar as mesmas coisas (e porque ontem o debate da Moção de Censura só amplificou o que eu já pensava há 8 dias), hoje concedo-me uma folga. Em vez de me arrastar sobre o tema difícil, vou pairar rapidamente sobre um par de temas fáceis da semana passada.

Antes ainda espreito uma controvérsia mais recente, também ela fácil, que não queria deixar escapar. “Fácil”, não por ser fácil de engolir, mas antes porque gera concórdia. A generalidade das pessoas parece convergir na mesma opinião: o acórdão polémico do juiz Neto de Moura é uma tremenda idiotice. Afirmei que esta opinião é convergente, sobretudo pelo que li quer na imprensa, quer em reacções nas redes sociais. Claro que existem sempre vozes palermas que apoiam palermices, mas neste caso só posso ignorá-las. É que não me cabe na cabeça que, simultaneamente, uma pessoa tenha a estupidez básica para patrocinar a violência doméstica e a inteligência mínima para aceder à internet; não me cabe na cabeça que tal cretino me possa estar a ler neste momento. Assim sendo, aqueles a quem me dirijo são os que, tal como eu, consideram abjecto este juiz. A esses digo: meus caros, temos toda a razão...mas tenham cuidado para onde levam essa razão.

Nas mesmas redes sociais onde observei tanta insurreição adequada contra Neto de Moura, comecei entretanto a avistar patetices escusadas. Apareceram as fotos de perfis onde se lê “Eu sou adúltera”, como se a melhor forma de contrapor a imbecil amnistia da violência fosse fazer a apologia do adultério. É ridículo! O contraponto desta amnistia da violência tem de ser, primeiro que tudo, a condenação da violência. Se nos focamos na defesa daquilo que motivou a agressão, mais do que nos focamos na própria agressão, estamos a ir pelo mesmo caminho que o desajuizado juiz.

Eu sei que o moralismo do Neto de Moura é perfeitamente desadequado, mas o problema não reside só nos motivos que ele enumera para relativizar a agressão; o problema está primeiro numa agressão relativizada. Se o juiz tivesse usado argumentos menos moralistas e menos preconceituosos para desculpar o agressor, não deixaria de ser aviltante. Eu percebo que se clame pelas liberdades individuais, mas usar o adultério como bandeira orgulhosa contra a violência doméstica é uma tontice. Se a mulher tivesse levado um tabefe pelas suas tendências coprofágicas, também despontavam os perfis facebookianos a dizer “Eu como cocó”? Bem... se calhar, sim.

Os outros dois temas onde me debruço rapidamente são também fáceis, mesmo que muito indigestos. Não conheço pessoalmente ninguém que esteja do lado do Harvey Weinstein, e os defensores acérrimos de José Sócrates estão cada vez mais tímidos, embaraçados, discretamente arrependidos ou estrategicamente desaparecidos. É aqui que reforço a facilidade dos temas: sobre Weinstein não conheço uma única perspectiva que não seja a da repulsa e total condenação, e sinto menos urgência na explicação da pulhice quando ninguém parece ter dúvidas; sobre Sócrates, a chegada da acusação não mudou em nada a opinião que eu já tinha manifestado numa altura em que tardava a acusação, e a entrevista do engenhei...do ex-primeiro ministro à RTP só reforçou o que escrevi há uns meses.

A razão de eu estar a associar Weinstein e Sócrates nos mesmos parágrafos tem uma razão, que advém também da minha observação de comentaristas profissionais ou opinadores de facebook. Há um punhado não pequeno de pessoas, algumas delas ilustres (saberia identificá-las, não fosse este terrível hábito da discrição) que em tempos bradaram aos céus defendendo a presunção de inocência do português, mas que agora, com todas as certezas do mundo, chamam violador ao americano.

Embora os casos de assédio sexual por parte de Weinstein sejam evidentes, recordo que não há ainda qualquer deliberação legal sobre as acusações de violação. Claro que a culpabilidade de Harvey é a inferência mais fácil - seja pelas escutas que vieram a público, seja pelas vítimas que quebram os avultados acordos de silêncio feitos em tribunal. Tudo certo.  Mas, por que raio haveremos de ter outro peso e outra medida para aquilo que escutas, ou quebras de segredo de justiça, nos revelam aqui no nosso quintal? Não tem de ser assim, até porque na disputa das culpabilidades óbvias a equipa portuguesa não nos deixa assim tão mal representados.

Por falar em diferentes pesos e medidas, venho fazer mea culpa pela descabida irritação que recentemente me têm dado alguns jornalistas de noticiários televisivos. Eles insistem em pronunciar o apelido de Harvey Weinstein como “Uáine-stáine”, mesmo em peças onde se ouvem americanos a dizer um claro “Uáine-stíne”. O mea culpa é por, após investigar, me ter apercebido que a pronúncia estado-unidense evoluiu de forma errada neste tipo de nomes. É, portanto, perfeitamente desculpável que os nossos jornalistas digam o nome do infame produtor americano da mesma fora que dizem a do famoso físico alemão: Weinstein = Einstein. Exactamente aqui me arrependo e identifico dois pesos e duas medidas, porque em Wein+stein faria pouco sentido lermos a primeira metade do nome como “Uáine” e a segunda metade como “stíne”, uma vez que a terminação em “ein” é igual. Estou a ser confuso? Talvez, mas só queria repor um peso e uma medida:  Weinstein -  90 e tal quilos, e 1 metro e oitenta de patife.

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